Setores da esquerda, para justificar sua oposição à política do fora Bolsonaro, usa uma equivocada análise da correlação de forças para dizer que, não estando esta favorável, deveríamos tratar de fazer uma política parlamentar de baixa intensidade, focando em reivindicações parciais e que tem como objetivo as próximas eleições. Ou seja, como a relação de forças estaria, segundo esses ideólogos, muito desfavorável para a esquerda, seria necessário esperar e introduzir uma política totalmente defensiva, que ele chamam de “resistência”.
Alguns chegaram a comparar a sua política com a disputa de uma maratona. O jornalista e membro do PT, Breno Altman, chegou a dizer que a luta contra Bolsonaro e o golpe era uma “maratona de 42 quilômetros”. Era preciso ter fôlego e paciência para enfrentar todo o trajeto. Por outro lado, segundo a concepção desses setores, defender a derrubada de Bolsonaro já seria correr uma corrida de 100 metros rasos que a esquerda não tem nenhuma chance de vencer. As metáforas um pouco desconjuntadas servem para justificar a análise muito errada da relação de forças.
Há muitos fatos, muitas evidências que mostram que a relação de forças é favorável para derrubar o governo. Aliás, cada dia que passa a situação torna-se mais favorável com o risco inclusive de que a própria burguesia tome a iniciativa, tamanha é a crise do governo. Mas independente da discussão sobre a relação de forças, a ideia de que se deveria esperar, de que se deveria correr uma maratona é absurda por si só.
Não é apenas absurda, é perigosa. O governo golpista e fraudulento de Bolsonaro é um risco para toda a população, para as organizações populares, para toda a esquerda. Não precisa ser analista da situação política para saber que a extrema-direita tem como objetivo exterminar o povo.
Esperar as eleições, levantar pautas parciais, ou seja, deixar Bolsonaro no poder até sabe-se lá quando, é dar a possibilidade para que a política da extrema-direita posso se fortalecer e se aprofundar. O caso escandaloso da morte da menina Ágatha, de 8 anos, atingida pelas costas por um fuzil disparado pela PM, revela ainda outra face assustadora. O governo Bolsonaro é o mesmo governo de Witzel no Rio de Janeiro, o mesmo de Zema em Minas Gerais e Doria em São Paulo.
São governo anti-populares que tem como principal política a defesa do assassinato do povo. Deixar Bolsonaro e todos os seus fascistas no poder não é uma maratona de 42 km. Mais precisamente deveríamos chama-la de maratona de 42 mil mortes. A maratona do genocídio do povo.
Somente esse ano no Rio de Janeiro a Polícia Militar matou uma média de cinco pessoas por dia. São 1.249 casos registrados de janeiro a agosto de 2019. Esse é o resultado direto da política de Bolsonaro.
Sair às ruas pelo fora Bolsonaro e no Rio de Janeiro pelo fora Witzel não é um problema meramente de análise de relação de forças, é uma questão de sobrevivência do povo.