Alguns setores da esquerda, após passarem mais de um ano evitando a qualquer custo levantar a palavra de ordem de fora Bolsonaro, para se livrar desse erro, acusam o PCO de ter chamado essa palavra de ordem antes da hora e que agora seria o momento certo.
O debate apareceu a partir da apresentação do pedido de impeachment no Congresso Nacional assinado por cerca de 400 organizações populares e todos os partidos de esquerda, incluindo o PCO.
A medida foi um passo importante na luta contra o governo Bolsonaro, embora insuficiente. É preciso sair às ruas, mobilizar o povo contra os golpistas. A esquerda precisa tomar para si a dianteira dessa política.
Embora tenha sido um progresso a apresentação do pedido de impeachment e a adoção por parte da maioria da esquerda da palavra de ordem de fora Bolsonaro, essa decisão vem tardiamente. Melhor dizendo, ela vem com certo atraso. O ano de 2019 foi muito propício por parte dos movimentos sociais para um chamado a derrubar o governo.
Grandes manifestações de massa levantavam a necessidade de derrubar Bolsonaro, mesmo que as direções desses movimentos fossem contra, o que só comprova a força de tal palavra de ordem. Até mesmo manifestações culturais espontâneas, como o carnaval de 2019 e de 2020, foram dominadas pelo fora Bolsonaro e hostilidades ao presidente golpista e sua gangue.
O que teria mudado agora, que fez a maior parte da esquerda aderir ao fora Bolsonaro e inclusive defender a ideia de que agora é a hora e que o PCO é que estaria errado de ter chamado em 2018, quando Bolsonaro disputou o Segundo Turno da eleição?
A resposta está na mudança de posição de um setor da direita que aumentou suas contradições com Bolsonaro. Não que seja correto dizer que essas contradições levarão necessariamente a que a burguesia de conjunto apoie a queda de Bolsonaro, declarações recentes dos militares indicam que não.
Mas a esquerda se sentiu à vontade para chamar o fora Bolsonaro agora por que uma parte da direita sinalizou que era possível. Isso mostra não que o PCO estivesse errado antes, mas que a esquerda pequeno-burguesa parlamentar se coloca em todas as oportunidades a reboque da direita.
Antes, o chamado a derrubar o governo passava por colocar a iniciativa totalmente nas mãos da esquerda e dos movimentos populares. Agora, embora seja possível passar à iniciativa, fato é que será necessária uma luta mais árdua para que uma eventual queda do governo não seja controlada pela burguesia. Há um agravante nesse momento: a pandemia levou as organizações populares à paralisia, o que deixa a direita com a iniciativa quase que completa na situação.
Não que esteja tarde demais, longe disso, mas é preciso que a esquerda e as organizações populares tomem a iniciativa, chamam o povo a se mobilizar para derrubar o governo.