No último dia 15 de setembro, o colunista do portal Esquerda Online, ligado à corrente Resistência do PSOL, Paulo Pasin, publicou matéria sobre os 15 anos do nascimento do Partido Socialismo e Liiberdade.
O artigo dá a oportunidade de um balanço do desenvolvimento político e do conteúdo do PSOL nesses 15 anos, importante para a própria análise da esquerda pequeno-burguesa nesses anos.
Para o membro da corrente Resistência, o PSOL surgiu “no desafio de resgatar uma esquerda que não caiu no canto da conciliação de classes, pois sabia que esse caminho construiria um atalho perigoso na história e que a classe trabalhadora, a juventude, as mulheres, a negritude e os povos indígenas pagariam caro por esse erro de escolha estratégica que o governo Lula optara.” Hoje é muito claro que o PSOL está muito longe de ser um grupo que rejeita a conciliação de classes. As posições de uma parte de seus líderes em defesa da frente ampla com a direita golpista, a defesa da Lava Jato por alguns de seus integrantes, e poderíamos enumerar muitas políticas que colocam claramente o partido no “caminho” da conciliação de classes.
Mas na época, esse conteúdo político já era muito claro. Em janeiro de 2005, meses depois do Encontro que resultou na fundação do PSOL, o PCO publicou uma polêmica com o manifesto de criação do PSOL. Sobre a política de conciliação de classe, está dito: “A rejeição puramente formal e verbal da conciliação de classes é uma necessidade para evitar que o novo partido fique, como é, aos olhos dos ativistas, completamente indistinguivel do Partido dos Trabalhadores. A sua rejeição não é à conciliação de classes, mas à conciliação com a ala direita dos grandes capitalistas, ligados ao capital financeiro. Este é o motivo pelo qual os integrantes do PSOL aceitaram durante duas décadas a política de colabioração de classes do PT e, agora, quando esta chegou à sua conclusão lógica na aliança com o PL e nas ‘reformas’ pró-imperialistas de Lula, recuam assustados.”
Ficava claro já naquela época que a rejeição à conciliação de classes era meramente formal. O partido rejeitava superficialmente a aliança com a direita e a política do governo do PT, que uma vez no governo, levou adiante como era esperado uma política burguesa. Os parlamentares, políticos e intelectuais que formaram o PSOL estiveram no PT até 2004 e portanto participaram ativamente de toda a política de conciliação de classes.
Mais precisamente, a rejeição apresentada pelo PSOL era meramente demagógica e oportunista. Uma crítica ao governo de conciliação do PT que os próprios membros do PSOL colaboraram para eleger.
A questão da conciliação de classes é apenas um dos vários aspectos fundamentais do conteúdo político e ideologico do PSOL que revela que o partido desde o seu nascimento esteve muito distante de um partido operário e socialista.
Essa ausência de um programa político claro, transformou rapidamente o PSOL em um partido cuja política é ainda mais conciliadora do que o próprio PT, não porque do ponto de vista programático o PT seja mais ou menos pequeno-burguês, mas porque o PT é um partido com uma enorme base social e uma inserção na classe operária, coisa que o PSOL não tem.
Desse modo, o PSOL, diante do avanço da direita no golpe de Estado, não apenas demorou a reagir, como se colocou em aliança com a direita golpista em uma série de ocasiões. A coluna de Paulo Pasin afirma que o PSOL agiu “como a oposição programática ao governos Lula e Dilma e a correta posição de ser contra o impeachment“. Como já ficou claro, a “oposição programática” nunca passou, na realidade, de uma mera formalidade.
Sobre a “correta posição contra o impeachment” trata-se simplesmente de uma falsificação da história. Qualquer um que acompanhou a posição da maioria do PSOL no golpe, viu que o partido teve uma posição ambígua para falar o mínimo. Alguns setores, como Luciana Genro, defendeu o impeachment, outros como Babá, defenderam também a prisão de Lula. Todos eles, de uma forma ou de outra, foram favoráveis à Lava Jato. Nesse sentido, a oposição do PSOL ao impeachment não foi nada mais do que uma votação no Congresso Nacional.
Outra colocação falsa na coluna é a de que o PSOL está lutando contra Bolsonaro. Na realidade, nada poderia ser mais distante da realidade. O partido tem sistematicamente boicotado as iniciativas pelo fora Bolsonaro. Junto com o restante da esquerda pequeno-burguesa, o PSOL passou todo o ano de 2019 procurando esconder a palavra de ordem de fora Bolsonaro. Seu candidato em São Palo, Guilherme Boulos, foi responsável por desmobilizar o ato que se formou pelas torcidas organizadas para colocar os bolsonaristas para correr da avenida Paulista.
Essa história poderia continuar com muitos episódios. Mas tudo isso deve mostrar que o PSOL, nesses 15 anos, confirmou aquilo que já estava preparando quando nasceu. Ser um PT, ou seja, um partido sem programa definido, de conciliação de classes e eleitoral, mas sem base popular e com grande tendência a se degenerar num partido cada vez mais direitista e adaptado ao regime político burguês como podemos assistir nesse momento com candidaturas como a de Guilherme Boulos, o coronel da PM vice no Rio de Janeiro, a defesa da frente ampla etc.