Nas Colinas de Boé, há quarenta e sete anos, no dia 24 de setembro de 1973, Guiné-Bissau – nação localizada na costa ocidental do continente africano – declarava unilateralmente sua independência em relação a Portugal.
Porém, mesmo sendo reconhecida na época por vários países africanos e também por governos operários de todo o planeta, a independência demorou cerca de um ano para ser finalmente aprovada por Lisboa.
Historicamente, o processo de independência guineense está relacionado ao declínio do regime fascista português, conhecido como “Estado Novo”, que oficialmente chegou ao fim com chamada “Revolução dos Cravos”, em abril de 1974.
É fato que o enfraquecimento da metrópole foi fator fundamental para a independência de Guiné-Bissau.
Porém, também é importante lembrarmos das lutas do povo daquela nação contra o colonialismo lusitano, por meio de movimentos armados (o mesmo também ocorreria em outras colônias portuguesas na África: Cabo Verde, Angola e Moçambique).
Guiné-Bissau se tornou a primeira colônia de Portugal no continente africano a se tornar independente graças à atuação decisiva do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado pelo político, agrônomo e teórico marxista Amílcar Cabral.
Conforme constatou a historiadora Danúbia Mendes Abadia, em artigo científico, Cabral apontava que a pequena burguesia tendia a assimilar a mentalidade do colonizador e considerar-se culturalmente superior aos colonizados.
Desse modo, ele alertava sobre a necessidade do “suicídio de classe”, uma forma de renúncia às estruturas que formaram a pequena burguesia, quer dizer, devem ser capazes de suicidar como classe para ressuscitar como trabalhadora revolucionária, identificada com o povo.
“Perguntar-nos-ão se o colonialismo português não teve uma ação positiva na África. A justiça é sempre relativa. Para os africanos, que durante cinco séculos se opuseram à dominação colonial portuguesa, o colonialismo português é o inferno; e onde reina o mal, não há lugar para o bem”, afirmou Cabral, ao analisar a dominação lusitana sobre seu país.
Assassinado em janeiro de 1973, Amílcar Cabral não chegou a presenciar a independência de seu país. Coube a seu irmão, Luís Cabral, instituir em Guiné-Bissau um regime de inspiração marxista, favorável à fusão com Cabo Verde.
No entanto, sete anos depois, Luís foi deposto por um golpe de Estado chefiado pelo general João Bernardo “Nilo” Vieira, que mergulhou o país em uma crise gigantesca, responsável por mudanças drásticas no direcionamento do governo e pela constante queda de líderes.