O grupo sindical dos Correios LPS (Luta pelo Socialismo), que controla o Sintect-MG (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Estado de Minas Gerais) publicou um balanço da greve dos Correios desse ano, que durou 36 dias, sob o título “Balanço da greve dos trabalhadores dos Correios: a luta continua!”
Os sindicalistas da LPS, no dia 22 de setembro, na assembleia do maior sindicato da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios), o Sintect-MG, que eles controlam, propuseram aos trabalhadores o retorno ao trabalho depois de 36 dias de greve.
O retorno ao trabalho consistia em aceitar, mesmo que contrariado, a seguinte proposta da ECT/TST: – Desconto e compensação dos dias de greve; – Retirada de 50 cláusulas do atual acordo coletivo, que possuía 79 cláusulas, uma proposta que representa na prática a redução salarial da categoria em 40%. Conforme é mencionado no próprio balanço do grupo “Numa única canetada, os ministros do TST, que recebem mais de R$ 37 mil de salário (fora os benefícios), retiraram direitos históricos dos ecetistas (categoria com o menor salário entre as empresas públicas), conquistados durante décadas de lutas, rebaixando a remuneração dos funcionários em até 40%, além de outras vantagens e benefícios.”
O balanço não explica aos leitores, o porquê de encerrar a greve se o ataque da ECT/TST é tão ruim assim, e foi justamente esse ataque que motivou a greve. Ainda mais, se a LPS que controla o maior sindicato da Fentect, o Sintect-MG. Sabendo que essa política significa a morte da categoria, não propôs aos trabalhadores de sua base e à direção da Fentect a continuidade da greve e o enfrentamento ao farsesco TST (Tribunal Superior do Trabalho)?
Pelo contrário, o balanço da LPS, como a de diversos grupos políticos que compõem a direção da Fentect, tenta analisar a derrota da greve dos trabalhadores, como se houvesse alguma vitória no recuo.
Segundo o balanço capitulador da LPS, a derrota da greve se deu pelo fato de que os trabalhadores dos Correios enfrentaram um TST defensor do governo e da política de Bolsonaro, ou seja, os teóricos da LPS conseguiram constatar o óbvio: o TST golpista é golpista, o tamanduá bandeira é um tamanduá bandeira, a cobra venenosa é venenosa, só a derrota da categoria pode em algum aspecto ser uma vitória. Quanta enrolação!.
“Embora não tenha causado surpresa entre os trabalhadores, o julgamento do Dissídio Coletivo, quando parte da categoria em greve ocupou Brasília, foi uma demonstração cabal de que a Justiça burguesa atua contra os interesses da classe trabalhadora e apoia as decisões políticas do governo Bolsonaro que quer privatizar os Correios.”
Mostrando que os sindicalistas da LPS ainda possuem ilusões com os ministros biônicos do TST, eles tentaram afirmar que esse ano, a decisão do tribunal não foi técnica, foi política, ou seja, o TST, cemitério dos interesses dos trabalhadores, às vezes são apolíticos, são técnicos, interpretes da lei, e que a decisão excepcional dos “honoráveis magistrados” do TST em 2020 foram motivadas pela política”. Em que mundo vive essa gente?
Veja o texto escrito no balanço “Os ministros que votaram contra os trabalhadores, com destaque para Ives Gandra, um conhecido carrasco das massas, não entraram em nenhum debate sobre as cláusulas econômicas e o impacto que teria sua retirada no bolso do trabalhador, muito menos os motivos para retirá-las, haja vista que, conforme destacou a relatora do processo, ministra Katia Arruda, os próprios balanços econômicos da ECT apontam lucros sucessivos da Estatal, que com a pandemia lucrou ainda mais. Ou seja, o debate foi todo pautado na questão política, absolutamente nada de técnico.”
Será possível que o Poder Judiciário no Brasil, principalmente nos tribunais algum dia decidiu algum conflito entre trabalhadores e patrões do ponto de vista apolítico, somente uma organização muito despolitizada poderia fazer essa divisão, técnico e político, de um Tribunal (TST) que tem seus ministros todos nomeados por indicação política.
