Por Nivaldo Orlandi
Chacina de Paraisópolis.
“Jovens não foram vítimas de pisoteamento. Foram vítimas da Polícia Militar”, diz comerciante.
Assunto na favela de Paraisópolis na segunda-feira (dia 2) era um só, o massacre de 9 jovens na madrugada de domingo, 01/12. Informes são de Maria Teresa Cruz e Paloma Vasconcelos (Ponte, 03/12/2019).
“A versão policial é mentirosa”. Um comerciante afirma que nenhum motoboy usou o baile como escudo. O comerciante, que alega ser de família religiosa e não gostar de funk, detalha que sempre que há baile na favela a Polícia Militar não entra no local, mas ficam nas entradas de Paraisópolis fazendo blitz durante o dia.
“Eles fazem blitz por volta das sete da noite. Duas viaturas, três motos. De madrugada começam a invadir o baile. Dispersam a multidão, Aí vão embora. A multidão volta e fica nessa disputa. É sempre assim”, explica o comerciante, que preferiu não ser identificado por temer represálias contra sua família.
Neste domingo foi diferente PMs “invadiram o baile de uma vez só”. “Não foi bala de borracha, foi bala de fogo. Invadiram com pau, encurralaram o pessoal. Jogaram bombas”, continua o relato do comerciante.
Imagens obtidas pela Ponte, perto de um dos pontos de concentração do baile, na Rua Ernest Renan, mostram policiais chegando em viaturas em alta velocidade lançando bombas. Pessoas correndo, Outras tentando se abrigar.
O comerciante deixou pelo menos 100 pessoas se esconderem no seu estabelecimento. Conta que levou as pessoas para a laje enquanto, na viela, outros participantes do baile eram encurralados.
Jovens foram vítimas de pisoteamento. Vítimas da própria polícia. A primeira reação de frequentadores é correr porque sabem que vão apanhar”, completa o comerciante.
No meio da favela de Paraisópolis, onde os moradores chamam de centro, há pelo menos 10 anos rola o famoso Baile da Dz7. O baile é organizado coletivamente pelos moradores e acontece de quinta a sábado.
A mais famosa festa de Paraisópolis atrai Jovens de toda São Paulo
Às vezes um DJ é convidado para tocar no local, mas normalmente a música vem das caixas de sons espalhadas nas quatro saídas do local de concentração da festa. É a festa mais famosa de Paraisópolis, que reúne milhares de pessoas vindas de várias regiões de São Paulo.
Das vítimas do massacre, por exemplo, nenhum era morador da comunidade.
Na visão de quem mora na favela, foi justamente isso – o fato de não serem do local – que pode ter atrapalhado as 9 vítimas, que tinham entre 14 e 23 anos, na tentativa de fugir e se proteger. Na hora do desespero, por conta das bombas de gás, balas de borracha e spray de pimenta usados pela PM na multidão, muitos jovens não sabiam para onde correr. A região onde o baile acontece tem pelo menos 4 ruas de ligação com o restante da favela e muitas vielas ao longo do caminho.
Algumas vielas são longas, cercadas de paredes altas e à noite não são muito iluminadas, pois só contam com as luzes das casas no entorno. Em algumas delas, caminhar conversando com outra pessoa ao lado é tarefa impossível, já que são muito estreitas. Outras, já têm um pouco mais de espaço. A viela Três Corações, escolhida por parte dos jovens que morreram na madrugada do domingo, era estreita, escura e baixa. Para entrar nela era preciso descer uma escada.
As vielas de Paraisópolis funcionam como caminhos abertos entre as casas para facilitar o acesso de quem mora ali. Foi em um desses corredores minúsculos que parte da multidão tentou fugir da PM na madrugada do dia 1º de dezembro. Por falta de espaço, iluminação e com os bloqueios em todas as saídas, a ação da PM terminou com nove jovens encurralados e mortos, de acordo com moradores.
Todas as saídas foram bloqueadas por viaturas da PM.
Segundo moradores, o policiamento na favela aumentou muito desde que o sargento da PM Ronald Ruas Silva foi morto em novembro de 2019.
De lá para cá, não houve um dia que a PM não esteve na favela. Os últimos trinta dias foram marcados por ameaças diárias, conforme mostrou reportagem da Ponte.
“Depois da morte do sargento as ações policiais se tornaram freqüentes”, reforça funcionária de uma lanchonete no topo de uma das ruas onde o baile acontece.
“Antes era diferente, era mais difícil” a polícia vir, “mas depois que morreu o policial eles vêm direto, passam a semana todinha vindo aqui, com cavalaria, andando. A gente fica com medo de ficar aberto”, desabafa.
Outra moradora que costuma frequentar o baile, relatou a ponte, que “desde a morte do sargento Ruas a repressão aumentou”.
Chacina premeditada. PM anuncia Operação Pronta Resposta
Dias antes da chacina o comando da PM anunciou que Paraisópolis seria palco de Operação de Guerra por um mês, por dois meses, por três meses. Sem tempo para acabar.
A ameaça tinha como pretexto a morte, dias atras, do sargento Ruas (foto), na Favela de Paraisópolis.
“Nesse sábado, pararam aqui. Ficaram só olhando. Na hora, só via o pessoal correndo, as bombas estourando. Umas 3 horas da manhã parou um rapaz aqui todo ensanguentado“. “Aqui de cima não deu pra entender a dimensão. O rapaz disse que tinha sido pisoteado. É um absurdo, os policiais já chegam como loucos”.
Antes, durante o dia, policiais entraram, olharam para as câmeras. Deram ordem. Não era pra gente vazar nenhuma imagem”, denuncia a funcionária.
PM é um órgão fascista. Sua principal função é reprimir os pobres, negros e favelados. A Polícia Militar precisa ser extinta.