O caso Battisti tem promovido perguntas interessantes, mas também algumas curiosidades sem sentido. Uma das mais banais aparece em várias manchetes de jornais e postagens de agências de notícias e afirma o seguinte:
- A proposta de extradição de Battisti há conseguido unificar à direita e à esquerda italiana.
Esta afirmação parece uma pergunta babaca de programa de auditório, mas, em realidade, contém uma intenção tortuosa. Com efeito, se direita e esquerda italianas concordam com a extradição de Battisti, então, qual seria a ideologia de Battisti? Será que é simplesmente um terrorista?
Em realidade, o que deve ser analisado com base nesta suposta identidade é: existe ainda uma esquerda italiana? Se for assim, onde está? Quais são seus princípios? Qual é seu tamanho? Que decisões importantes se devem a ela? Quantos dirigentes famosos da “sinistra” italiana você poderia mencionar. (Cuidado: não digo “sinistros”!). Aliás, fora do Manifesto, Il Garantista, e algum outro, quantos jornais de esquerda italianos você conhece?
Pois é; classificar como esquerda os plutocratas e mercenários do mercado financeiro, cujo melhor exemplo são os yuppies do Partito Democrático, ou os antigos delatores sindicais do stalinismo, só pode criar uma enorme confusão.
Será que Massimo d’Alema, que tendeu uma tocaia ao líder curdo Ocalan para entrega-lo aos turcos, que o prenderam e torturaram, é de esquerda? E o coroinha narcisista Renzi que “convidou” Temer para forjar uma extradição truffa de Battisti, será que é um esquerdista? Será que pode ser chamado de “esquerda” um grupo, partido ou movimento cujos líderes (hoje na beira da cova) aprovaram a carnificina de Hungria em 1956, e depois prepararam a FIAT para extrair mais-valia em forma de rublos…, se aproveitando da enorme corrupção soviética que mantinha o proletariado russo na miséria?
Desde os anos 60, a esquerda italiana tem sido exterminada através de todas as engenhocas inventadas pela burocracia stalinista. Delação premiada, intimidação, falsificação de provas, uso de jagunços como Calogero, chacinas como a da Universidade de Padova, ondas de terror como a do 7 de abril de 1979… tudo isso foi obra dos stalinistas, embora a origem do caos da Itália de pós-guerra tenha sido provocado pelos fascistas.
É verdade que existe algo como um 3 ou 4% de real esquerda dentro na opinião pública. Talvez, até mais. Porém, como a mídia pode saber que alguém é de esquerda, sem conhecê-lo? Será que se guiam pelos nomes desses partidos?
Até há dez anos, havia um núcleo pequeno, mas ainda expressivo na esquerda parlamentar italiana, Rifondazione Comunista, que tinha alguns senadores. Ela, não apenas apoiava Battisti, mas propunha uma política de anistia que amenizasse um pouco esta epidemia de ódio ancestral, vingativo e truculento dos eternos adoradores de vítimas.
Hoje, há outros grupos, como a Sinistra Italiana e os Liberi e Uguali, porém parecem mais dispersos e com menos representação. Enfim, se falamos também das legislaturas regionais pode ser que haja ainda na Itália um 10% de esquerda. Mas devemos estar alertas, porque na Itália, quase todo que não é abertamente fascista se chama a si mesmo de esquerda. Além disso, quando se referem a verdadeira esquerda os chamam de terroristas.
Todavia, os partidos e movimentos que se chamam a si mesmos de esquerda (como os descendentes do antigo Partidão) não cabem em nenhuma definição de “esquerda” usada em países democráticos. O hábito de qualificar alguém pelo que foi no passado nos faz viver sempre fora do tempo.
Ou seja, os que estão contra Battisti nos dias atuais pertencem a diversas nuances de direita. Há formas raivosas de direita fascista como a Liga (Norte) e os Irmãos da Itália, mas também tem uma direita mais comportada, como é no Brasil o PSDB (cujo equivalente na Itália seria o Partito Democrático) ou a Rede de Sustentabilidade, cujo clone mais próximo seria o Movimento Cinco Estrelas.
