Leonidas Iza, presidente do Movimento Indígena de Cotopaxi (Equador), anunciou que as medidas econômicas adotadas pelo governo equatoriano provocarão um “estallido social”, ou em bom português uma ruptura social. A declaração foi dada em entrevista a Univision, uma emissora de televisão americana que transmite sua programação em língua espanhola.
O alerta chega no momento em que a crise do coronavírus atinge níveis alarmantes no Equador, um dos países mais afetados da América Latina. Caixões se acumulam pelas ruas e novos cemitérios são construídos para atender a demanda. A situação no Equador se agravou desde que Lennín Moreno, eleito pela esquerda com apoio de Rafael Correa, que presidiu o país no período anterior, com o compromisso de dá continuidade ao programa conhecido como “revolução cidadã”, deu um golpe, passou a perseguir e prender seus antigos aliados do partido Alianza, inclusive seu próprio vice, Jorge Glas. O próprio ex-presidente Rafael Correa foi condenado e só não foi preso por encontrar-se no exterior e ter solicitado asilo político na Bélgica.
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Moreno então, passou a adotar políticas neoliberais que levaram o país a uma convulsão social que explodiu em protestos violentos em 2019. Mesmo com o agravamento da crise social pela pandemia de covid-19, o governo Moreno segue aprofundando sua política de choque e destruição de todos os direitos e programas sociais.
Leonidas Iza informou que a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) já se pronunciou contar as leis de apoio humanitário e ordenamento das finanças aprovadas pela Assembleia Nacional, e aponta para a necessidade de uma greve geral. Esta também é a visão de outro líder indígena, Salvador Quishpe, que informou que diante das decisões governamentais, um “novo outubro” pode ter vez no Equador, referindo-se aos violentos protestos de outubro de 2019.
As lideranças indígenas do Equador entendem que não é possível enfrentar a pandemia de covid-19 em quarentena, pois a fome se agrava diante do abandono governamental. Mais que abandono, o governo neoliberal se aproveita da crise e avanças seus ataques às conquistas sociais dos equatorianos.
As entidades Conaie e Confenaie alertam para a necessidade de mobilizar os povos da Amazônia, protestar pela falta de presença do Estado, para que as próprias comunidades organizem-se para combater a crise, inclusive fazendo uso de sua medicina e de seus medicamentos ancestrais.
Os indígenas equatorianos estão dando um importante exemplo para todo o continente, de que só uma reação da população poderá aplacar os efeitos destrutivos da aliança coronavírus neoliberalismo, as duas chagas que solapam o continente latino-americano.