Em um artigo intitulado “A sociedade começa a reagir contra o autoritarismo”, publicado no sítio do GGN, o cientista político Aldo Fornazieri procura mostrar que existe o número de manifestações espontâneas contra Bolsonaro e a extrema-direita vem aumentando. Diz ele: “de modo geral, essas reações da sociedade têm um caráter espontâneo, no sentido de que não são dirigidas e nem lideradas por partidos políticos.”
Fornazieri argumenta então que os partidos de esquerda estão “desarticulados, desorientados e sem estratégias” e que caíram em uma política defensiva, mesmo nesse momento que o autor considera favorável. Ainda segundo Fornazieri, essa situação vem desde 2013, quando a esquerda perdeu o controle das manifestações para a direita, após as mobilizações serem dirigidas por uma grupo autonomista, o Movimento Passe Livre.
Mas a partir daí Fornazieri explica que os partidos e organizações populares não conseguiram organizar grandes manifestações de massa. “Os partidos de esquerda não conseguiram articular movimentos de massa significativos nem contra o impeachment e às várias fases do golpe, nem contra as reformas trabalhista e da previdência, nem em favor de Lula Livre e nem contra as destruições e retrocessos promovidos por Bolsonaro”. A partir desse ponto seremos obrigados a discordar, ao mesmo em partes, com a conclusão do autor da coluna.
Houve enormes manifestações de massas organizadas em primeiro lugar pelas organizações de massa do povo: a CUT, o MST, a UNE, organizações estas dirigidas pelo PT. Diferente do que diz Fornazieri, desde o golpe, a esquerda conseguiu enormes mobilizações, que foram crescendo e que em determinado momento conseguiram reverter a relação de forças entre esquerda e direita favoravelmente à esquerda, às organizações dos trabalhadores. Até chegarmos no momento atual: sob o governo Bolsonaro, a esquerda já organizou algumas manifestações gigantescas, enquanto que os golpistas vêm perdendo força nas ruas, a ponto de terem fracassado miseravelmente nas suas últimas tentativas.
O que faltou para a esquerda, seus partidos e suas grandes organizações foi e tem sido durante todo esse processo de luta uma política correta para enfrentar a situação. Se é verdade que essas organizações tiveram e têm dificuldades de mobilizar, hesitam em convocar o povo a sair na rua, isso se deve mais às vacilações políticas dessa direções, que são resultado de uma desorientação, do que a uma perda de autoridade política dessas organizações.
Por exemplo, conforme explica Fornazieri, as manifestações contra Bolsonaro pululam espontaneamente por toda a parte. Isso é verdade. Mas é verdade também que as únicas organizações – pelo menos até o momento – que têm capacidade para dar corpo e centralizar a essas manifestações são as grandes organizações de massas, em primeiro lugar o PT e a CUT. Tanto é assim que as últimas mobilizações foram convocadas em primeiro lugar por essas organizações.
Mas é verdade que a falta de uma política correta para enfrentar a situação acaba levando a esquerda a uma paralisia e a uma defensiva o que acaba mantendo represada a vontade manifesta do povo de partir para cima de Bolsonaro. Mantém também descentralizadas essas manifestações e portanto sem efetivamente colocar em xeque o governo e o golpe.
Fornazieri está certo em sua crítica ao imobilismo das principais organizações da esquerda. É preciso, no entanto, enfrentar a direita e mobilizar o povo com uma política correta, sob uma palavra de ordem que unifique todas as lutas e que ao mesmo tempo coloque em xeque todo o regime golpista.
É preciso chamar o povo às ruas para aquilo que Fornazieri afirma ser já uma reação espontânea que é a luta contra o governo Bolsonaro. Não qualquer luta, mas a luta pela derrubada desse governo e de todo o regime golpista. Isso implica obrigatoriamente na luta por retirar Lula da prisão, pois é essa prisão política um dos pilares de sustentação do golpe. Por isso, as organizações de esquerda precisam fazer sua a voz espontânea do povo: “fora Bolsonaro!” e “liberdade para Lula”.





