Angel Gurría, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), afirmou em entrevista à BBC (British Broadcasting Corporation) que o choque econômico já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001, após os ataques de 11 de setembro daquele ano.
Para ele, é quase uma confusão de desejo com realidade acreditar que os países vão se recuperar rapidamente, mesmo que não se saiba estimar direito qual será o tamanho do desemprego e das falências empresariais.
Gurría prevê que quase todas as grandes economias do mundo entrarão, nos próximos meses, em recessão, ou seja, sofrerão declínio econômico por ao menos dois trimestres consecutivos.
Gurría afirmou que a incerteza instalada pela pandemia é a maior em décadas. “A razão é que não sabemos o quanto demandará a recuperação dos empregos porque não sabemos quantas ficarão desempregadas ao fim disso tudo. Também não sabemos o que precisaremos para resgatar as milhares de pequenas e médias empresas que já estão sofrendo.”
Se as previsões da OCDE estiverem certas, podemos esperar pelo menos uns vintes anos para e recuperação econômica brasileira para níveis de 2018. O Brasil é um exportador de commodites, como minério, petróleo e produtos agrícolas, o que torna a sua recuperação mais demorada.
A dificuldade do retorno a atividade econômica tem a ver com o fato de que nem todo o consumo se recuperará quando falarmos no passado do Grande Confinamento, como o FMI batizou esta crise. Algumas despesas (farmácia, alimentação, produtos de limpeza) aumentaram com força durante o confinamento; outras foram adiadas (roupas, uma bicicleta, um carro) e voltarão, ao menos parcialmente, quando as lojas e concessionárias reabrirem. Mas um terceiro capítulo se perderá definitivamente: ninguém enche o tanque três vezes ou corta o cabelo três vezes seguidas por todas as vezes que não pôde fazer isso nas últimas semanas, lembra Paul Donovan, analista-chefe do UBS. Segundo seus cálculos, até um quarto do consumo europeu faz parte deste último grupo e não será recuperável.
Tudo, claro, baseado na hipótese da manutenção da renda familiar. Uma suposição de que, atualmente, não parece ser o cenário mais plausível: os demitidos estão expostos ao desemprego e os que sofreram ERTE (expedientes de regulação temporária do emprego) ou seus equivalentes internacionais estão privados de 30% de sua renda.
Somente os trabalhadores que não sofreram nenhuma dessas medidas (ainda são muitos), os funcionários públicos e os pensionistas gozam do mesmo poder aquisitivo de antes de tudo começar. Nestes casos, Donovan percebe um aumento da poupança “forçada” que pode adicionar algum vigor à recuperação. No entanto, existe um senão enorme, em um momento no qual o mercado de trabalho atravessa a maior tempestade em quase uma década: para que isso aconteça é preciso manter a estabilidade no emprego, algo que está longe de ser uma certeza. “Isto não vai ser como apertar um botão e a atividade voltará imediatamente”, diz García Pascual, da Universidade Johns Hopkins.