Principal entidade da luta estudantil no país, a UNE vem convocando atos virtuais para o próximo 15 de maio, um ano após as manifestações gigantescas ocorridas em 2019 convocadas contra a reforma da previdência e os ataques do governo à Educação, nas quais já se evidenciaram as tendências a uma luta geral pelo fora Bolsonaro. O chamado, desta vez, se dá pelo adiamento do ENEM, o filtro classista que exclui a esmagadora maioria da população do acesso ao ensino superior e transforma, na prática, o suposto direito em um privilégio destinado apenas à burguesia e as camadas pequeno-burguesas.
Muito poderia ser dito sobre a completa desorientação que leva uma organização política a proclamar, por palavras, que “sua bandeira histórica é a educação gratuita e de qualidade para todos” mas que, na prática, age defendendo a manutenção de um mecanismo de exclusão dessa magnitude. Contudo, não é este o objetivo do artigo mas o chamado da UNE para um ato virtual, um padrão adotado pela esquerda pequeno-burguesa brasileira e que não deveria fazer parte da tática da esquerda salvo o espaço onde isto realmente cumpre um papel efetivo: o da agitação. Ponto.
Da mesma forma que qualquer organismo vivo, com distintas necessidades a serem satisfeitas a cada etapa de seu desenvolvimento, a luta política dos movimentos populares também apresenta demandas que tornam uma tática apropriada a um objetivo mas não a outro. As formas de luta são diversas, e nenhuma deve ser desprezada mas a falta de clareza quanto às etapas a qual cada tática pertence inevitavelmente conduz a uma estratégia fadada ao fracasso.
É inconcebível pensar uma transformação real da situação atual, impossível sem uma grande mobilização das massas, sem que haja uma agitação prévia capaz desenvolver a luta política da população, mas também não é sensato imaginar que uma campanha de agitação seja o suficiente. A campanha de agitação precisa conduzir a uma mobilização real, de massas, nos espaços públicos que é o local onde a vida cotidiana se desenvolve. Sem isso, ela se torna um potencial que não se concretiza na prática.
Isto se torna ainda mais emblemático se lembrarmos que as agitações contra a reforma da Previdência produziram um número muito limitado de manifestações de rua, por sinal, pouco politizadas em sua maioria. Tendo ainda capturado as mobilizações para uma disputa no âmbito dos gabinetes do Congresso, a luta terminou, como era de se esperar, com a vitória dos golpistas.
Nesse sentido, é visível a falta de norte político às organizações de esquerda. Dado que aquele método fracassou (o que era previsível, exceto aos sábios idealizadores das “táticas geniais”), a opção de adotar uma forma ainda mais desmobilizadora é uma completa loucura, e cumpre destacar mais uma vez a sucessão de fracassos colecionados pela UNE, que recentemente, admitiu que sua última “vitória”, a derrubada do ex-ministro da Educação Ricardo Vélez, terminou com o “pior ministro da Educação” que o país já teve, Weintraub.
Por isto, é óbvio que devemos usar as redes sociais (e demais meios disponíveis) para uma intensa agitação que se traduza numa mobilização real. Esta mobilização, por sua vez, precisa se dar no âmbito de uma luta igualmente real. A repetição de erros já cometidos, de tirar o protagonismo da luta popular em favor de um movimento sem o povo é também um caminho muito seguro para a derrota de qualquer luta.