As cenas de políticos burgueses de Hong Kong sendo retirados da sala do conselho legislativo após protestarem contra a decisão chinesa de introduzir uma legislação específica de segurança para o território semiautônomo correram o mundo essa semana.
O espetáculo dos parlamentares autodenominados “pró-democracia”, foi suficiente para reacender as críticas dos imperialistas, em especial da União Europeia (UE) a respeito da determinação soberana da China de governar seu próprio território.
É importante lembrar que o decadente órgão do imperialismo europeu acabara de perder um de seus principais membros, o Reino Unido, cujo Primeiro Ministro Boris Johnson anunciara a saída do bloco recentemente.
Este fator por si só deveria preocupar mais os políticos burgueses da União Europeia do que acusar cinicamente a China de ingerência sobre Hong Kong e assim acabar com a falácia liberal de “Um país, dois sistemas”.
Os capitalistas europeus temem que a China retome seu território por completo e cesse com a farra do cassino financeiro especulativo que se instalou na região com mais intensidade desde a Declaração Sino-Britânica de 1984 que determinava um sistema capitalista honconguês intacto por um período de 50 anos a partir de 1997. Como já se passaram 23 anos, é natural o desespero do imperialismo se acentue.
A autocracia do Reino Unido é um dos principais agentes imperialistas históricos envolvidos nas sucessivas guerras e invasões ao território chinês de Hong Kong desde os tempos em que o país também era uma dinastia monárquica.
O próprio acordo assinado na metade dos anos 80 é fruto do vencimento de outros tratados desiguais anteriores cujas bases foram estabelecidas de forma criminosa contra a população chinesa: o Tratado de Nanquim e a Convenção de Pequim.
O Tratado de Nanquim foi um acordo firmado entre a China da Dinastia Manchu e a Grã-Bretanha em 29 de agosto de 1842, que encerrou a primeira das chamadas Guerras do Ópio ou Primeira Guerra Anglo-Chinesa (1839-1842).
A Companhia Britânica das Índias Orientais queria forçar a Dinastia Qing da China a permitir o livre comércio, principalmente do ópio, no território asiático. A Grã-Bretanha exigia a abertura comercial, enquanto o governo imperial da China tentava proibir.
O resultado da reclamação dos comerciantes ingleses expulsos da China foi a decisão de Londres em atacar a China com a sua poderosa armada marítima para forçar os chineses a comprarem o ópio cultivado na Índia colonial britânica. Outro país invadido e saqueado pelos ingleses que escravizaram sua população e roubaram suas riquezas.
O Tratado de Nanquim é considerado o primeiro dos “Tratados Desiguais” ou “Tratados Iníquos”, assinados entre a China Qing, o Japão Tokugawa e a Coreia Chosun com as potências industrializadas ocidentais, entre meados do século XIX e o início do século XX.
Contendo doze artigos, o que se destaca é justamente Artigo 3º que dava a possessão de Hong Kong por tempo indeterminado à rainha Vitória e seus sucessores.
Já a Primeira Convenção de Pequim foi um tratado entre o governo da Dinastia Qing e três potências europeias, França, Reino Unido e Rússia datada de 18 de outubro de 1860 onde o imperador chinês ratificou o Tratado de Tientsin (1858). A convenção foi assinada para pôr fim à Segunda Guerra do Ópio, sob a pressão militar e diplomática das tropas britânicas e francesas.
Os chamados Tratados Desiguais entre meados do século XIX e o início do século XX foram firmados com as potências industrializadas ocidentais após sucessivas derrotas militares para as potências estrangeiras e ameaças de ação militar por essas potências.
Iniciando com a ascensão do nacionalismo e do anti-imperialismo na década de 1920, o Kuomintang e o Partido Comunista Chinês usaram esses conceitos para caracterizar a experiência chinesa em perdas de soberania entre 1839 e 1949.
Esse foi um período no qual os estados asiáticos não eram capazes de resistir às pressões econômicas e militares das principais potências imperialistas ocidentais à época.
Logo, a União Europeia, que nada mais é do que um órgão do imperialismo europeu, ao acusar a China de ingerência em Hong Kong, é um ato de puro cinismo e oportunismo. São justamente os membros da União Europeia quem mais ingerem em Hong Kong, por motivos históricos.