A direita brasileira tem reagido com sua usual histeria desde o anúncio do documentário “Democracia em Vertigem” (2019) entre os indicados ao Oscar. O longa realizado pela cineasta Petra Costa aborda a questão do golpe de estado de 2016 e a prisão de Lula. Na campanha pela estatueta, a diretora vem concedendo entrevistas a diversos veículos da imprensa norte-americana, denunciando as consequências do golpe no Brasil e do governo fascista de Jair Bolsonaro.
Como já era de se esperar, a direita saiu a campo para espernear diante dos fatos denunciados por Petra Costa. Na segunda-feira (3/02), a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) publicou um vídeo nas redes sociais distorcendo as declarações dadas pela cineasta em entrevista à rede PBS e acusando-a de espalhar “fake news”. O próprio presidente chegou a dizer, à época do anúncio da indicação, que o filme era bom “para quem gosta do que urubu come”. Em seguida, ele admitiu não ter visto o filme.
As acusações publicadas no perfil oficial da Secom foram desmentidas em um artigo do jornal britânico The Guardian, notadamente liberal e nem um pouco esquerdista. Num texto publicado no dia 4, o repórter Tom Phillips afirma que os fatos denunciados por Costa são verdadeiros, apesar do próprio governo ter negado. Na entrevista que provocou chilique da direita, a diretora de “Democracia em Vertigem” associa a subida de Bolsonaro ao poder com o aumento da letalidade policial e do desmatamento na Amazônia.
Além do próprio Bolsonaro, outro fascista, Marco Feliciano (Sem Partido-SP), apelou para os “limites da liberdade de expressão”. O deputado federal e vice-líder do Governo no Congresso denunciou a cineasta à Procuradoria Geral da República (PGR) para que ela seja investigada por supostos crimes contra a segurança nacional e intolerância religiosa. Em entrevista concedida à CNN, Feliciano disse que Petra Costa “é louca ou age com manifesta má-fé, o que configura abuso do direito de livre expressão do pensamento.”
A mais recente manifestação de repúdio às declarações de Petra Costa veio do “jornalista” Augusto Nunes, no Portal R7. Em seu texto, ele chama a cineasta de mentirosa e louca, definindo o filme como uma “delirante sequência de fantasias” e dizendo que na entrevista à TV norte-americana, Petra “acelera o desfile de ‘invencionices’ que começou com ‘Democracia em Vertigem’”.
Em meio a toda a discussão política e a reação desesperada da direita, o importante é que a indicação do filme ao Oscar que é a maior premiação da indústria de cinema no mundo colocou a questão do golpe no Brasil novamente em destaque. Um fato fundamental e determinante na história do país e que muitos setores da própria esquerda queriam ver esquecido, como demonstrado por uma declaração do senador Humberto Costa (PT-PE) à Veja quando disse que era preciso “virar a página do golpe”.
Ainda na esfera parlamentar, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) a exemplo de Marco Feliciano, também entrou com pedido na PGR, desta vez contra a Secom. A justificativa é que o órgão teria ferido o princípio de impessoalidade da administração pública. Trata-se de um setor da esquerda pequeno-burguesa apegado às instituições e que ainda não compreendeu o papel dos órgãos estatais no golpe de estado e na manutenção de Bolsonaro no poder.
É evidente, como a experiência já comprovou, que esse tipo de medida da esquerda parlamentar não vai deter os fascistas, tampouco vai fazer com que eles passem a respeitar os princípios da administração pública. A única solução para acabar com a farra e abusos da extrema-direita passa pela mobilização popular exigindo a cabeça do chefe da quadrilha, com a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”.