O cientista político e sociólogo Aldo Fornazieri publicou no portal GGMN mais uma artigo em que critica a política do que ele chama de “esquerdas” e que tomaremos aqui a liberdade de chamar de esquerda pequeno-burguesa, pois é precisamente de quem estamos falando. Na matéria, intitulada “As esquerdas distraídas”, Fornazieri expõe a defensiva política da esquerda e a ausência de uma política correta para enfrentar a situação.
O Autor diz o seguinte: “Bolsonaro primou em distrair as esquerdas e as esquerdas se esmeraram em ser distraídas por Bolsonaro. O fato concreto é que Bolsonaro está na ofensiva e as esquerdas na defensiva. Lançando uma profusão de temas diversionistas e secundários para o debate do que interessa para o país (…) ele vai conseguindo pautar as esquerdas com esses temas culturalistas, ideológicos e moralistas. Não que este embate não deva ser feito, mas ele não é o principal para uma estratégia de esquerda.” Ele diz ainda que a aposta de Bolsonaro seria esperar o momento em que a economia se estabilize para retomar o apoio popular.
Concordamos em parte com Fornazieri sobre a defensiva da esquerda e, mais ainda, que a esquerda morde a isca sempre que Bolsonaro utiliza um tema moralista para chamar a atenção. Mas não concordamos que essa política de discursos e demagogia de extrema-direita de Bolsonaro seja popular ou tenha o apoio da maioria do povo. Ao lançar mão dessa política, Bolsonaro está falando para sua base social. E que base é essa? não é e nunca foi a maioria do povo. Não é nada mais do que a classe média de direita e setores muito atrasados das camadas populares, que sempre foram a base social da direita no Brasil e que são essencialmente a base da extrema direita.
Para entender melhor quem é essa base, é preciso lembrar algo que Fornazieri ignora em sua análise. Bolsonaro não ganhou a eleição porque era o mais votado. Bolsonaro é fruto de uma das maiores fraudes eleitorais já acontecidas no País, que retirou do páreo, através de um golpe, o candidato mais popular e que ganharia facilmente, talvez no primeiro turno, uma eleição normal. Lula sim é popular e tem apoio da maioria do povo. Sua base social é verdadeiramente ampla.
O apoio a Bolsonaro é restrito e limitado aquele pequeno setor reacionário e atrasado da população. Mas, mesmo com essa base limitada, Bolsonaro era e ainda é o único candidato da direita com alguma base base social. E precisamente essa base social que Bolsonaro quer preservar ao distribuir na imprensa essas declarações moralistas, pseudo ideológicas. E concordamos com Fornazieri quando diz que a esquerda se pauta por essa política diversionista. “A tática das esquerdas consiste exatamente no seguinte: esquecer-se do principal e transformar o secundário em prioridade”, diz ele. E nós acrescentamos: a esquerda pequeno-burguesa transformou isso em prioridade pois entende a luta política, no alto de seu cretinismo, como uma disputa eleitoral e parlamentar. Essa esquerda aposta no desgaste do governo fazendo uma oposição de baixa intensidade se preparando para a próxima eleição.
Enquanto isso, Bolsonaro e os golpistas ficam à vontade para destruir o País, em todos os sentidos. Acreditar que será possível derrotar o governo através de métodos parlamentares, pior ainda, esperando eleições, é jogar o povo para uma armadilha que pode ser de vida ou morte. A direita golpista já deixou muito claro que não quer saber de eleições, de parlamento ou legalidades, por que então a esquerda deveria ir por esse caminho?
É preciso ter claro que sem uma verdadeira mobilização não haverá vitórias. E essa mobilização não só é possível, como é ululante, mas as cúpulas da esquerda não querem ouvir as massas. Não percebem que Bolsonaro é impopular e que é preciso aproveitar o momento e partir para cima do governo. Existem apenas duas possibilidades: ou se mobiliza para derrubar o governo e os golpistas, e só será possível fazer isso através de uma política correta com uma proposta de poder político que passa pelas palavras de ordem de “fora Bolsonaro” e “liberdade para Lula”; ou a direita recuperará a iniciativa e mesmo com tamanha impopularidade conseguirá, aprofundando sua ditadura contra o povo, impor sua política de destruição.
Essa luta não passa pelas instituições a não ser como um aspecto muito secundário da situação política.
Está claro que as cúpulas da esquerda estão enfiadas até a cabeça em uma política parlamentar cretina, paralisante e desmobilizadora. Mas Fornazieri erra ao procurar a saída por meio de um convencimento, ou melhor dizendo, um chamado à consciência dirigido ao que ele chama de “esquerdas”. É preciso criticar a posição da esquerda, mas mais importante é preciso ter uma política que dê uma saída política clara para as massas e que esteja de acordo com os anseios dela. A esquerda pequeno-burguesa está em descompasso com as massas, ela é mais conservadora que o povo que está saindo nas ruas contra o governo, que se manifesta contra Bolsonaro em qualquer ocasião, de maneira espontânea. Mas é preciso uma mobilização permanente que dê conta dessa tendência de luta, que com certeza não será através das ilusões no parlamento e nas instituições dominadas pelos golpistas nem através de uma política de manifestações a conta gotas.




