Os primeiros batuques religiosos ou lúdicos trazidos pelos negros e executados por negros e mestiços no Brasil, assim como o samba, a capoeira e as religiões de matriz africana conseguiram se estabelecer no País como resultado de uma enorme luta entre a população pobre e a elite colonial que impunha uma violenta repressão e censura contra essas manifestações culturais. A mesma coisa se deu com o carnaval.
O carnaval brasileiro, ligado a essas primeiras manifestações culturais dos negros e mestiços, só conseguiu se tornar como uma espécie de festa oficial do Brasil depois de uma encarniçada luta do povo pobre e oprimido para estabelecer seu direita de festejar e de se expressar culturalmente. Todas essas manifestações culturais, dos primeiros batuques até o carnaval como conhecemos hoje, só se estabeleceram à custa da violência da repressão e até da morte de muitos daqueles que procuraram defender o direito do povo, sempre tão sofrido, de ao menos poder se expressar culturalmente.
Essa luta ainda acontece. O povo lutando para estabelecer suas manifestações culturais, a burguesia procurando controlar, censurar e reprimir. Nos momentos de golpe e de fechamento de regime como o que estamos vivendo, a burguesia intensifica esse ataque.
Por isso, pelo menos desde o golpe de 2016 vem aumentando os casos de repressão no carnaval. Desde repressão com bombas de gás e cassetetes até multas, cortes de verbas, censura.
No Rio de Janeiro, a prefeitura anunciou multas contra blocos que “não têm autorização”. Em Recife, blocos que desobedecem as regras – impostos pela prefeitura obviamente – podem ser multados em 50 mil. Em São Paulo, a prefeitura, além das multas, há alguns anos estabeleceu um estapafúrdio toque de recolher em pleno carnaval; nada de gente na rua depois das 21 horas, com direito a caminhão pipa, bombas de gás e bala de borracha. Já na abertura oficial do carnaval do Rio de Janeiro a PM reprimiu violentamente os participantes do bloco da Favorita, em Copacabana.
Se não é através da repressão, é através do corte de verbas. As escolas de samba do Rio de Janeiro, o carnaval mais famoso do mundo, estão passando dificuldades para captar recursos. Em cidades como Porto Alegre, o carnaval está comprometido pois nem prefeitura nem governo estadual liberam verbas para os blocos.
Junto de tudo isso, o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro desde o ano passado estabeleceu um arsenal de ataques contra a festa popular. As declarações de Bolsonaro escancaram que a direita é inimiga – como sempre foi – do carnaval e de todas as manifestações culturais do povo. Em suma, é inimiga do povo.
E de certo modo, a direita e a burguesia têm razão em temer as manifestações culturais. Um povo sem cultura, ou melhor dizendo, oprimido e reprimido, é mais facilmente dominado. O povo na rua, se expressando livre e espontaneamente, é um fator progressista por si só. Prova disso é que, em meio a toda essa tentativa de controle e repressão, os últimos carnavais se tornaram um verdadeiro ato gigantesco contra o golpe.
No ano passado, o canto ais entoado pelos foliões nos quatro cantos do País foi ” Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”, uma tradução para o carnaval brasileiro para o fora Bolsonaro. O recado está dado: o povo não quer Bolsonaro, não quer os golpista e quer poder se expressar e manifestar livremente e sabe que o golpe e essa direita é o maior obstáculo para isso.
Por isso, nesse carnaval estaremos nas ruas, brincando e nos manifestante pelo fora Bolsonaro. O Carnaval Vermelho vem aí, com adesivos, faixas, cartazes e muitos materiais para amplificar o canto do povo: “Fora Bolsonaro!”