Mas se tratando do referido grupo sindical, não é de se estranhar a ilusão que possuem com o TST.
Em 2017, os trabalhadores dos Correios estavam em greve nacional, novamente a greve foi parar nas mãos dos ministros do tribunal patronal, e a burocracia sindical, incluindo os sindicalistas do Sintect-MG/LPS propuseram aos trabalhadores retornarem ao trabalho, sem que a cláusula que tratava do plano de saúde fosse definida.
Os sindicalistas do Bando dos Quatro (PT, PCdoB, PSTU e Sintect-MG/LPS) alegaram que o acordo estava garantido, e defenderam que a cláusula que tratava do plano de saúde da categoria seria depois só referendada pelo TST.
Meses depois da assinatura do acordo pelos sindicalistas do Bando dos Quatro e o presidente da ECT à época, Guilherme Campos, o TST instituiu a mensalidade no plano, exclusão dos pais e mães de funcionários do plano e um compartilhamento nas despesas, de forma a inviabilizar o serviço para a categoria.
LPS um grupo sindical a reboque do peleguismo na Fentect
Como no inicio do balanço, a LPS mostra que a derrota da greve se dá ao fato óbvio de que os patrões, nesse caso, direção dos Correios, TST e Bolsonaro, querem privatizar os Correios, no capítulo seguinte, os “analistas” da LPS tentam diminuir e esconder a verdadeira história, que é a ineficiência do movimento sindical dos Correios, sindicatos e federações, que servem mais como obstáculos do que como incentivador da luta.
Apesar do intertítulo do balanço ter um ar critico à burocracia sindical “Correios rifados: isolamento e traição da burocracia sindical” essa expressão não passa de uma frase de efeito para esconder a capitulação da burocracia sindical.
A começar pela ideia absurda de que esta greve foi a maior da história dos Correios. “Os trabalhadores dos Correios, sem dúvidas, realizaram uma greve extremamente forte, a maior de sua história até o momento…”
A greve de 36 dias dos Correios foi uma greve que obteve a adesão de muitos trabalhadores, inclusive obrigando todos os 36 sindicatos da categoria a realizarem a greve, mas por falta de piquetes, mobilizações de rua, radicalização da greve, e várias ocupações dos prédios dos Correios, em vários sindicatos, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro onde os trabalhadores têm uma direção sindical patronal (Findect), a greve nem chegou perto do que foi a greve de 2003, quando a categoria arrancou do governo Lula quase 20% entre reajustes e promoção por antiguidade.
Em São Paulo e Rio de Janeiro, os sindicatos sequer fizeram assembleia presencial para aprovar a greve, tudo virtual, o que enfraqueceu a principal base de trabalhadores dos Correios, cerca de 20 mil trabalhadores em São Paulo. Só a análise da greve da capital dá pra ver que a greve não foi a maior da história, precisaríamos ter realizados piquetes, mobilizações de rua em São Paulo, assembleias presenciais, comitês de greves etc, contra a direção patronal desse sindicato para que a greve ganhasse peso.
Essa primeira impressão equivocada leva à desculpa número dois da burocracia sindical para explicar a derrota, de que o governo Bolsonaro é poderoso e que precisaria de quase uma greve geral para os trabalhadores dos Correios não perderem seus direitos conforme segue o texto: “No entanto, na atual conjuntura, a única forma de o movimento sair vitorioso seria com a unidade das demais categorias – uma greve de força e de resistência nacional.”
Em primeiro lugar, seria preciso unificar os trabalhadores dos Correios, em um movimento nacional, centralizado em um único sindicato, coisa que a burocracia sindical e seus grupos que controlam os 36 sindicatos da categoria no país não estão dispostos a se submeter, com medo de perder seus feudos sindicais por essa política.
