Demorei para me posicionar sobre o caso envolvendo o Duplo Expresso porque, admito, estava em estado de choque com o nível inacreditável de mau caratismo e insanidade envolvidos.
Antes de mais nada, quero deixar aqui minha mais absoluta solidariedade para com os deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous, sordidamente atacados por um blog que se revelou irresponsável, truculento e desonesto.
Até pouco tempo, o Duplo Expresso era feito dentro do Cafezinho, embora com total autonomia e independência. Wellington Calasans, que eu considerava um amigo, entrou numa canoa furada ao se juntar a Romulus Maya, uma pessoa completamente desequilibrada, que não tem a mais leve noção de ética.
Para vocês terem noção da desonestidade de Romulus Maya, os prints de whatsapp que ele anda divulgando, como “prova” da pressão que recebeu de Wadih Damous, são mensagens minhas, absolutamente inócuas, em que eu mencionava uma ligação do deputado, que é meu amigo e com quem eu converso sempre, me alertando de que a história do “acordo” de Sergio Moro com Eduardo Cunha não era verídica.
Não era uma opinião apenas de Wadih Damous. Era uma opinião de muita gente. Ainda bem que me contive e mencionei apenas o Wadih, senão Romulus não apenas iria revelar todas as minhas fontes, como iria acusá-las de… aliadas de Eduardo Cunha.
Nos prints acima, estão conversas privadas minhas, trocadas com Wellington e Romulus. Vazadas por Romulus, e distorcidas com uma desonestidade que só é ultrapassada pelo grau de insanidade.
Pois então, após eu mandar essas mensagens, Romulus Maya, num gesto inacreditavelmente desonesto e, repito, insano, publicou um post cheio de ataques a mim, em meu próprio blog!
Tem como ser mais insano que isso?
O programa deles, lembrem-se, era feito dentro do Cafezinho, e, ao final do ano passado, e eu ainda confiava nele a ponto de lhe dar a senha do blog.
Nesse post, em que ele publica a mensagem privada que eu tinha lhe enviado (a mesma que repete aqui agora), apenas apagando meu nome, dizendo que tinha recebido “pressões” para “não continuar investigando”. Era uma mentira tão ridícula! Não houve pressão. A história do acordo era totalmente questionável, ele não havia agregado prova nenhuma sobre o caso, e eu era o editor da página.
Vocês entendem, portanto, que eu sei que Romulus é uma pessoa desequilibrada, vingativa e, sim, perigosa. Demorei para reagir porque já imagino como será sua reação: qual uma criança mimada, irá fazer um post cheio de “prints”, ou até mesmo “áudios”, com trechos de conversas pessoais. Ele é assim. Não tem ética.
Olhem os prints ao lado.
Eu falei em coisas básicas, sobre ter provas concretas antes de publicar certas coisas. O Cafezinho é um blog sério. Podemos até fazer especulações e arriscar teorias de conspiração, mas deixando claro ao leitor que são isso: apenas especulações e teorias.
A interpretação dele é de uma pessoa com graves problemas mentais. Suas observações sobre “uai, precisa de fonte?” são estarrecedoramente antiprofissionais, mesmo para um não-jornalista.
Enfim, o gesto dele foi uma traição, uma sordidez imperdoável, e a partir daquilo eu parei de confiar em Romulus. E o pior é que ele volta àquelas mesmas mensagens com insistência, e ainda fica ameaçando divulgar “áudios”, como se tivesse qualquer coisa de grave em qualquer áudio.
Pior! Ele continua sem a mínima noção de que a divulgação de mensagens privadas, enviadas em confiança de uma pessoa para outra, é uma das piores traições que se possa imaginar.
Ao tentar fazê-lo entender, como quem fala a uma criança, que isso era uma violação do mais elementar código de ética de um relacionamento profissional ou de amizade, ele não se desculpou e continuou me agredindo.
E ainda continuou usando o Cafezinho (eu demorei para tirá-lo definitivamente da página) para divulgar seus posts.
Repare que ele faz a mesma coisa com Paulo Pimenta. Publica mensagens pessoais de Pimenta a ele. Ou seja, usa a confiança que ganhou de um deputado, para traí-lo!
Romulus Maya é, de fato, um novo Cabo Anselmo, não guiado por “organizações secretas”, mas por vaidade e impulsos psicóticos.
