Em sua coluna para o jornal golpista Folha de S. Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad procura uma resposta sobre a burguesia industrial brasileira e seu “projeto de nação”. No fundo da questão, está uma concepção econômica e política conservadoras.
Haddad chama a atenção para o fato de que pela primeira vez desde 1947, a participação da indústria de transformação no PIB nacional ser menos do que a de produtos básicos. As exportações de produtos primários superaram os de manufaturados, foi 52,8% para os primeiros.
Mas para o ex-prefeito e ex-candidato presidencial isso não significa que o Brasil está se desindustrializando. Para ele isso “nada tem a ver com desindustrialização”. Com essa ideia, Haddad contraria inclusive pesquisas recentes da própria burguesia que revelam a queda da industrialização no País.
Para o ex-prefeito a culpa seria do “setor de serviços”, a boa explicação para os economistas burgueses e pequeno-burgueses que escondem os verdadeiros problemas econômicos. Esse chamado setor de serviços estaria aumentando no mundo todo, portanto no Brasil a queda da indústria estaria seguindo essa mesma tendência. Para Haddad e para esses economistas burgueses o “setor de serviços” seria algum elemento mágico da economia, que seria capaz de substituir a produção e a classe operária industrial. A pergunta que fica é: como é que produtos são fabricados e quem os fabrica? Mas deixemos, este não é o assunto da coluna.
Ao afirmar que não há desindustrialização no Brasil, Haddad ignora também um fator político e econômico fundamental. O golpe no Brasil tem como ponto central destruir a economia nacional. A essa altura, tem-se a impressão que só mesmo o ex-ministro Haddad não enxerga isso. A política dos golpistas, de Temer até Bolsonaro/Guedes, é o neoliberalismo feroz, a entrega da economia nacional para o imperialismo, a destruição da indústria nacional. E essa política é cada vez mais visível a olho nu, não é necessário ser economista para perceber tal fato.
A explicação para a cegueira de Haddad diante do óbvio talvez esteja em sua avaliação sobre a causa do crescimento econômico relativo durante as décadas do governo do PT. A explicação do ex-candidato do PT está na política de… FHC. Sim, ele diz: “A maxidesvalorização cambial de 1999 deu, por uma década, novo alento à indústria, mas a crise internacional de 2008 e as crises domésticas, econômica e política (2015-16), empurraram-na ladeira abaixo.”
O petista Haddad, que o próprio Lula do jeito sarrista que lhe é próprio chamara de “o mais tucano no PT”, ignora a política econômica, mesmo que as consideremos insuficientes, tomadas nos governos Lula e Dilma para atribuir a FHC o crescimento industrial da década de 2000.
Sua busca por uma burguesia nacional revela na realidade a busca não por uma política nacionalista desenvolvimentista mas por uma política neoliberal, que nem mesmo ele consegue explicar a diferença do que vêm fazendo os golpistas.