Com uma semana de greve dos Correios, é difícil de analisar sua extensão, embora as informações sejam de que vários estados não entraram em greve e que em São Paulo ela é extremamente parcial.
Existe uma pressão dos capitalistas, através da direção da empresa e do TST (Tribunal Superior do Trabalho), para que os trabalhadores voltem ao trabalho. A empresa retirou 70 cláusulas do último ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) assinado no ano passado, no entanto, a hora da greve costuma ser a hora em que o dinheiro desaparece completamente, de maneira muito suspeita.
Quando se trata de entregar empresas ao capital estrangeiro, a troco de nada, a burguesia não fala na falta de dinheiro. Quando se trata de distribuir centenas de bilhões de dólares para capitalistas e bancos, a burguesia não fala nada.
Agora, quando se trata de pagar os salários e direitos dos trabalhadores, o dinheiro desaparece milagrosamente e só sobra o discurso da necessidade da austeridade fiscal, que é austeridade para o trabalhador e bonança, festa e farra para os capitalistas.
Assim, desde que foi deflagrada no dia 17/08, a greve se defronta com essa grande resistência da burguesia e da direita.
Desde então, vários setores apoiam a greve, mas é preciso discuti-la, acompanhar o desenvolvimento destes setores. Pois a greve dos Correios não depende apenas do entusiasmo e da paralisação que os trabalhadores estão realizando. Há toda uma política no interior dos sindicatos dos Correios, que tem uma organização sindical muito incoerente.
Isto porque os mais de 100 mil trabalhadores dos Correios são empregados da mesma empresa, no entanto possuem 36 sindicatos. O que não faz sentido nenhum. Serve para que uma parte das direções sindicais sabote ativamente a mobilização dos ecetistas.
A direção em São Paulo, por exemplo, tem sabotado o movimento grevista nos últimos 10 anos ou mais, tendo um acordo com a direção da empresa. Outros sindicatos também sabotam. Ou seja, se uma parte dos sindicatos, que são independentes, se colocarem contra a greve, finalmente ela vai fracassar. O PCO (Partido da Causa Operária), através da sua corrente Ecetistas em Luta, sempre defendeu que a categoria tivesse apenas um sindicato nacional. Um sindicato nacional, neste momento, obviamente não iria garantir automaticamente que a greve fosse bem sucedida, mas diminuiria a possibilidade da sabotagem dessas direções sindicais.
A necessidade da campanha política
As direções dos sindicatos que estão em greve não explicam o funcionamento dela dentro dos 36 sindicatos, onde o que determina seu desenvolvimento é a luta política. Já faz um tempo que os sindicatos que deveriam constituir a esquerda dos Correios abandonaram a luta política contra a ala direita da categoria e estabeleceram um pacto de convivência, de boa vizinhança. O que, na realidade, condena, de antemão, qualquer movimento ao fracasso.
Isso é importante porque os Correios – uma das principais estatais do País, que serve como uma espécie de termômetro da luta política do movimento operário contra a burguesia – está sob a ameaça de privatização. Logo, uma greve nacional não seria suficiente para evitá-la. Seria necessário um plano de lutas muito mais radical, com ocupação da empresa e das agências. Além disso, uma campanha política, não apenas sindical, no meio da população, denunciando a privatização dos Correios. Campanha que teria de ir em todos os lugares, pedir apoio de outros sindicatos e organizações e formar um amplo movimento contra a privatização dos Correios.
No entanto, nada disso é feito. A política das direções dos sindicatos dos Correios, praticamente todas controladas pela esquerda – que tem uma política muito frágil, sem perspectiva, que fica numa espécie de feijão com arroz, onde alguns sindicatos fazem greve, outros não, e fica por isso mesmo – acaba sempre numa grande derrota dos trabalhadores.
As direções sindicais depois vão apresentar que foi uma grande vitória, no entanto é uma pura propaganda eleitoral dessas próprias direções sindicais para sua manutenção no poder. É muito semelhante ao que ocorreu recentemente com a greve dos metalúrgicos da Renault, em que a Força Sindical, que fez o acordo com os patrões permitindo demissões, rebaixamento salarial e terceirizações, vendeu o encerramento da greve como vitória.
Portanto, é necessário uma intervenção muito mais intensa, muito mais radical dos sindicatos, para estar à altura dos acontecimentos, pois hoje, a política das direções condena a greve dos Correios à derrota.