Uma prova do uso confuso do termo “esquerda”, quando é aplicado a Itália, pode ver-se nesta reportagem feita pela BBC ao professor Claudio Zanghi, um veterano especialista em direito Internacional da Universidade Sapienza de Roma.
www.bbc.com/portuguese/internacional-46574962
Ao perguntar o jornalista se a direita e a esquerda estão unidas contra Battisti, ele responde dizendo que esse não é um problema de lado ou de ideologia, mas um assunto que envolve… o Judiciário Italiano. Difícil uma afirmação mais típica da direita, que consiste em defender a pureza da justiça nada menos que no coração de uma sociedade que, mesmo hoje, 26 anos depois da operação Mãos Limpas, ainda está considerada a mais corrupta entre os países desenvolvidos. Por sinal, o erudito que responde esta charada jornalística acrescenta uma observação imprescindível em qualquer discurso racista. “Temos problemas (na Itália), mas não somos o Burundi”. (Traduzido: devemos nos unir, porque, pese as nossas diferenças, não somos uns simples africanos…)
Esquerda Original
Na metade do século XIX, a Europa experimentou grandes modificações sociais, culturais e éticas, consequências de processos profundos: antimonarquismo, anticlericalismo, aumento da educação popular, pacifismo, humanismo, luta de classes, críticas ao capitalismo. Todas estas posições se traduziram num desafio ao antigo estado absolutista, mas também, rapidamente, se propagou a uma nova luta. Era o confronto contra a sociedade burguesa, que parecia no começo uma força renovadora, mas que havia aperfeiçoado os métodos de exploração econômica e repressão política, trocando apenas (e nem sempre) monarquia por república.
As ideias da esquerda mais substantiva e coerente cresceram nos países mais cultos, com uma educação e um urbanismo mais desenvolvido, e com uma classe trabalhadora melhor definida. A Itália, apesar de sua tardia industrialização, tinha a vantagem (em relação a outros países atrasados da Europa do Sul, como Espanha ou Portugal) de uma história mercantil e municipal muito intensa, e certa forma de republicanismo (em geral, aristocrático, mas às vezes, semidemocrático) o que a fez participar ativamente do processo de criação da Internacional de Trabalhadores.
O conceito de esquerda na Itália teve uma origem semelhante à da França, mas a influência do iluminismo e a industrialização do país impôs na França, desde cedo, uma visão mais democrática e humanista (bem presente no movimento chamado solidarismo de Leon Bourgeois, por volta de 1920). Este processo culminou numa razoável onda de ideologia progressista, análoga ao que a Itália procurou através da Autonomia na década de 1970, só para ser esmagada pela aliança fascista-stalinista.
A semelhança inicial foi que na Itália, como antes na França, se chamava esquerda ao grupo parlamentar que se opunha à monarquia e ao clericalismo. Mesmo a burguesia e até os setores modernos da baixa nobreza podiam ser considerados esquerda. Esse conceito virou mais específico na Europa por volta de 1840, com a aparição dos movimentos anarquistas, socialistas e, em especial, comunistas.
Mas, na Itália, essa diferença quase nominal entre direita e esquerda manteve a luta política no plano das elites. Em realidade, a “esquerda” italiana até 1880 nem sempre era totalmente republicana como na França, e até houve certa aliança entre “esquerdistas” como Urbano Rattazzi (um dos “pais” da unificação italiana) e os monárquicos. O conceito de esquerda na Itália do século XIX é extremamente relativo: o que coloca alguém “mais ao esquerda” que outro pode ser algo com pouco significado social, como aceitar ou não um aumento de impostos, ou estar a favor ou contra determinado conselheiro do rei. Aliás, está ausente a visão francesa (e também do Norte da Europa) de que a esquerda envolve de maneira necessária o respeito aos direitos humanos, pelo menos, tais como estes eram entendidos nessa época.
A esquerda proletária aparece com a criação do Partido Socialista, fundado em Gênova em 1892, com influências anarquistas e marxistas, e se estende com a criação do Partido Comunista em 1921, que surgiu de uma fração dentro do socialismo. Os comunistas queriam ir além das reformas propostas pelo socialista (que eram muito avançadas para sua época) e fundar um estado proletário como era nessa época a União Soviética.
