Com várias semanas de atraso, ainda mais se considerarmos que se trata de um pequeno agrupamento de caráter sindical, integrado, quase que exclusivamente por diretores sindicais e elementos assalariados por entidades sindicais, a chamada Liga Popular e Socialista (LPS), integrada pela diretoria do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Minas Gerais (Sintect-MG) publicou, em seu site, sob o genérico título “Bolsonaro ataca os Sindicatos”, uma crítica bastante amena e sem maiores fundamentos à Medida Provisória (MP) nº 873, que altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), editada no dia último dia 1º de março.
Atuando como uma autêntica burocracia sindical – que coloca seus interesses acima dos interesses dos trabalhadores, a LPS apresenta em primeiro lugar, e acima de tudo, como problema central, a questão de que as “modificações limitam as formas de financiamento sindical e violam o direito dos trabalhadores e suas entidades de receber mensalidades e contribuições sindicais por meio de desconto em folha de pagamento”, mostrando que para eles a ênfase está totalmente no problema financeiro, lamentam ainda que “até mesmo a mensalidade sindical, que integra o direito fundamental de livre associação sindical, passou a ter seu pagamento dificultado” (grifos nossos).
Para que não fique dúvidas sobre a preocupação quase exclusiva com o ataque aos cofres dos sindicatos (sobre os quais eles detém o controle de uma ínfima parcela), os sindicalistas da LPS (ou seus assessores que redigiram a nota), apontam – na sequência – que a “MP visa facilitar a vida do mercado financeiro, que atuará em mais este nicho, e ganhará com a emissão de milhares de boletos de cobrança pelas entidades sindicais” (grifo nosso).
Assim a MP seria a continuidade da política cotidiana do governo Bolsonaro, e de todo os governos burgueses da etapa atual, em benefício dos bancos que lucrariam, segundo eles, com a “emissão de milhares de boletos”. Número que explicita a preocupação miúda, apenas com as mensalidades recolhidas pelos sindicalistas da própria LPS, uma vez que só na categoria dos Correios, ha dezenas de milhares de trabalhadores sindicalizados e, considerando o montante dos sindicatos atingidos, a medida atinge milhões de sindicalizados e ao conjunto de dezenas de milhões que integram a classe trabalhadora brasileira.
Pela visão estreita, sindical e burocrática da LPS o problema central é que os bancos teriam encomendado do governo uma medida que lhes permitisse ganhar mais uns “trocados”, referentes às taxas pela emissão de boletos. Isso quando apenas os 10 maiores bancos “brasileiros” lucraram mais de R$ 100 bilhões, no ano passado.
Isso quando a MP 873 representa, como assinalamos, imediatamente após sua publicação, “uma aberta violação da liberdade de organização sindical e evidencia a política do governo ilegítimo de Bolsonaro, de perseguir, reprimir e intervir nas organizações sindicais” e se soma a outras medidas que representam uma “evidência [de] que a política do governo desmoralizado governo Bolsonaro é perseguir, reprimir, dividir e intervir nas organizações sindicais“. Algo profundamente mais grave do que o ganho minúsculo (diante da gravidade do ataque) dos bancos com a Medida.
Mostrando suas características profundamente economicistas e, portanto, reacionárias, a LPS, em momento algum, relaciona a MP e toda a ofensiva contra a organização dos trabalhadores (quem nem de longe está limitada apenas a retirar recursos dos Sindicatos) ao golpe de Estado e ao regime golpista, quando o ataque, nem de longe, se resume a política “antisindical” (ou menos ainda, contra a forma atual de recolhimento de mensalidades e contribuições feitas pelos sindicatos) é uma política fascista contra a democracia operária, uma verdadeira e profunda intervenção nos sindicatos, que retira destes (e, principalmente, dos trabalhadores) o direito de decidirem sobre o funcionamento das entidades, que somente a eles diz respeito.
Em momento algum, a nota da LPS denuncia o golpe de Estado. Adotam uma política economicista, anti-política, que não busca mobilizar a classe operária e sua vanguarda para a luta política contra o governo golpista, mas apenas lamentar a retirada dos recursos.
Para esses sindicalistas, o ataque aos trabalhadores seria um aspecto colateral, do objetivo central que seria “facilitar [ainda mais] a vida do mercado financeiro”, uma vez que serviria para “estrangular financeiramente os sindicatos” e também “visa enfraquecer os trabalhadores, abatendo os sindicatos, para impor uma reforma da Previdência muito pior do que a anterior”.
Para a LPS, a MP 873 não integra uma política geral do governo fraudulento de Bolsonaro e do conjunto do regime golpista para esmagar a democracia operária, não é a imposição do fascismo para acabar completamente com os sindicatos e a organização dos trabalhadores, indo por isso mesmo, muito além da “reforma” da Previdência. Tudo gira em função dos sindicatos.
Colocam-se diante da reforma de forma meramente defensiva, defendendo timidamente os seus próprios interesses e preocupações enquanto integrantes da burocracia sindical, sem se colocar diante do problema fundamental de que o ataque aos sindicatos é um primeiro e fundamental passo para cortar pela raiz o poder de resistência e enfrentamento do movimento operário diante do agravamento da crise do regime golpista que, neste momento, inclusive, vê profundamente ameaçada a possibilidade de aprovar suas medidas contra o povo brasileiro e a economia nacional, em favor do grande capital internacional, principalmente, norte-americano.
Mostrando sua prostração, os sindicalistas da LPS sequer são capazes de propor qualquer iniciativa real, nem mesmo no âmbito sindical e tampouco para as poucas categorias em que atuam; não apresentam qualquer campanha para os sindicatos, nada. Apenas pregam: “os trabalhadores devem reagir, mobilizando-se em uma gigantesca corrente de contestação nacional na defesa dos seus direitos e interesses de classe”. Palavras, nada mais do que palavras; que nem de longe conseguem ocultar a total desorientação política e o retrocesso sem limites desses sindicalistas que repetem posicionamentos comuns aos setores mais reacionários da burocracia sindical. É o caso, por exemplo, da burocracia das centrais que apoiaram o golpe de Estado, como a da Força Sindical, que – da mesma forma que para a LPS – destaca que “a MP 873 nada mais é que mais um ataque contra o movimento sindical” ou da UGT tucana, para quem “é fácil perceber o transtorno, o custo e as dificuldades da operação, desestimulando e praticamente impossibilitando a sindicalização“.