Na última sexta-feira (4), a Rede Globo foi proibida de exibir documentos ou peças do processo contra o senador Flávio Bolsonaro, relativo às chamadas “rachadinhas” e que corre em sigilo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A proibição foi feita pela juíza Cristina Serra Feijó, da 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. Os advogados de defesa de Flávio Bolsonaro, Rodrigo Roca e Luciana Pires, entraram com a ação pedindo a proibição da divulgação dos documentos na quinta-feira (3).
O processo da “rachadinha” consiste em um esquema de Flávio Bolsonaro com seus funcionários, que devolviam parte de seus salários para ele. A suspeita era de que o esquema era comandado por seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
Esse novo episódio de censura contra a Rede Globo, maior emissora de televisão do país, mostra o tamanho da crise que existe dentro do bloco golpista. O governo Bolsonaro já conseguiu, através da Polícia Federal e do poder judiciário, a derrubada do governador Witzel no estado do Rio de Janeiro, agora consegue impedir que a Globo divulgue os documentos que denotam crimes do filho do presidente. Em suma, Bolsonaro e a extrema-direita estão em luta contra a direita tradicional, e no momento a extrema-direita está na ofensiva.
Essa contradição está presente na composição do governo Bolsonaro desde o princípio de seu mandato. Porém, ela era mais intensa no começo e estava impedindo o governo de se movimentar. O problema é que a esquerda não soube aproveitar essa fragilidade e agora Bolsonaro está conseguindo se estabilizar mais e partir para a ofensiva contra seus opositores. Não só contra o outro setor do bloco golpista, mas também contra uma parte da esquerda e das organizações populares, como vemos no aumento dos despejos de sem-terra e indígenas em plena pandemia.
Também é importante salientar como a Globo está provando um pouco de seu próprio veneno. A emissora é responsável por uma das mais virulentas e criminosas campanhas de calúnias da história recente do país, que desembocou no golpe de estado de 2016 e na prisão do ex-presidente Lula posteriormente.
A esquerda e os movimentos populares devem aproveitar essa disputa entre os blocos da direita para poder atuar com uma política independente, que diga respeito aos interesses dos trabalhadores. De nada adianta tomar partido da Rede Globo numa situação como essa, só para se opôr ao filho do presidente ilegítimo. Da mesma forma, não se deve apoiar Bolsonaro para ir contra a Rede Globo.
É preciso botar em prática uma política de mobilização das massas e da classe operária, que impulsione a luta pelo “Fora Bolsonaro” e todos os outros golpistas, inclusive os apoiados pela Globo. Os setores da esquerda que apoiam a frente ampla com a emissora e seus políticos da direita tradicional, está apenas favorecendo um dos lados dos golpistas, que tem tanto interesse quanto o outro em esmagar a população e estabelecer uma ditadura que ataque todos os direitos do povo.