Com muita justeza, o ex-presidente Lula declarou em seu twitter no sábado 25/04 que “Não pode haver inversão da história. O Bolsonaro é filho do Moro, e não o Moro cria do Bolsonaro. Nessa disputa toda, os dois são bandidos, mas é Bolsonaro que é a cria e não o contrário. E os dois são filhos das mentiras inventadas pela Globo”.
A questão é que “pai e filho”, assim como a agência de propaganda que impulsionou a campanha dos dois, foram instrumentos de uma campanha maior que visava reformular o conjunto do regime político, a começar por tirar o PT do governo, com o objetivo central de promover uma nova recolonização do Brasil diante da profunda crise econômica mundial. Quer dizer, mesmo a burguesia brasileira, foi um mero apêndice do golpe engendrado pelo imperialismo que, em última instância não visava apenas o Brasil, mas pode-se dizer o conjunto dos países atrasados no mundo e, em particular a América Latina.
Muito se fala, também, sobre a guinada “direitista” que há em todos os países. Um dos exemplos seria o presidente Trump dos EUA, mas esquecem com facilidade de que o golpe de Estado no Brasil, como em vários outros países da América Latina, ocorreu durante os governos democratas norte-americanos. Obama, ao mesmo tempo em que dava tapinha nas costas de Lula, “esse é o cara”, abria caminho para que os órgãos de inteligência norte-americanos montassem a engrenagem do golpe no Brasil.
Moro foi o elo entre esses órgãos de inteligência e as instituições brasileiras. Sérgio Moro, pode-se dizer, foi o filho bastardo que tentava mostrar valor para o pai em busca de uma recompensa futura.
Bolsonaro ainda era um mero político direitista que cumpria um papel de figurante na cena política, quando Sérgio Moro, através da operação Lava jato desencadeou, uma violenta campanha de denúncias envolvendo figuras centrais do PT em escândalos de corrupção. Essa foi a base da campanha ideológica que teve como carro-chefe as Organizações Globo, mas que foi feita pela imprensa capitalista de conjunto e não só a brasileira. Foi no decorrer dessa campanha, insuflada pela Globo e cia e financiada pelos capitalistas, que vão se intensificar as mobilizações de extrema-direita.
Fracassado o golpe via eleição de Aécio Neves em 2014, mas consolidando uma base ultra-direitista e golpista no Congresso Nacional e nos governos dos estados, com o apoio entre os militares, com um Judiciário reacionário e absolutamente controlado pela burguesia, o golpe passou a ser uma questão de tempo, até porque a esquerda, absolutamente inebriada com a “democracia” não conseguia enxergar um palmo à frente do nariz.
A derrubada da presidenta Dilma foi quase que um passeio da direita. Um passeio digno da direita e da extrema-direita – repugnante, torpe, não humano -, por conta dos coxinhatos, agressões e da arrogância da direita e, por outro lado, devido a uma esquerda incrédula diante do que estava acontecendo, que muito pouco reagiu ou reagiu tarde, mas sempre com a esperança que a Câmara… o Senado … o STF…. não permitiriam o impeachment absolutamente ilegal.
O “paladino da moralidade'”, a partir daí, ganhou às alturas. O novo caçador de marajás da década de 10 do século XXI. A programação da Globo que já bem antes do impechement havia transformado o PT em inimigo número 1 da sociedade, voltou toda sua vilania contra Lula, o “chefe da quadrilha”, segundo os “benfeitores” lavajatistas.
Lula foi preso, teve sua candidatura cassada, o PT acabou embarcada na fraude eleitoral e a burguesia e seus partidos, diante do absoluto repúdio popular aos seus partidos e políticos acabaram transformando em seu, o candidato da extrema-direita que cresceu justamente no vácuo deixado pelos partidos do regime político em crise e pelo próprio financiamento e insuflamento feito pela burguesia e seus meios de comunicação.
Durante todo esse processo e depois dele pouco importou se a Lava-Jato mostrou-se o que realmente sempre foi, uma farsa feita na medida para dar o golpe e destruir o PT, mais do que provado com as falsas acusações contra Lula e que se tinha alguém que deveria estar preso era o próprio Sérgio Moro e o séquito de lavajatistas serviçais do imperialismo.
Finalmente, o que importava em si é que pai e filho estavam em fim juntos e que o golpe, pelo menos é o que se supunha, havia sido legalizado com as eleições.
Uma nota final sobre a esquerda e em particular o PT é que mesmo diante de tudo que o Partido passou, há uma busca permanente pelo menos da parte de setores do partido em tratar os “donos” do golpe como possíveis aliados na defesa sistemática da política de frente ampla e unidade nacional.
Aliar-se ao “avô” é um erro político tão ou mais grave do que se a aliança se desse com o “pai” ou o “filho”.