Como se sabe pela experiência de guerras das últimas décadas, quando os países centrais do imperialismo oferecem “ajuda humanitária”, a operação consiste não apenas na implementação de postos avançados de espionagem, agitação e propaganda golpista, como também constitui-se – com a aceitação da “ajuda humanitária” – a situação de “crise humanitária” que justifica a invasão estrangeira “em nome do bem-estar da população” e da “democracia”. Foi assim em diversos países da África, foi assim no Afeganistão, foi assim na Síria, e os Norte-Americanos tentam encenar o mesmo script farsesco hoje na Venezuela.
À diferença dos outros exemplos, em todo caso, agora os contornos militares da operação são ainda mais definidos. O parlamentar golpista venezuelano Lester Toledo, supostamente “Coordenador das Ações de Ajuda”, vem declarando abertamente na imprensa imperialista que há uma ação coordenada de invasão da Venezuela a partir da Colômbia e do Brasil por forças estrangeiras. Toledo, tão legítimo quanto o Napoleão de hospício Juan Guaidó que se autoproclamou presidente, anunciou que pretende dar cobertura à invasão por meio de uma “corrente, com venezuelanos comuns, ONGs, a igreja, para forçar a entrada dos comboios dentro do território venezuelano”. Em pronunciamento na última terça (12), o próprio Guaidó anunciou que a ação estaria programada para o próximo dia 23 de fevereiro.
A primeira cartada da tentativa de invasão via “ajuda humanitária” aconteceu no último dia 7 pela Colômbia, quando o governo de Maduro precisou bloquear a fronteira para impedir a ação.
A nova intervenção via “ajuda humanitária” parece ser mais uma tentativa de mobilização interna com cada vez menos chances de acontecer, dado o escasso apoio popular granjeado pelos golpistas. Mesmo em jornais imperialistas como o The Wall Street Journal, percebe-se que Guaidó et caterva sequer são um grupo majoritário na oposição golpista ao governo legítimo de Nicolás Maduro. Como todo fascista, são histriônicos e ruidosos, mas sem capacidade real de mobilização popular.
O núcleo duro do imperialismo porém não dá mostras de arrefecer na investida. Como já anunciado desde julho de 2018 neste Diário, na verdade a invasão norte-americana poderia se dar a qualquer momento. O boicote econômico ao país caribenho acirrou ao longo de anos uma crise de abastecimento que atingiu até mesmo os combustíveis – amplamente contrabandeados por golpistas na fronteira com a Colômbia.
Ocorre que justamente agora, relatos locais dão conta de que a crise não tem se feito sentir como no ano passado, reduzindo a pressão popular pelo golpe. Além disso, forma-se também um cenário alentador de superação do boicote com as parcerias firmadas com China e Rússia, a Venezuela pode vir a superar o boicote americano e europeu. Nessa conjuntura, é possível que o imperialismo opte pelo confronto declarado com ou sem a operação de “ajuda humanitária”.
Não será fácil.
Massivas mobilizações de rua pró-Maduro mostraram na última semana o apoio popular real do regime legítimo da Venezuela, indicando não apenas para aquele país mas para toda a América Latina que não há resposta negociada para o golpismo imperialista, como querem Pepe Mujica e outras figuras trêfegas à frente das organizações da social-democracia no continente, como algumas das lideranças mexicanas ou mesmo, entre nós, dentro do próprio PT.
A resposta para o golpe é a mobilização popular e a organização da classe trabalhadora: essas as forças políticas reais frente à ameaça concreta de invasão. Que a esquerda brasileira se mire no exemplo venezuelano para chamar o povo às ruas e exigir a imediata deposição do golpista Jair Bolsonaro eleito por um processo fraudulento em que o principal candidato foi preso pelo atual ministro da Justiça.