“Uma caixa-preta foi constituída com o dinheiro desviado da televisão brasileira”, afirmou o ex-presidente da FIFA Joseph Blatter, num livro em que decidiu relatar sua versão dos escândalos de corrupção em torno do futebol, que recentemente têm posto na cadeia uma série de dirigentes europeus e latino-americanos poderosos.
Em “Minha Verdade”, editado na França, o cartola confirma o que muita gente já sabia: o fato de que os brasileiros João Havelange (ex-presidente da FIFA) e Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF), abastecidos principalmente com dinheiro da Rede Globo, criaram um esquema de pagamento de propinas que se tornou padrão nos negócios da federação internacional. Em várias passagens nas 240 páginas do livro são mencionadas as tramoias da dupla brasileira.
Num primeiro momento, Blatter se recusou a acreditar que Havelange estava envolvido com negócios escusos. “Eu penso em Teixeira e não em Havelange”, escreveu – ele foi secretário-geral da Fifa quando o brasileiro ocupava a cadeira mais alta. “Para mim, Havelange é a estátua do comandante e em nenhum momento pensei que ele estaria envolvido nesse caso”, diz.
Blatter, que substituiu Havelange no comando da FIFA, e atuou posteriormente em oito mandatos consecutivos, terminou destituído em 2015 quando acusado ele próprio de corrupção num escândalo investigado na Europa e nos Estados Unidos.
Fato é que, enquanto vários dirigentes são perseguidos, a rede de televisão permanece inatacável, e segue incólume.
Em todo esse imbróglio, o que está por trás é uma luta no interior do imperialismo pelo controle do futebol. Uma luta onde as agências norte – americanas buscam ampliar seu espaço de investimento dentro do esporte, destituindo o velho esquema corrupto decadente, fundamentalmente latino-americano e europeu, por um outro mais “moderno”.