Nas imediações do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (entre as ruas João Basso e João Lotto), não era possível se mexer. No mesmo local de onde foi levado para uma prisão ilegal, em aberta violação da Constituição Federal, em 7 de abril do ano passado, o ex-presidente Lula voltou no dia de ontem para mais uma vez discursar e ser levado nos braços do povo.
Durante todo o dia, milhares pessoas, em sua maioria ativistas dos partidos de esquerda e das organizações de luta dos trabalhadores, foram se agrupando, expressando não apenas uma enorme vibração pela soltura de Lula ocorrida na véspera, mas também um enorme ânimo para as lutas da próxima etapa, que, para a imensa maioria, com certeza virão.
Depois de quase 600 dias, um público semelhante ao do dia em que Lula foi levado do Sindicato em que foi presidente e a partir do qual se transformou na principal liderança da classe operária brasileira, contra a vontade da maioria dos presentes, que, corretamente, entendiam ser um erro ceder às ameaças da direita, Lula voltou para realizar sua primeiro pronunciamento ao País, do alto de um caminhão de som.
Lula expressou sua indignação com o governo Bolsonaro e vários setores golpistas, como a Rede Globo, quando logo inicio afirmou que “lá em cima tá o helicóptero da Rede Globo de Televisão para falar merda outra vez sobre o Lula e sobre nós”. Agradeceu aos que lutaram pela sua liberdade e falou da sua “alegria estar aqui com vocês hoje”. Em seguida, o maior líder popular do país seguiu falando sobre a luta contra a direita golpista:
Há um ano e sete meses, nós estávamos nesse sindicato, e vocês estavam aqui, firmes e fortes, e nós dissemos que resistiríamos e que traríamos Lula de volta. Lula voltou! A luta de Lula é a luta do povo brasileiro, é a luta do Brasil por liberdade e justiça.
Lula discursou sobre sua inocência e convocou o povo brasileiro a lutar contra os ataques aos direitos dos trabalhadores no governo de Jair Bolsonaro (PSL). Afirmou ser preciso uma mobilização constante, contra as ameaças da direita, afirmando que “não tem ninguém que conserte esse país, se vocês não quiserem consertar. Não adianta ficar com medo das ameaças que ele faz na tevê, que vai ter miliciano, que vai ter AI-5. A gente que ter a seguinte decisão: esse país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os milicianos acabem com esse país que construímos”.
Denunciou os resultados do golpe de Estado e dos governos golpistas de Temer e Bolsonaro, afirmando que “o povo ficou mais pobre, com menos saúde, menos casa, menos emprego. Mais de 40 milhões, 50% da população está ganhando R$ 413 por mês”. Atacou também o caráter entreguista do atual governo, afirmando que Bolsonaro e Guedes “querem destruir a nossa Petrobras, o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica” .
Apesar de falar das eleições de 2022, refletindo a confusão da política dominante nos partidos da esquerda burguesa e pequeno-burguesa , assinalou que “esse país não merece o governo que tem. Não merece um governo de um presidente que manda os filhos todos os dias contar mentiras, através das fake news”. Lula também declarou que está “com mais coragem de lutar do que quando eu tava quando eu sai daqui”. Mais uma vez, foi carregado nos braços do povo trabalhador presente ao ato.
A expressiva militância dos Comitês de Luta de São Paulo e de várias regiões do País presentes no ato expressou uma enorme disposição de luta, tal como se viu no último dia 27, na mobilização de milhares de pessoas em Curitiba, por ocasião do aniversário dos seus 74 anos, quando se realizou um combativo ato pela sua liberdade.
O ato deixou evidente que há uma clara compreensão de que estamos diante de uma nova etapa da luta, mas muito distantes de uma vitória definitiva e de que só a mobilização nas ruas pode conquistar a liberdade integral de Lula, a anulação da criminosa Operação Lava Jato e a derrota do golpe, com a derrubada do governo ilegítimo de Bolsonaro e de todos os golpistas.
Estas são, sem dúvida, as tarefas que estão colocadas para o próximo período. De imediato, pois o povo brasileiro não pode esperar pelas eleições de 2022 e muito menos não tirar proveito da mudança na correlação de forças que significa o fato de Lula ter sido colocado em liberdade, ainda que com enormes limitações e ameaças da direita golpista.
É preciso debater essa nova situação em todo o movimento de luta pela liberdade de Lula e contra o golpe, e em todas as organizações de luta dos trabalhadores, de modo a armar esse movimento para que apresente uma programa por suas reivindicações contra a burguesia e na próxima etapa. Fora Bolsonaro! Eleições gerais, com Lula candidato!