Na construção do PC interviram vários intelectuais e militantes muito conhecidas. Porém, fora da Itália, os mais famosos foram Antonio Gramsci, brilhante ativista, filósofo e sociólogo, e Palmiro Togliatti, o secretário geral do PC desde 1927 e o único político estrangeiro que teve uma incrível influência sobre Stalin. (Ele recebeu a cidadania soviética, uma honraria que o governo de Stalin, fortemente nacionalista e xenofóbico, rara vez concedia.)
A massa comunista do Ocidente não tinha grande contato com o stalinismo. Para a maioria dos partidos comunistas do mundo, Stalin era um grande e longínquo líder que dava prestígio a seu movimento. Mas não se pode acusar de maneira generalizada a militância de base de fingir-se de esquerda. A maior parte acreditava que os PC’s eram de esquerda, salvo alguns poucos casos onde o stalinismo estava presente em todo momento, como na Itália, na Argentina e na Hungria.
Em realidade, a mentalidade stalinista começou a perceber-se após a morte de Stalin, quando Nikita Khruschov iniciou o chamado “revisionismo”, que significava se desfazer da extrema violência estatal, muito semelhante à nazista, mas manter a autoridade vertical, descartar qualquer processo revolucionário ou progressista e fazer valer os privilégios dos altos quadros.
Comunismo e Stalinismo
Durante as duas décadas de confronto anti-fascista e anti-nazista no mundo (1925-1945), o movimento operário lutou por seus próprias reivindicações trabalhistas e sociais, e pela vitória contra a direita. Na Itália, Palmiro Togliatti já estava preparando seu papel de homem mais influente do stalinismo.
Quando começou a ofensiva anticomunista de Mussolini, no final da década de 20, a direção italiana do PC ficou com Antonio Gramsci, que foi detido pelos fascistas e condenado a 20 anos de prisão. Em 1927, Togliatti já havia viajado a Moscou, que virou sua base durante todo o tempo que esteve no exterior (até 1944), e desde onde exercia grande influência sobre o PC italiano e, ao mesmo tempo, tomava parte nas decisões de Stalin. Alguns detalhes marcam o que seria a linha oficial pró-stalinista do partido. Vejamos:
- Durante o processo de expulsão de Lev Trotski, que reclamava dos soviéticos um maior compromisso com a classe operária mundial, e propunha a abolição da burocracia, Togliatti se manifestou fortemente do lado de Stalin, e influiu na expulsão de Trostki do partido e da União Soviética.
- Existem alguns boatos de que Togliatti teria sido contrário à libertação de Gramsci, que estava preso na Itália, quando, em 1932, ele havia sido cotado por Mussolini como um dos candidatos a serem trocados por prisioneiros italianos de Stalin.
Há uma referência neste link, mas não sei avaliar a qualidade da fonte.
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4660.pdf
O que se sabe com certeza é que Stalin não queria o triunfo do comunismo na Itália, por temor a que o PC enveredara por uma posição de esquerda e tentasse livrar-se da opressão soviética, num modelo semelhante ao da Iugoslávia.
- Em 1937, durante sua viagem a Espanha como principal enviado de Stalin para manter a “pureza soviética” entre as tropas que atuavam contra o fascismo, Togliatti, junto com outros stalinistas célebres (entre eles, Vittorio Codovila, italiano de nascimento, mas fundador do Partido Comunista Argentino), se envolveu na captura, tortura e execução do revolucionário catalã Andrés Nin. Este era chefe de um dos maiores grupos de esquerda na Espanha, onde os trotskistas eram altamente populares. Vide este velho artigo do jornal El DIA:
https://elpais.com/diario/1987/06/22/opinion/551311210_850215.html
- Cerca do final de guerra, Togliatti voltou a Itália, onde fez propaganda entre os comunistas sobre a necessidade de esquecer a luta de classes. Também, como ministro da Justiça, se recusou a tomar medidas contra os fascistas prisioneiros, mesmo as mínimas cautelares. Talvez em parte por esta “simpatia” pelos fascistas, centenas de grandes líderes fascistas ficaram em liberdade e em poucos anos tinham reconstruído sua estrutura de poder na Itália. Como todos sabem, muitos dos atuais políticos italianos são herdeiros dessa ressurreição do fascismo.
