Como que acordando de uma hibernada, como a que acomete a maioria da esquerda que adotou a “quarentena” indicada pela burguesia, chegando ao extremo de fechar os sindicatos, partidos etc., o professor Eugênio Bucci, da ECA-USP, escreveu artigo publicado pelo site Brasil247, intitulado “Uma frente contra o fascismo”, no qual saúda com enorme satisfação e entusiasmo o fato de que “as oposições começam a acordar para o imperativo de acordar”, o que ele mesmo busca explicar como “as oposições dão sinais de despertar para a necessidade de se entender, de tecer acordos entre si, por mínimos que sejam” para se opor a Bolsonaro e supostamente atuar por um “bem pelo qual devem zelar” que seria a “democracia”.
O texto e o esperar do professor não se deu em 2016, quando parte dessas supostas “oposições”, como o PSDB, o DEM, PSD, – que eram mesmo oposição do governo da presidenta Dilma – e a maioria do PSB, parte do PDT e outros “democratas” se colocavam ao lado do golpe de Estado, articulavam e/ou apoiavam o impeachment fraudulento do governo eleito pela maioria da população e davam lugar a um estraçalhamento do resquício de democracia que existia no regime político nacional que nuca chegou a ser uma democracia real, nem mesmo nos limites que isso pode representar em um Estado capitalista.
O despertar e encanamento do acadêmico se dá, agora, depois que o golpe avançou muito, com o apoio desses “oposicionistas”, depois que estes oposicionistas estiveram muitos unidos, teceram vários acordos entre si, mínimos e máximos, em torno de prender o ex-presidente Lula e afastá-lo do processo eleitoral de 2018, garantir a eleição fraudulenta de Jair Bolsonaro, retirar direitos duramente conquistados pela luta da classe trabalhadora, rasgando a CLT, com a “reforma” trabalhista ou acabando com a aposentadoria de milhões por meio da “reforma” da Previdência etc. etc. etc.
Agora, depois de todos esses ataques, e quando a maioria desses “oposicionistas” estão unidos, inclusive com o governo Bolsonaro, para conduzir o povo brasileiro a um verdadeiro genocídio diante da pandemia do coronavírus e da politica de salvação dos bancos e grandes empresas capitalistas (a divergência entre eles não vai além de palavras e da falsas oposição entre isolamento horizontal x vertical), neste momento Bucci comemora que se esboce uma unidade em defesa da “democracia” por eles estuprada, salientando que “as oposição, nem que seja por instinto de sobrevivência, precisam se unir contra esse (des)governo”.
Assim ele saúda o que considera “uma frente se torna pensável e indispensável”, que não seria uma “frente eleitoral ou partidária, mas uma frente que inclua partidos, mas não apenas partidos, e que estabeleça como seu programa o combate cotidiano aos arroubos de arbítrio vindos do Palácio do Planalto e a defesa intransigente das instituições democráticas. Isso na ação diária”.
Nada poderia ser mais falso. Uma frente que não fosse além de mera demagogia eleitoral e que visasse uma ação, partiria justamente diante de ações concretas frente à ofensiva do governo contra a população e os direitos democráticos do povo. Não se espere destes oposicionistas nesse sentido. Ele estão solidamente unidos, contra a imensa maioria do povo, no que diz respeito, por exemplo a aprovar todas as medidas de ataque e arrocho do governo Bolsonaro contra os trabalhadores, os sindicatos etc. todas as medidas restritivas do direito de manifestação e organização popular, como evidenciam – por exemplo – as últimas e recentes votações no Congresso Nacional.
Diante da paralisia todas da esquerda, o professor se mostra emocionado diante da sua movimentação em direção à unidade com a direita golpista, com alguns dos maiores inimigos do povo brasileiro e dos seus interesses, como Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia, João Dória etc. convidados pela esquerda para o Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora. Exatamente, quando há 134 anos, essa data (como algumas outras) celebram a necessidade histórica e mais presente do que nunca, de que os trabalhadores e suas organizações confiem apenas e tão somente na sua união e na sua luta para fazer avançar a defesa dos seus interesses contra os dos vorazes capitalistas e seus representantes políticos da situação ou da “oposição”.
Como muitos outros políticos, da direita e da esquerda, Bucci, alega a necessidade da “defesa da ordem democrática”, anunciando que “o bolsonarismo se apresenta para a História como um fator destinado a quebrar a democracia e suas instituições”, como se estivesse “adormecido” quando os pais e avós de Bolsonaro, deram o golpe de Estado e apoiaram sua ascensão, jogaram na lata do lixo o que se assemelhava a uma democracia no País.
O que o professor enxerga nem de longe é um despertar, mas o aprofundamento de uma política sonolenta e paralítica da esquerda de seguir à reboque da burguesia golpista, como se deu em vários momentos recentes da nossa história, sempre conduzindo a maioria do povo a enormes derrotas e retrocessos e boqueando a luta por uma alternativa própria dos explorados diante da gigantesca crise e divisão no interior da burguesia.
O que Bucci e outros comemoram não é uma saída, mas a prisão da esquerda em uma armadilha, de se colocar à serviço dos interesses de uma das alas da burguesia, quando se aprofunda a divisão no seu interior. De se colocar a favor de uma frente que não levará a lugar nenhum que sirva aos interesses dos explorados diante da crise, pelo contrário, levará ao fortalecimento do regime, o mesmo regime que acaba de condenar Lula a 17 anos de prisão, com apoio dos “oposicionistas”, que há muito comemoram quando “Lula tá preso, babaca”.