O chamado “centrão”, que compõe o núcleo duro e conservador do Congresso Nacional, busca desesperadamente formas de garantir seus partidos e candidaturas.
Trata-se de um grupo de representantes da burguesia, uma direita propriamente dita, que procura manter aparência democrática, civilizada, diferenciando-se na forma da direita fascista, mas não tanto no conteúdo.
Este grupo político, composto pelas elites locais, e responsável direto pelo golpe de Estado de 2016, perpetuando-se no poder pela manutenção de currais eleitorais, entrou numa manobra extremamente arriscada com o golpe às instituições democráticas.
Derrubar uma presidenta eleita, prender sem provas um ex-presidente extremamente popular, foram algumas das manobras que exigiram um forte comprometimento de diversos setores, como juízes de todas as instância, polícias, imprensa, empresários todos sob controle do imperialismo. Tudo isso colocou os poderes constituídos do Estado brasileiro num vale-tudo, e em tamanho descrédito, que agora o golpe se volta contra muitos dos próprios golpistas.
PSDB, PMDB, DEM, PP entre outros, acreditavam que, derrubando Dilma, prendendo Lula e perseguindo o PT, garantiriam um novo presidente nas eleições seguintes. Mas suas expectativas não se concretizaram. Pois o golpe exigiu a mobilização de setores direitistas mais radicais, fascistas, para fazer frente ao descontentamento popular, e esta base nunca foi leal a qualquer um desses partidos. Criaram um monstro que se tornou maior que o criador.
Além disso, o golpe também abriu mais portas para ataques internacionais, de grupos imperialistas que também precisam desarticular uma parte das burguesias locais, na tentativa de se estabelecerem no Brasil.
Como resultado, estes partidos que sempre formaram uma maioria fisiológica no Congresso, estados e municípios, viu boa parte do seu espaço preenchido por paraquedistas e partidos improvisados, como o PSL. Por outro lado, os sucessivos golpes contra a esquerda não foram capazes de aniquilar seus partidos, e o PT, por exemplo, continua como a maior bancada de parlamentares.
O centrão tenta reverter essa tendência buscando ajuda de pelegos e pequeno-burgueses encrustados em partidos da esquerda. Políticos de carreira que conseguiram um lugar ao sol junto a partidos populares, e cujo principal interesse é garantir seus empregos e de seus cabos eleitorais nas próximas eleições. Para estes, é mais cômodo fazer coligações com esta camarilha do que arriscar-se tomando o lado da classe trabalhadora.
Por isso, muitos políticos com aparência de esquerda falam em “diminuir a polarização”, fazer “frente ampla” etc. A suposta luta destes setores contra Bolsonaro é uma luta restrita ao campo eleitoral. Uma luta para tomarem o posto do atual presidente ilegítimo e continuarem fazendo o mesmo jogo sujo de sempre, que não desagrade às elites.
É inaceitável, no atual estado de coisas, que políticos de esquerda compactuem com o “centrão,” o mesmo setor que articulou o golpe e apoiou a ascensão do fascismo no País. Não há somatório possível com estes setores, apenas subtração. Nenhum centrão fez ou jamais fará uma verdadeira luta pelas demandas populares. No máximo, concessões de migalhas a serem retiradas na primeira oportunidade. O golpe evidenciou isso, e fez o Brasil retroceder muito mais do que havia ganhado com o governo petista. É imperdoável permitir que os responsáveis por este crime de lesa-pátria voltem ao cenário político nacional.