A candidatura da Marília Arraes, que seria uma das maiores apostas do Partido dos Trabalhadores para as eleições municipais deste ano, não conseguiu, até agora, ter uma participação expressiva nas eleições. As pesquisas fabricadas e falsificadas pela imprensa burguesa têm mostrado Marília Arraes em terceiro lugar da disputa, ficando atrás de Mendonça Filho (DEM) e João Campos (PSB). Ao mesmo tempo, não há uma campanha militante nas ruas.
O fato é que não há grandes expectativas nem mesmo de Marília Arraes chegar ao segundo turno. Mas a que se deve isso? Seriam os trabalhadores pernambucanos, de fato, grandes apoiadores do DEM e do PSB? Óbvio que não.
O fraco desempenho da candidatura petista está diretamente relacionado com a forma com a qual o PT decidiu encarar as eleições. Ao invés de se apoiar na popularidade da própria Marília Arraes e na disposição geral de luta, o partido decidiu lançar Marília Arraes apenas para cumprir o papel ridículo de concorrer ao cargo de administradora da falida prefeitura do Recife. Isto é, em vez de utilizar as eleições para alavancar uma campanha de rua pelo Fora Bolsonaro e por Lula presidente, o PT decidiu entrar de cabeça no jogo viciado das eleições burguesas, que visam a anular a luta política e transformá-la numa luta carreirista por cargos.
Essa forma de encarar as eleições, além de uma falta de clareza do próprio partido, expressa também um fenômeno político muito claro: a colaboração do PT com partidos que não merecem confiança alguma.
A candidatura de Marília Arraes está sendo “apoiada” pelo PTC, PMB e PSOL. Ou seja, é apoiada em 2/3 por partidos que apoiaram diretamente o golpe e apoiada, em 1/3, por um partido confuso e vacilante diante de toda a luta contra o golpe.
O papel desses partidos ficou bastante claro na última semana. Quando Marília Arraes apareceu com apenas 14% das intenções de voto, o PMB veio a público ameaçar a retirada de seu apoio caso Marília Arraes não atendesse as suas exigências. Obviamente, esse tipo de chantagem também deve ter sido feita pelo PTC. Ao mesmo tempo, elementos da ala direita do PT começaram a “criticar” a candidata por não utilizar os símbolos do partido em sua campanha. A “crítica”, embora tenha seu fundo de verdade, é apenas uma demonstração do cinismo desse setor: todos eles defendem a submissão do PT a partidos golpistas como o PSB.
A presença do PSOL também é um peso contrário ao desenvolvimento da candidatura de Marília Arraes. A legenda praticamente não coligou com o PT em capital nenhuma. Na verdade, lançou seus candidatos para tentar inviabilizar as candidaturas petistas, como é o caso claro de Guilherme Boulos em São Paulo. Por que, então, o PSOL teria se coligado com o PT em Recife?
A resposta, analisado o cenário, é bastante simples: porque a burguesia precisava disso. Justamente pelo potencial que a candidatura de Marília Arraes apresenta, de impulsionar a mobilização em torno de Lula e pelo Fora Bolsonaro, é que é tão necessário colocar em sua chapa elementos que a pressionem contra essas possibilidades. O PSOL, em todo o País, está levando adiante a política da “frente ampla”, que é a política de colaboração com a direita golpista, mostrando-se, inclusive, disposto a sacrificar a mobilização pelo Fora Bolsonaro. Assim, podemos concluir facilmente que a presença do PSOL na chapa cumpra o papel justamente de impedir que a candidatura de Marília Arraes tenha um caráter combativo.
Os “apoiadores” de Marília Arraes são apenas um peso contra a mobilização. São, no fim das contas, um “Cavalo de Tróia” deixado pela burguesia para afundar sua candidatura.