Em recente entrevista ao jornal O Globo, o governador do Maranhão, Flávio Dino, usou de todo o espaço concedido por um dos principais instrumentos do golpe de Estado de 2016 – as organizações da família Marinho – para defender a política da frente ampla, uma aliança da esquerda com o chamado “centrão”, a direita brasileira comandante do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff.
DEM, PSDB, Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia e agora o debutante Luciano Hulk. Uma política sem limites à direita. Defensor ardoroso da frente ampla como fator para por fim à polarização política no País, Dino vê no arco de alianças que promoveu no Maranhão em torno da sua candidatura o espelho para as eleições de 2020.
“É fundamental que tenhamos espírito de humildade e de diálogo. Muita abertura para promover uniões entre o campo da esquerda, o campo progressista, e também alcançando forças políticas que estão externas ao nosso campo, como os setores liberais, chamados de partidos de centro. A meu ver, eles são essenciais para que a gente possa ter vitórias eleitorais importantes em 2020”.
Para o governador do Maranhão, a política seria como uma espécie de jogo. Perde-se hoje, ganha-se amanhã. Uma boa estratégia é fundamental pode permitir a vitória. Nas palavras do próprio Dino, superar “uma sequência de derrotas, sobretudo após a votação do impeachment da presidente Dilma (Rousseff). Houve uma sequência de dificuldades agudas, que já se manifestaram nas eleições de 2016, quando perdemos prefeituras importantes, a exemplo de São Paulo”.
Como se vê, o golpe de Estado de 2016 não passou de uma derrota. Não é que a direita, a extrema-direita, as instituições do Estado controladas pela burguesia, a imprensa venal, todos sob as asas dos imperialismo derrubaram o governo do PT para impor uma política de fome e miséria contra o povo e de rapinagem contra o País, como a que vemos hoje com o fascista Bolsonaro.
Dino, aliás, não enxerga nada disso, até porque defende a principal obra de ataque contra o povo que foi a reforma da Previdência, ele mesmo, antecipou-se aos governadores bolsonaristas, e impôs o fim do direito a se aposentar aos servidores públicos do seu Estado. Isso para não falar da entrega da base de Alcântara aos norte-americanos, por obra e ação do seu governo e do seu partido em aliança com o centrão e o fascista Bolsonaro.
As conversas de “alto nível” que mantém com a direita, como atesta o governador, dão a medida da sua política: “Eu tive uma reunião com o Luciano Huck e gostei muito. Achei positiva a preocupação que ele tem de estudar os problemas do Brasil, refletir”. Ou, ainda: “Mantive essa reunião e vou continuar mantendo, como tenho quase semanalmente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para troca de ideias”.
Como se vê Huck e Maia são pessoas absolutamente preocupadas com o povo brasileiro e com o próprio País, mas o que importa é que Flávio Dino é figura central que está sendo alçada pela própria direita contra a polarização política, resultado do golpe de Estado de 2016 e de suas consequências para a esmagadora maioria da população.
Dino cumpre, ainda, outro papel. O governador do Maranhão, assim como uma expressiva ala direita dentro do PT, que congrega os governadores do partido e uma boa parte dos seus parlamentares e figuras públicas como o ex-candidato Fernando Haddad, são um mecanismo pelo qual a direita brasileira busca se reciclar. Expurgar-se das suas relações com o golpe e se apresentar como alternativa diante do avanço da crise do regime político saído do golpe.
Ao fim e ao cabo, a política de Dino, do PCdoB, da direita do PT e do centrão vão totalmente na contramão dos interesses da população brasileira. O resultado dessa política consiste justamente em sustentar aquele que está promovendo a destruição País e de seu povo, o fascista Bolsonaro.
Cabe a esquerda que efetivamente luta contra o golpe denunciar essa política, denunciar que as eleições não serão uma via de resolução dos problemas do povo brasileiro, muito ao contrário. E chamar o povo às ruas para por um fim no governo fascista de Bolsonaro, única perspectiva progressista para a atual etapa política.