Wellington, permita-me criticá-lo um pouco também, conforme eu lhe avisei pessoalmente que o faria.
Eu não entendo certas coisas. Há um grau de insanidade no ar que realmente não entendo. Wellington Calasans, por exemplo, passou a divulgar, como um troféu, uma “carta do presidente Lula”, enviada a ele em algum momento de 2017. O que significa uma missiva burocrática, preparada obviamente pelo Instituto Lula para se desculpar do fato de que o presidente não poderia ir a Suécia encontrar-se com representantes sindicais?
Mesmo que fosse uma carta pessoal do presidente Lula, escrita a punho próprio, isso perdoaria a sordidez dos ataques a Paulo Pimenta?
Em seus vídeos, Wellington diz que Paulo Pimenta andou falando mal de seu programa para alguém em Brasília, e esse alguém lhe contou. O que tem isso? O que tem isso a ver? O que tem de errado em alguém falar mal de você? Isso é fofoca! Isso justifica a truculência com que o Duplo Expresso tratou o deputado? Claro que não!
Será que você não tem noção de que não é crime nenhum “falar mal” de si ou de seu programa?
O episódio é particularmente doloroso porque muita gente gostava do programa. Fomos pioneiros na produção de lives regulares na internet. Wellington Calasans estreou na blogosfera como colunista do Cafezinho, depois como âncora do programa semanal Cafeína. Em seguida criou seu programa próprio Cafezinho no WC. Aí juntou-se a Romulus e o programa foi chamado de Expresso da Manhã; em seguida, virou Duplo Expresso. As referências a café eram uma maneira óbvia de parecerem um produto do blog original, o Cafezinho.
O estrelismo então lhes subiu a cabeça. Nomes importantes aceitaram participar do programa com regularidade. O fato do programa ser hospedado no Cafezinho, certamente ajudou. Os dois, Wellington e Romulus, no entanto, tem muita disciplina e determinação, e não quero, de maneira nenhuma tirar o mérito de seu trabalho.
Mas para atuar na blogosfera é preciso, antes de tudo, ética! Não se pode posar de militante de esquerda e fazer o papelão que fizeram, tentando enlamear, sordidamente, com teorias mentirosas, a reputação dos parlamentares mais combativos da Câmara de Deputados!
Wellington e Romulus tem todo o direito de criticar a atuação desses dois deputados, mas não de caluniá-los! E, sobretudo, não venham com historietas de que defendem Lula! Se atacam a honra dos quadros mais importantes ao redor do presidente, incluindo a liderança do Partido dos Trabalhadores na Câmara, e provocam uma enorme desagregação na militância, certamente não estão contribuindo em nada para a defesa do presidente Lula! Não acredito que ajam com esse intento, mas não me surpreenderia se viessem a ser manipulados por alguma fonte, interessada justamente nesse tipo de desordem.
O pior é que muita gente acredita! O estrago foi grande! No momento que mais precisamos de harmonia, união, sangue frio, estamos aqui perdendo tempo com tolices!
Outra babaquice é agredir, como o Duplo Expresso tem feito regularmente, a blogosfera política de esquerda, só porque outros sites não reproduzem seus conteúdos e teorias. Isso é infantil. Quando as acusações sobem de tom, e chegam ao nível de bater no peito para dizer que “não tem patrocínio nenhum”, que “nossas famílias nos ajudam”, e passam a tentar ridicularizar o esforço de outros blogs para sobreviver em meio a uma conjuntura inóspita, dramática, voltamos novamente ao terreno da sordidez. Não adianta dizer que “não falou do Cafezinho”, e que “respeita Miguel do Rosário”. Atacou outros blogs, me atacou também, até porque estes outros blogs que vocês atacam já me ajudaram quando eu precisei; quando, por exemplo, fui perseguido por Ali Kamel, o chefão de jornalismo da Globo.
A blogosfera tem uma história! Estamos na luta, juntos, há mais de dez anos, contra as manipulações da mídia! Já nos basta a sordidez que vem do lado de lá!
Quanto ao documento “bombástico” por eles divulgado, o Cafezinho reproduziu e analisou, porque acompanho o trabalho deles, e sei (ou imagino, ao menos) que eles estabeleceram um contato com uma boa fonte. Fonte esta que eles conseguiram, diga-se de passagem, enquanto participavam do Cafezinho.
