O senado aprovou em sabatina Augusto Aras, para assumir o cargo de novo procurador-geral da república, um cargo da maior importância política, como o golpe contra Dilma provou. De antemão já podíamos esperar que o indicado por Bolsonaro para o cargo só poderia ser um elemento de extrema-direita.
Primeiro vimos Rodrigo Janot, que abriu caminho para a operação golpista Lava Jato e a derrubada de Dilma. Profundamente alinhado ao imperialismo norte-americano, Janot foi sucedido por outra estadunidense disfarçada de brasileira, Raquel “esquiva” Dodge. Indicada por Temer, Dodge seguiu a orientação geral de apoio à Lava Jato, embora tenham surgido alguns atritos. Marcando o aprofundamento do golpe, o indicado por Bolsonaro revela-se ainda mais direitista. Com a declaração de que o golpe de 64 foi na realidade um “movimento”, um truque manjado da direita e a defesa da prisão em 2ª instância, que só tende a agravar a periclitante situação prisional brasileira, Augusto Aras assume abertamente seu bolsonarismo.
A votação de Aras no senado também revela mais um aspecto fundamental. Aras foi eleito por uma ampla maioria, tendo sido a escolha de 68 senadores, contra apenas 10. Dos 81 senadores, outros dois faltaram e um se absteve. Embora a votação tenha sido secreta, o que esconde da população quem votou em quem, o placar mostra o quanto a construção de uma frente parlamentar de “resistência” no Congresso é inviável. Afinal, devemos concluir que muitos elementos do chamado “centrão”, com quem a esquerda pequeno-burguesa procura se aliar votaram em um cidadão defensor da ditadura de 64 e deste monstruoso sistema prisional brasileiro, que coloca o Brasil como a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos EUA e da China.
Devemos aproveitar a oportunidade para pedir também não só a liberdade do ex-presidente Lula, que segue preso nas masmorras de Curitiba, mas também de todos os presos políticos do país, o que inclui dirigentes do PT, do movimento dos Sem Teto e muitos outros, que estão sendo enjaulados pela ditadura que lentamente se constrói no Brasil. Para se opor à luta pela liberdade de Lula, vimos a esquerda pequeno-burguesa levantar o caso de outros presos políticos, tais como Rafael Braga. Não há nenhuma oposição entre lutar pelo “Lula Livre” e pela liberdade de outras centenas de presos políticos que existem no Brasil. É preciso ter claro que a luta pela liberdade de Lula impulsiona a luta pela liberdade de todos esses presos políticos, dada a enorme importância política do ex-presidente.
O PCO defende absolutamente a unidade da esquerda, mas que essa união se dê na luta. Juntar-se a elementos direitistas no Congresso nacional não vai render nada além de fotos segurando cartazes, como fazem deputados do PSOL e só conduzirão a luta popular à derrota e à desmoralização. É preciso mobilizar o povo nos sindicatos, locais de trabalho, bairros populares e universidades, em torno das palavras de ordem de “Fora Bolsonaro”, “Liberdade para Lula” e “Eleições Gerais”, para enfim impor uma derrota ao golpe e colocar os rumos da situação política brasileira nas mãos do povo.