Há uma dúvida que foi manifestada muitas vezes e ainda hoje parece estar em aberto: quem foi pior o nazismo ou o stalinismo? Esta crítica atingiu a culta França, onde a esquerda se dividiu sobre o assunto. Os grandes escritores Albert Camus e Jean-Paul Sartre tomaram lados diferentes. Camus considerou equivalente a crueldade e o autoritarismo nazista e o stalinista. Sartre, que, a pesar de seu grande talento e honestidade, gostava muito de raciocínios complexos nem sempre transparentes, insistiu em que o stalinismo era menos grave, porque havia dado oportunidade ao proletariado para tornar-se sujeito da história (?!)
Brincar de quem é melhor ou pior não parece ajudar muito na construção de uma sociedade mais justa. Mas, existe a curiosidade de uma comparação correta entre os dois sistemas que só pode ser feita ponto por ponto: por exemplo, racismo, chauvinismo, autoritarismo, privação de direitos, etc. etc.
Para essa pesquisa, proponho este artigo de divulgação, escrito com muita seriedade. (Há uma versão simplificada em português.)
www.wikiwand.com/en/Comparison_of_Nazism_and_Stalinism
O leitor mais engajado pode ler este trabalho clássico de Anna Arendt, uma joia da literatura sociológica do século XX:
www.amazon.com.br/Origens-do-totalitarismo-Hannah-Arendt/dp/8535922040/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1545945981&sr=8-1&keywords=anna+arendt
A juventude italiana que tinha lutado contra o fascismo se identificando com o comunismo e as novas gerações que entraram no mundo adulto nos anos 60, começaram a reparar aos poucos, primeiro no stalinismo e, depois de 1953, na herança de Stalin. Mesmo assim, um grupo expressivo de militantes de esquerda ficaram dentro do PC, que foram abandonando lentamente para criar os movimentos autônomos, dos quais falamos várias vezes nestes escritos.
Outros acharam importante manter-se dentro do PC, pois já Stalin estava morto e o magnetismo dos líderes de Moscou já não era o mesmo. Assim sendo, correriam menos risco de serem arrastados a opções políticas truculentas ou fatais.
A morte de Togliatti, em 1964, teve um enorme apelo popular, pois a maioria das pessoas o achavam um dos heróis da luta contra o fascismo. Em realidade, poucos conheciam detalhes sobre Gramsci, que, por algum motivo, o próprio Togliatti tinha dado a conhecer em seus escritos. Os escritos de Togliatti sobre Gramsci são respeitosos, mas ele omite numerosos assuntos importantes sobre os quais ambos estavam e desacordo e que chegaram até nós por outras fontes.
Em resumo: o Partido Socialista tradicional virou apenas um nome, nem sempre muito prestigiado. A morte de Togliatti deixou a herança stalinista em várias mãos diferentes. É importante destacar que certos grupos maoístas (muito poucos) que formaram a “esquerda” alternativa na Itália não foram herdeiros direitos do stalinismo italiano. Em quase toda a Europa e em parte das Américas, o maoísmo, por ser uma filosofia oriental com forte culto à personalidade, teve grande influência entre o público snobe, mas não trouxe nenhuma novidade ao campo político.
Já no começo de 1970, a direção do PC virou ainda mais burocrática, mais pró-capitalista e mais abertamente desdenhosa das tradições da esquerda mundial. Mas, o PC italiano, como, quase na mesma data, o PC argentino, mostrariam de maneira rápida suas garras. Eles capricharam na bajulação aos partidos de direita e qualificaram como burgueses, reacionários, espiões americanos, etc. a todo aquele que tentasse montar um grupo, partido o movimento de esquerda.