Em segundo lugar é preciso combater o divisionismo, provocado pela direção da ECT através da federação patronal (Findect), não fazendo acordo com os sindicalistas (Divisa, Ronaldão Bianual) como a que foram feitos esse ano.
A Fentect, mostrando estar a reboque da federação patronal, concordou em apresentar aos patrões uma pauta de reivindicações sem reivindicações, rebaixada. As duas federações também definiram entre si a suspensão da greve do dia 4 para o dia 17 de setembro, se colocando contra organizar os trabalhadores dessas bases contra os pelegos da federação patronal (Findect).
Em terceiro era preciso radicalizar a greve com piquetes, ocupações em vários prédios dos Correios e até no TST para impor uma derrota ao governo Bolsonaro, coisa que aconteceu parcialmente (Campinas, Araraquara, Ribeirão Preto, Curitiba, Distrito Federal e Salvador) já que boa parte da burocracia sindical sequer propôs passeata de grevistas.
Outra “ilusão” da LPS, a Findect (federação patronal) iria organizar a greve da categoria
Como bons burocratas que são, os sindicalistas da LPS custam a criticar a postura de outro burocrata, mas quando o fazem é porque o papel desse é levar a culpa da política arregrada dos demais, é o caso nos Correios com os sindicatos pelegos de São Paulo e Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, o Bando dos Quatro da Fentect nunca se opôs que uma federação fantasma, criada pela empresa, estivesse na mesa de negociação, apesar dessa federação não ter legitimidade, não ter registro no Ministério do Trabalho. Pelo contrário, o Bando dos Quatro na Fentect procurava chegar em um acordo com os sindicalistas, historicamente traidores das greves da categoria, como Ronaldão do Rio de Janeiro e Elias Divisa do Sintect-SP.
Para todos trabalhadores dos Correios em São Paulo e Rio de Janeiro, a traição desses sindicalistas é como favas contadas, mas para os sindicalistas da Fentect, e da LPS não é bem assim, eles começam as campanhas salariais enaltecendo os pelegos, falando que conseguiram um acordo com eles, em relação à data de greve, como fazer a greve, e até pauta de reivindicação rebaixada, para depois ter que atirar pedras nos pelegos, para esconder que eles estão totalmente a reboque deles, como podemos ver no final dessa história da greve dos Correios.
Veja isso com clareza no texto de balanço da LPS;
“A traição da burocracia sindical também foi fator central na derrota dos trabalhadores dos Correios. As direções dos sindicatos ligados à FINDECT (uma pseudo federação, construída por porta-vozes da ECT e para seus interesses patronais)”…. “os sindicatos do Rio de Janeiro e São Paulo se negaram a mandar caravanas para o Ato. Ao contrário, anunciaram que fariam suas assembleias virtuais, no mesmo dia do julgamento da greve, o que facilitou as fraudes nas votações e impediu a ampla participação dos trabalhadores, facilitando a aprovação do retorno ao trabalho sem fazer nenhuma discussão nacional de resistência, dividindo e enfraquecendo a luta da categoria.”
Um leitor incauto poderia se confundir e achar que a LPS tem uma política diferente aplicada pelo Divisa do Sintect-SP e Ronaldão do Sintect-RJ, mas na verdade Ronaldão e Divisa são verdadeiros heróis dos sindicalistas da LPS. Por que?
O texto alega que a Federação patronal, Sintect-SP e Sintect-RJ se negou a enviar ônibus para o ato em Brasília, mas a pergunta que precisamos fazer é a seguinte: Como poderia os integrantes da LPS acreditarem que uma federação patronal, que sequer fez assembleia presencial iria mandar ônibus para Brasília? E pior, Como não concluir que esses representantes patronais ao marcar assembleia virtual horas depois da audiência de julgamento do TST, simplesmente estavam organizando, junto com a ECT e o TST o fim da greve?
A Fentect deveria ter impulsionado de verdade a vinda de vários trabalhadores de São Paulo e Rio de Janeiro para o ato de Brasília, uma base que poderia encher mais de 10 ônibus, e não alugar apenas um ou dois ônibus para vir os amigos dos diretores da Fentect dessas bases sindicais.
