A vereadora do PP, Mônica Leal, presidente da câmara de veradores censurou a exposição de charges no saguão do prédio de Porto Alegre no segundo dia de exposição. A alegação seria de que as obras estariam ofendendo o ilegítimo presidente Bolsonaro e seu patrão estadunidense Donald Trump. No dia seguinte, entretanto, os cartunistas se reuniram e fizeram um protesto junto ao portão ao prédio do legislativo com amostras em tamanho reduzido das obras.
No protesto foi exposta uma faixa escrita “censurado” em cada cartoon. Além disso, Celso Schröder, cartunista desde 1974, afirmou que “a defesa da exposição mostra uma preocupação com a liberdade e a independência brasileira”. Claramente a exposição tem o intuito de defender a liberdade de expressão prevista no artigo 5º da Constituição Federal que os golpistas insistem em atacar.
A presidenta da câmara afirmou “que o que estava ali exposto caracterizava clara falta de respeito ao presidente da República, falta de limite e de bom senso”. Essa afirmação é semelhante às utilizadas por generais do exército brasileiro para calar a nação na ditadura militar através da censura. Nesse sentido, é isso assim que se caracteriza a ação destes elementos. Colocar o falso pretexto da moralização para impedir críticas é a maior prova da hipocrisia da direita e esquerda pequeno-burguesa.
É importante esclarecer qualquer confusão que possa surgir com essa discussão. A censura é um método que busca impedir a reflexão sobre questões importantes da realidade social. Silenciar as pessoas de maneira sistemática é o princípio de qualquer ditadura. É o que explica Reich na introdução de seu livro “a função do orgasmo”:
“Aqueles que se chamam a si mesmos democratas e querem contestar esse direito do pesquisador, do médico, do educador, do técnico ou do escritor são hipócritas ou são, ao menos, vítimas do irracionalismo. Sem firmeza e seriedade nas questões vitais, a luta contra a chaga da ditadura é uma luta sem esperança, porque a ditadura floresce – e só pode florescer – na obscuridade dos fins não compreendidos da vida e da morte. O homem é um ser desamparado quando lhe falta o conhecimento; o desamparo causado pela ignorância é o fertilizante da ditadura. Um sistema social não pode ser chamado de democrático se tem medo de propor questões decisivas, de encontrar respostas insólitas, e de entrar em discussão a respeito dessas questões e respostas. Nesse caso, é derrotado pelo mais leve ataque às instituições pelos ditadores potenciais.”
Na esquerda pequeno-burguesa estão presentes estes elementos que se autodenominam democratas. São indivíduos que, por não possuírem uma política própria, oscilam entre a política da burguesia e do proletariado. Por isso, em momento algum definem uma posição coerente com seus pressupostos políticos. Apesar de apresentarem uma aparência social-democrata são os primeiros à fazer acordos com a burguesia e a defenderem a caça às bruxas da santa inquisição moderna.
Latuff, um dos chargistas mais consagrados no cenário nacional comentou o caso dizendo que “a atitude arbitrária é perigosa para um país que se apresenta como democracia. A Câmara de Vereadores de Porto Alegre, tendo a frente Mônica Leal, agiu de maneira autoritária, bem característica de regimes ditatoriais, violando inclusive a Constituição do Brasil em seu artigo 5°. Parece que a vereadora tem saudade dos tempos da censura do regime militar”.
Cabe então a classe trabalhadora rejeitar completamente qualquer proposta de censura das opiniões, por diversas que sejam. É preciso compreender que a censura é uma funcionalidade criada pela extrema-direita e apropriada pela pequena burguesia para perseguir indivíduos e organizações da esquerda que questionem a burguesia e seus representantes, além de impedir discussões que possam engrossar o caldo das mobilizações contra Bolsonaro e pela liberdade de Lula.