Uma das políticas tradicionais que vemos ser reproduzida pela esquerda pequeno burguesa é o hábito de culpar o povo pelas desgraças do capitalismo. Na crise do coronavírus, não foi diferente. Na verdade, trata-se de uma diretriz comum da burguesia para desviar as responsabilidades para as verdadeiras vítimas do sistema econômico podre e decadente.
Quer dizer, não se trata dos governos burgueses oferecerem as devidas condições de quarentena, testar massivamente a população, proibir os despejos e cobranças de aluguéis, dar um auxílio que não seja uma esmola, cuidar dos desempregados, tratar os doentes, etc. Não, tudo isso cabe ao povo, que na falta disso é o ”culpado” pela situação de exploração em que é submetido.
Esta tendência de culpabilizar o oprimido é vista mundialmente, das mais diferentes formas, algumas mais sutis. Por exemplo, veja este trecho de uma carta dirigida aos pais por uma conselheira tutelar em Portugal, diante da reabertura das escolas durante a epidemia do coronavírus:
”Apelo-vos para que sejam vigilantes na manutenção do distanciamento à porta das escolas, sabendo que também o pessoal docente e não docente farão os maiores esforços para assegurar a necessidade imperiosa de cuidar da saúde e do bem-estar, respeitando, com rigor e sentido de missão, as medidas de contingência.”
Sutilmente, promovendo uma política genocida por um lado, isto é, expôr crianças, jovens e adultos ao vírus que já destruiu milhões de vidas no mundo inteiro, a conselheira tutelar que escreveu este documento coloca a responsabilidade nos pais das crianças, para cuidar, vigiar, tutelar os filhos ou serão vítimas das consequências da doença!
Nesse sentido, é uma política canalha da burguesia, nada mais diferente do que culpar uma mulher estuprada por sua roupa, pois são os representantes da mesa de negócios que é o comitê deles para controlar as riquezas produzidas pela classe trabalhadora, expropriada e esmagada por sanguessugas.
Finalmente, com a ordem do capitalismo internacional para ”reabrir geral”, é preciso denunciar as tratativas dos canalhas de engambelarem os trabalhadores com discursos demagógicos como o dessa carta reproduzida aqui. Não basta ser explorado, os aproveitadores ainda querem terceirizar a culpa aos espoliados, é muita cara de pau.