Na Argentina foi pior, pois o PCA foi o partido que mais fortemente apoiou a trágica ditadura militar de 1976-1983. Eles chegaram ao extremo da delação, da falsificação de conceitos e da propaganda da ditadura como “mal menor” (e qual era o maior?)
Nas eleições de 1976, o Partido Comunista Italiano deu um enorme passo adiante. Ele ganhou o segundo lugar com 34,4% dos votos entre os deputados, enquanto a Democracia Cristã, o partido que melhor representava o perfil do eleitor católico, que era a enorme maioria do país (mais de 90%), só obteve 39% dos votos. (O Partido Socialista, com 9,7% dos votos, começou a eclipsar-se). No Senado, a diferença era também de um discreto 5%.
O triunfo do PC se deveu em parte ao massivo apoio dos adolescentes, cujo primeiro voto (naquela época complicada de conflitos e atos fascistas) era dirigido ao que eles consideravam, dentro de sua jovem experiência, a esquerda. Isto já tinha acontecido e iria acontecer depois, até que os PC’s do mundo explodiram depois do fim da União Soviética. Observem que, apesar de seus galanteios com a NATO, com o imperialismo e com o grande capital, passaram apenas 18 anos até a implosão do PC.
https://www.fanpage.it/21-giugno-1976-quando-i-comunisti-si-illusero-di-aver-vinto-le-elezioni/
A partir daí, os restos do que tinha sido o PCI se aproximou de maneira veloz da ideologia da centro-direita, com os mesmos argumentos usados pelos PC’s do bloco soviético (exceto o da Tchecoslováquia), pelo PC da Argentina e, logo depois, pelo PC da Espanha. Esses argumentos, sintetizados eram: dar prioridade a governabilidade, depois a segurança europeia e, em lugar nenhum, ao socialismo e a igualdade.
O PCI produziu pelegos e delatores e defendeu sempre os operários das grandes fábricas, tratando com desprezo aos trabalhadores do Sul, que geralmente sofriam de preconceito e marginalidade, e que geralmente era usados como bode expiatório para o sentimento racista da chamada “aristocracia operária”. Houve um famoso X9, chamado Guido Rosa, cuja morte recebeu o homenagem do próprio presidente da Itália e foi elevado ao nível de herói nacional.
Ainda hoje, o tom da literatura sobrevivente do Partido Comunista (que foi dissolvido durante a operação das Mãos Limpas), é maniqueísta, punitivista e dogmático.
Finalmente, o que sobrou do PC (porém, sem transferir-se aos grupos de esquerda que haviam surgido) trocou seu nome pelo de PARTIDO DEMOCRÁTICO DA ESQUERDA. Há poucos anos, eles devem ter-se perguntado: Por que de esquerda? Afinal, a época de impressionar com o antifascismo havia passado. O assunto agora eram os negócios da União Europeia.
Hoje, os ex-stalinistas, que ainda mantém um número grande de poltronas no parlamento, tiraram a palavra “esquerda” de seu nome. Chamam-se apenas, Partido Democrático. Sem dúvida, democracia na Itália é uma utopia bem mais possível que esquerda, e produz melhores frutos.
A esquerda que ficou merece muito respeito, em particular pela ferocidade com que é caluniada, perseguida e obstruída, tanto pelos fascistas como pelos “democráticos”. A maioria de seus membros é independente e todos aqueles que puderam manifestar-se se pronunciaram contra a extradição de Cesare. Dentro os escritores, artistas e intelectuais que, por centenas, assinaram propostas de apoio a Battisti, a imensa maioria pertencia a essa esquerda.
Um movimento de opinião anarco-socialista dirigido pelo exímio escritor Valerio Evangelisti, representa muito bem essa nova, porém, pequena esquerda, que luta pelo humanismo e a pacificação. É interessante destacar que essa esquerda autônoma é a única que manifesta respeito e solidariedade aos países subdesenvolvidos que sofremos a opressão imperialista, neofascista, e a corrupção de nossas elites, em contraposição à “esquerda” oficial italiana que cresce a sombra da bajulação dos grandes capitais e dos negociados de UE.