As grandes mobilizações populares que explodiram no Equador após o lançamento de um pacote econômico pelo governo, que entre outros pontos elevou o preço dos combustíveis em 123% e promoveu cortes nos salários de servidores públicos, e a tentativa do golpista Lenin Moreno em contê-las com a decretação do “estado de exceção”, com o apoio das forças armadas equatorianas, é indicativo da crise da investida golpista do imperialismo contra aquele País.
O governo de Lenin Moreno foi eleito com o apoio da esquerda e do ex-presidente Rafael Correa como uma continuidade da política de reformas do governo do ex-presidente, conhecida como “revolução cidadã”. Ao assumir, Lenin Moreno deu um golpe, rasgou o programa com o qual havia sido eleito, rompeu com Correa e com o seu próprio partido, Alianza País, e adotou como bandeira da direita golpista o pretexto do “combate à corrupção”, para perseguir seus ex-aliados. Seu vice-presidente, Jorge Glas, e outros dirigentes do Alianza e partidários de Correa foram perseguidos e presos e o próprio ex-presidente foi condenado e só não foi preso por encontrar-se no exterior e ter solicitado asilo político na Bélgica.
O processo de perseguição política ocorrido no Equador sob os supostos crimes de corrupção dos dirigentes da esquerda foi muito semelhante ao de outros países da América Latina, em particular o Brasil. Serviu como o carro-chefe da campanha da direita e do imperialismo para impor o golpe de Estado, em uma aliança uma burguesia “nacional” de direita e o conjunto das instituições do Estado, entre eles as Forças Armadas e o Judiciário, que serviu de instrumento para a legalização do golpe.
A política neoliberal imposta pelo golpe no Equador liquidou em pouco mais de 1 ano todas as políticas sociais construídas durante os anos de governo nacionalista, impôs uma política de destruição da economia nacional e de ataques aos trabalhadores e ainda reverteu o controle estabelecido pelo governo Rafael Correa sobre os grandes meios de comunicação burgueses que dominavam o país.
A desestabilização da ofensiva imperialista é o resultado, em primeiro lugar, da resistência das massas ao neoliberalismo, produto da crescente polarização política. O problema que se coloca é com qual política a esquerda vai se colocar diante do desmantelamento do regime político instaurado com o golpe. O que ocorre no Equador, também está ocorrendo em diversos países da América Latina, em maior ou menor medida. No geral, a política da esquerda tem sido a de não ter uma política de enfrentamento com os golpistas, portanto ficar a reboque da própria direita. No Brasil, isso é sintomático, com a recusa em se chamar o “Fora Bolsonaro”. Aparentemente, há no Equador um amplo movimento em torno do “Fora Lenin Moreno” e por realização de novas eleições. As condições são absolutamente favoráveis para a esquerda, resta saber se o movimento vai avançar no sentido de derrotar Lenin Moreno e todo o regime político golpista.