Para terminar, uma oposição de verdade aos representantes patronais de São Paulo e Rio de Janeiro deveria continuar na greve e não esperar São Paulo e Rio de Janeiro fraudar a vontade da categoria para acabar com a greve, e no dia seguinte a Fentect fazer a mesma coisa, propor a volta ao trabalho, apresentando a greve como sendo vitoriosa do ponto de vista da luta, conforme informe da Fentect n°36/2020, assinado pelo presidente do Sintect-MG/LPS Robson Gomes da Silva.
Para mostrar ainda que a LPS, como quase todos os sindicalistas dos Correios, incluindo os representantes patronais da federação fantasma, conclui que a pior derrota da categoria ainda tem algo de bom para aproveitar, as lições que a LPS retirou dessa greve traída:
“É fato que perdemos esta batalha, mas ficam as lições que os trabalhadores dos Correios foram capazes de dar a toda sociedade, mesmo que a população ainda não se tenha dado conta. Com certeza a história demonstrará o significado desta Greve para a classe trabalhadora”
Como pode ser que a pior derrota da categoria possa ter algo de bom, a não ser a história de como não se deve fazer uma luta contra o patrão e seu tribunal, ou seja, aceitar que o TST patronal é que determina ou não a greve da categoria?
“A primeira grande lição dada pelos ecetistas foi a de romper, nas ruas, com o silêncio que imperava sobre o governo Bolsonaro.” Diferente do que afirma a LPS, não foi dada para sociedade, mas para os próprios sindicalistas dos Correios, que antes da greve não queriam nem fazer assembleia, não realizaram o Conrep (Conselho de representantes da Fentect) para organizar a campanha salarial e ainda no início da greve os sindicalistas queriam imitar os bolsonaristas realizando carreata para mostrar a greve, foi a pressão das bases em greve que levou alguns sindicatos a fazer passeatas e o ato em Brasília.
“A segunda lição refere-se à consciência de sua condição de classe ao entenderem que a greve era a única alternativa depois de o governo se negar a fazer qualquer tipo de negociação.”
Essa lição não foi completada, graças à política de total adaptação das direções sindicais da Fentect de acatar a manobra patronal do governo Bolsonaro de usar o TST patronal para acabar com a greve, pois se houvesse realmente a conscientização que a greve era a única alternativa, a greve teria que continuar e passar por cima da manobra do TST.
“A terceira lição, talvez a mais importante, foi o exemplo dado a toda a classe trabalhadora brasileira quando não tiveram medo de lutar pelos direitos, pelo sustento de suas famílias e contra a privatização da Empresa.”
A constatação dessa terceira lição, afirmada pela LPS, denuncia a própria política seguida por esse grupo, pois se os trabalhadores não tiveram medo de lutar, da onde partiu o recuo da luta? Pois o resultado do retorno ao trabalho proposto em reunião da Fentect propôs aceitar a retirada de direitos, a dificuldade futura de manter o sustento da família e a pavimentação para a privatização.
E para finalizar o balanço, a LPS deixou explícito que apesar dos elogios aos trabalhadores dos Correios, para esconder a capitulação, não confiam na mobilização dos trabalhadores, mas na política de frente ampla, a exemplo do PSTU/Conlutas que invoca que as “Centrais Sindicais” devem convocar uma greve geral, ou seja, novamente depositando a crença naqueles que não querem lutar, como a Força Sindical, golpista e patronal, a CTB e UGT que controlam o sindicato dos Correios de São Paulo e Rio de Janeiro.
Sem contar que o termo “Centrais Sindicais” usado pela LPS não serve para unificar, mas para dividir a classe trabalhadora, uma vez que a única verdadeira Central sindical é a CUT, o resto dos grupos sindicais nem podemos dizer que chegam perto de ser uma central, como por exemplo a Conlutas.