Durante a semana um vídeo gravado, sem autorização ou conhecimento do professor, em sala de aula, viralizou e culminou, na quarta-feira (17/04), na demissão do professor de geografia do Colégio Particular Poliedro em São José dos Campos, interior de São Paulo.
No vídeo o professor fazia críticas ao governo golpista de Jair Bolsonaro nas quais afirmava: “Já parou pra pensar que esse imbecil que ganhou porque foi a maioria que votou? Então foi democrático, certo? Mas sabe o que é pior? É quando a maioria que ganhar quer que a outra parte se f*. Se a maioria ganha e quer ajudar o resto, é uma coisa, mas quando a maioria ganha e quer que o preto se ferre, o pobre se ferre, o gay se ferre e a mulher se ferre, aí é pior que uma ditadura” e ainda, lembrando do cinismo da primeira dama colocou: “Lembra que a mulher dele foi lá, linda fazer discurso pra surdo? O que ele fez no dia seguinte? Ele excluiu a pasta que cuida dos direitos de todos os surdos”.
As críticas do professor são extremamente moderadas, já que o mesmo acredita que esse governo é fruto de um processo democrático e que, de fato, a maioria da população teria escolhido Jair Bolsonaro como presidente da república, sem levar em consideração toda a fraude que atingiu o processo, desde a perseguição e prisão de Lula, que era quem liderava as pesquisas e certamente ganharia as eleições se tivesse participado do pleito, criticando apenas, em sua fala, as mentiras nas redes sociais. O professor pede ainda para os alunos se informarem sobre plano e medidas do governo para contestar sua posição.
O que acontece neste caso é censura, pura e simples. Os professores não podem mais emitir opinião divergente dos golpistas em sala de aula, sobretudo em colégios particulares, pertencentes aos grandes tubarões do ensino pago, que são, em quase sua totalidade, simpatizantes (pra dizer o mínimo) do governo golpista de Jair Bolsonaro.
Uma parcela minoritária da juventude, essa que em casa é submetida ao ódio bolsonarista contra a educação por influência dos pais, se colocou na cruzada contra a laicidade do ensino e resolveu promover uma caça às bruxas contra professores minimamente progressistas, que defendem qualquer direito social, fazendo vídeos desse tipo nos quais levam os professores a opinar fazendo perguntas sobre temas políticos e filmam, com o objetivo claro de prejudicar o professor, provavelmente orientado pelos pais ou pelos canais coxinhas do YouTube que incentivam tal comportamento.
O colégio, cinicamente, lançou uma nota para esclarecer a situação onde, entre muitas falácias, afirma que: “Reiteramos que a escola é um espaço para a pluralidade de ideias e para o diálogo, que favoreça o desenvolvimento intelectual e ajude o aluno a formar suas próprias convicções com respeito a visões divergentes”, o que parece até piada, mas não passa de mau caratismo mesmo.
Vale lembrar que esse não é o primeiro caso de perseguição aberta a professores, desde o ano passado vem acontecendo demissões, punições, afastamentos, abordagem policial e ate prisão de professor, como vimos na semana anterior nesse mesmo diário.
A liberdade de expressão nas escolas está por um fio. Enquanto a esquerda pequeno burguesa se preocupa em censurar o “humorista” Danilo Gentili, professores vêm sendo coagidos e censurados diariamente desde a divulgação do resultado das eleições do ano passado.
Para barrar a ofensiva golpista contra os professores e contra a própria educação é necessário construir uma grande luta em torno da liberdade de expressão tanto de professores, que devem se organizar em sindicatos e associações para combater o fascismo nas escolas e universidades, como de toda a população e tomar as ruas pela queda do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro e todos os golpistas, pela liberdade de Lula.
Para denúncias contra perseguição, o PCO, a Corrente Educadores em Luta e os Comitês de Luta contra o Golpe tem o número do disk solidário – (11) 97244-6304. Ligue e denuncie.