Após 10 dias de significativas manifestações de rua de milhares de pessoas contra o governo de Jovenel Moïse, a crise política no Haiti não da mostras de arrefecer. Isso porque o regime de ataque a população planejado pelo Imperialismo para toda a América Latina e implementado por meio de golpes de Estado não se sustenta em nenhum país em que foi levado a cabo, como a crise de Honduras demonstra.
O governo de Moïse é parte do regime implementado pelo Imperialismo após a deposição de Jean-Bertrand Aristide em 2004 com o apoio de milícias financiadas pelos norte-americanos. Naquele ano, foi instituída a Minustah – Mission des Nations Unies pour la stabilisation en Haiti, com presença significativa de militares brasileiros entre os chamados boinas azuis das “forças de paz” da ONU.
O principal e mais conhecido comandante das Forças Armadas Brasileiras no local foi ninguém mesmo que Augusto Heleno Ribeiro Pereira – o general Heleno hoje dentro do Palácio do Planalto à frente do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República do fascista Jair Bolsonaro.
Em 6 de junho de 2005, Heleno promoveu uma brutal caçada contra o apoiador de Aristide, Emmanuel Dread Wilmer, caracterizado então como um “criminoso poderoso”. Tratou-se de uma sangrenta caçada política a um militante político, na verdade, mais feroz até mesmo que aquelas produzidas durante a ditadura militar a que Heleno e seus comparsas estavam habituados. Mais de 22 mil tiros foram disparados sobre a comunidade de Cité Soleil – base de Wilmer em Porto Príncipe – capital do país – matando quase uma centena de apoiadores civis de Aristide. Foi um verdadeiro extermínio de opositores.
A missão “de paz” da ONU foi concluída em 2017, após a ascensão de Moïse ao poder após um processo eleitoral marcado por fraudes e manobras parlamentares para garantir o regime de direita. Dela participaram ainda outros integrantes do gabinete de Bolsonaro. Estiveram no Haiti em posições de destaque os generais Fernando Azevedo e Silva – primeiro interventor no STF e hoje ministro da Defesa –, Tarcísio Gomes de Freitas – ministro da Infraestrutura, e Carlos Alberto dos Santos Cruz – ministro da Secretaria de Governo.
Os militares que já atuaram no exterior são os prepostos de confiança do Imperialismo no país. São eles, como Hamilton Mourão, que constituíram o núcleo duro golpista pressionando o primeiro escalão do governo Temer, são eles que garantem os interesses das grandes corporações estrangeiras no Estado brasileiro. Seu modus operandi para tal garantia foi enunciado por Bolsonaro numa entrevista à televisão: “Estamos em guerra. O Haiti também estava em guerra. A regra era: você encontra um elemento com uma arma, você atira, e depois vê o que aconteceu. Você resolve o problema”. Ou seja: espera-se usar no Brasil, com os opositores ao regime de Bolsonaro, a violência usada no Haiti.
Um ano e meio após a “estabilização” do regime por meio dos punhos de ferro da ONU, a insurreição popular de características revolucionárias que hoje se vê no Haiti confirma que somente com uma brutal repressão é possível ao Imperialismo impor aos povos da América Latina as políticas neoliberais de destruição do Estado e suas políticas sociais, de revogação total dos direitos do povo, de entrega do patrimônio nacional ao estrangeiro.
Assim como os venezuelanos, os haitianos mostram que o caminho para derrotar o golpismo imperialista é a mobilização e a organização popular. Somente assim é possível conter a expansão do fascismo e da repressão.