Dia 12 Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, sofreu uma derrota tremenda nas eleições contra Boris Johnson, do Partido Conservador, no Reino Unido. A posição vacilante sobre o problema do Brexit foi determinante. A princípio, Corbyn prometia respeitar o resultado do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Perto das eleições, porém, o líder trabalhista cedeu à posição da direita de seu partido, que era contrária ao Brexit, e ficou no meio do caminho sem uma posição clara. Ter cedido à direita do partido custou caro.
Embora isso seja muito claro, há uma disputa em torno do balanço das eleições. O principal objetivo da burguesia, enquanto o Brexit se destacava na superfície era, no fundo, derrotar Corbyn. O objetivo é restabelecer o poder do Novo Trabalhismo dentro do Partido Trabalhista, ou seja, que a ala direita volte ao controle da agremiação. Com esse objetivo ainda vigente, a direita está apresentando na imprensa burguesa o balanço de que Corbyn teria perdido as eleições por ter radicalizado demais à esquerda com seu programa econômico.
No Brasil, essa análise é maliciosamente repetida, com o propósito de influenciar o PT para que se incline mais à direita. É o exemplo da coluna publicada em 16/12 na Folha de S. Paulo sob o título “O fantasma da derrota de Jeremy Corbyn”, assinada por Mathias Alencastro. Segundo o colunista da Folha, “salvar o Reino Unido” seria um objetivo “perfeitamente atingível se Corbyn tivesse ouvido os militantes que defendiam a formação de uma frente eleitoral da esquerda ao centro, passando pelos verdes”.
O problema de Corbyn seria ter ido demais a esquerda. Se tivesse conciliado mais com a direita teria ganho as eleições, segundo esse raciocínio. Contudo, essa na verdade foi a política adotada, e foi precisamente isso que levou à derrota. Corbyn liderou as pesquisas eleitorais por um longo período, enquanto sua posição relativa ao Brexit era clara, e consistia em respeitar o resultado do referendo. A posição vacilante adotada depois, já perto das eleições, foi um compromisso com setores da burguesia e da direita do partido.
A direita procura inverter essa realidade em sua análise por lá para ajudar a direita do partido a tomar novamente o controle do aparato trabalhista. Aqui no Brasil, a reprodução dessa análise tem um objetivo semelhante. O PT também está em disputa, com a imprensa capitalista incentivando abertamente uma ala mais direitista dentro do partido. A política dessa ala consiste em fazer uma aliança com o chamado “centrão” para derrotar o bolsonarismo. Trata-se de uma armadilha, o “centrão” é um pilar de sustentação do bolsonarismo, e uma aliança dessas só serviria para consolidar o golpe, fechando a crise política que perdura desde a campanha que derrubou Dilma Rousseff.