Entretanto, a reação deles, ao divulgar o documento, foi imatura e antiprofissional. Começaram a agir como se eles fossem o próprio Washington Post, esquecendo que parlamentares precisam checar as informações. Documentos podem ser forjados, e mesmo jornalistas experientes podem ser ludibriados. Se tinham um documento importante em mãos, sua obrigação era dar um tratamento profissional a este, e não usá-lo, como parecem ter feito, como oxigênio para encher o balão de sua própria vaidade. Você olha o documento, e tem a marca d’água Duplo Expresso repetida três mil vezes. Para que isso? O Cafezinho divulgou os documentos de sonegação da Globo, não usou nenhuma marca d’água e não fiquei me achando o jornalista do século. O Wikileaks também não pôs marca d’água em nenhum documento.
Imaginem se os documentos obtidos por Glenn Greenwald viessem todos com a marca d’água do nome dele?
Se um jornalista ou alguém que exerce o papel de jornalista tem a sorte (sempre há um fator sorte) de receber um documento importante para a causa democrática no país e no mundo, divulgue -o com profissionalismo, sem histeria, sem querer transformar isso num instrumento de poder para humilhar outros órgãos de imprensa ou parlamentares!
Eu até poderia achar que Paulo Pimenta agiu mal. Ele não parece ter entendido que o Duplo Expresso tinha se tornado um programa com ótimos índices de audiência, sobretudo entre a militância de esquerda. O site abriu o ano entrevistando a própria presidenta do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, e conquistara a confiança de intelectuais do calibre de um Samuel Pinheiro Guimarães, um Belluzzo, o professor Marcelo Neves, a professora Beatriz Vargas. Tudo isso foi conquistado, em parte, pelo prestígio que tinha o Cafezinho, onde eles faziam o programa. Mas só em parte. A maior parte de seu sucesso deve-se à determinação e profissionalismo de toda equipe de voluntários do Duplo Expresso.
Esse é o ponto mais lamentável de toda essa história, porque não tem explicação. O Duplo Expresso, tomado de uma sede de vingança absolutamente ridícula e desproporcional, jogou no lixo um enorme trabalho construído coletivamente: um trabalho nosso, do Cafezinho, que confiou em seus editores e os ajudou a ganhar visibilidade e prestígio; um trabalho de outras páginas políticas; um trabalho da abnegada equipe de voluntários do Duplo Expresso; um trabalho de todos os colunistas e entrevistados que acreditaram no programa; um trabalho de milhares de internautas que apoiaram e compartilharam o programa; e, sobretudo, o esforço dos próprios editores do site, que dedicaram muitas horas de trabalho duro para fazer um programa de qualidade.
O deputado Paulo Pimenta deveria ter sido mais sensível em relação a isso? Deveria ter percebido que militantes e representantes de seu próprio partido é que encheram a balão do site, e que, portanto, este havia se tornado um espaço importante do campo progressista? Deveria ter olhado o documento divulgado com mais atenção? Não deveria ter falado que o tal documento já constava dos arquivos da CPI? Pimenta pode ter cometido dezenas de erros, como todo ser humano os comete diariamente?
Talvez.
Mas isso não justifica, de maneira alguma, os ataques sórdidos que sofreu do Duplo Expresso.
O documento divulgado na página de Wadih Damous, mais uma das tantas provas de que a Lava Jato, ela sim (e não os deputados que lutam contra ela), deve ser alvo do repúdio de todos os democratas, pode não ser o mesmo que aquele divulgado pelo Duplo Expresso.
E daí?
Isso justifica o ataque a Damous?
Claro que não!
Dito isto, quero que fique bem claro, a todos os internautas, que o Cafezinho não tem mais nada a ver com o Duplo Expresso, cuja postura repudia veementemente.
O Brasil vive um golpe de Estado, e todas as energias devem ser direcionadas para fortalecer a resistência contra isso. Aqueles que tentam produzir cizânia no seio da militância democrática, não ajudam Lula, não ajudam o Brasil.
Ajudam o golpe.
E os que ajudam o golpe são traidores da causa democrática.
Miguel do Rosário é blogueiro político de esquerda desde 2004. Fundador do blog O Cafezinho