Em tempos de governo golpista e ilegítimo que atua assumidamente como um súdito do imperialismo norte-americano para atacar a economia e o povo brasileiro e toda a América Latina (como se vê, principalmente, no caso da Venezuela)para defender o que é bom para os EUA (mais particularmente, para o grande capital norte-americano) como sendo bom pra o Brasil, e quando até setores da esquerda pequeno burguesa, totalmente distante da realidade do povo, que se colocam a colaborar com esta perspectiva falsamente nacional, não chega a ser novidade ou de se estranhar que o ataque um dos maiores escritores brasileiros e notório defensor dos interesses nacionais, venha de setores que se digam progressistas e defensores dos interesses da população negra.
Assim, a Folha de S. Paulo, voltou a dar destaque à polêmica contra o escritor Monteiro Lobato, conhecido por sua obra dedicada ao público infantil e que tem como único dos seus romances adulto o livro O Presidente Negro (originalmente denominado O Choque das Raças ou O Presidente Negro, e posteriormente, O Presidente Negro ou O Choque das Raças: romance americano do ano 2228), uma obra de ficção na qual aborda com quase um século de antecedência a chegada do primeiro negro à Casa Branca e a reação da burguesia branca e racista norte americana.
Se no “País do Futebol”, a esquerda foi capaz de se colocar claramente ao lado do imperialismo e daqueles que já preparavam o golpe de estado para protestar contra a realização da Copa do Mundo no Brasil (“não vai ter Copa”) e quando há até mesmo setores “esquerdistas” que protestam contra a maior de nossas festas populares, o Carnaval, não pode causar estranheza que Monteiro Lobato seja acusado de racista e, portanto, de reacionário e inimigo do povo brasileiro (de maioria negra) quando se trata de um dos escritores mais populares da nossa história, impulsionador do movimento conhecido como “O Petróleo é Nosso”, autor da famosa personagens que retratavam aspectos da vida do nosso povo, como o Jeca Tatu, em seu livro “Urupês”, que narra a rotina de caipiras do interior de São Paulo e que deu conteúdo progressista às suas histórias infantis, nas quais – por exemplo – faz críticas ao governo de Getúlio Vargas tendo como mote a tímida exploração do petróleo, já que o escritor queria que Vargas realizasse mais perfurações de campos de petróleo, pois sabia do potencial benefício para o País.
A Folha requenta, polémica de vários anos contra o autor, desta feita com artigo de Lucilene Reginaldo, historiadora que afirma que “a obra infantil de Monteiro Lobato é tão racista, quanto o autor“. Tese que é defendida repetindo-se argumentos linguísticos já usados anos atrás para tentar, inclusive, fazer com que a obra de Monteiro Lobato fosse a obra de Lobato fosse “censurada” pelo MEC e retirada do Programa Nacional Biblioteca na Escola.
Não se trata de coincidência que a obra desse defensor nacionalista e crítico explícito, que chegou a ser preso por alguns anos devido à censura, seja atacada em um momento em que o “patriotismo” dos atuais governantes significa curvar-se diante dos interesses do imperialismo, entregar o petróleo e toda a riqueza nacional e propor a “revisão” da nossa história para apresentar os torturadores e assassinos do povo brasileiro como heróis.
Da mesma forma como acontece com o futebol, o samba, o carnaval e todas as manifestações artísticas nacionais, a literatura brasileira também é atacada pelos monopólios.
Nessas condições, a crítica a Monteiro Lobato não faz mais do que fazer coro com a onda reacionária de que visa desvalorizar e atacar toda a produção cultural, artística, política, industrial etc. do povo brasileiro e valorizar a submissão aos valores supostamente “éticos” dos colonizadores que querem massacrar ainda mais o povo brasileiro e sua imensa maioria negra.