Os brasileiros e em especial a classe operária nacional, vem sentindo os impactos das decisões econômicas da burguesia subserviente ao imperialismo desde muito antes da atual crise deflagrada pela pandemia sanitária do coronavírus.
O equilíbrio precário obtido com a deflação inicial do Plano Real está sendo aniquilado rapidamente tendo em vista os desequilíbrios constantes da economia, a volta da inflação e o rompimento iminente de suas metas que somado ao desemprego e a industrialização em massa nos levam rumo a uma catástrofe sem precedentes.
O celebrado auxílio emergencial de R$ 600 pagos pelo governo federal na tentativa de conter a população que antes já estava na berlinda não será um algo permanente, já anunciam os burocratas.
O déficit primário no primeiro semestre teria sido de R$ 417,2 bilhões e que pode chegar até R$ 877,8 bilhões no ano, segundo uma projeção da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal.
O auxílio que tinha previsão inicial de durar três meses, já foi prorrogado à contragosto do Ministério da Economia por mais dois e pode só será ampliado até o fim do ano se tiver um valor menor, próximo dos R$ 200 iniciais que o governo queria pagar.
Fica claro que os golpistas e a burguesia nacional, na tentativa de evitar uma explosão social, fruto da acumulação da exploração de décadas, liberaram o auxílio emergencial às pressas. Uma medida desesperada da elite para não ser confrontada justamente onde ela não possui força: nas ruas.
É preciso ter consciência, no entanto, que a situação catastrófica da economia no País foi apenas adiada e está se agravando dia-após-dia. Neste momento é como se uma bomba relógio, programada, estivesse contanto os últimos segundos antes da devastação total.
Com o governo pressionado pela burguesia local e imperialista para acabar com o auxílio logo, e retomar a agenda econômica neoliberal de privatizações e destruição do Estado e de sua soberania, os elementos da convulsão social não só continuam presentes como está em franca expansão.
Em uma última tentativa de contenção, o governo ampliou esta semana em 1,15 milhão a quantidade de pessoas aptas para receber o auxílio emergencial. Chegando a 66,2 milhões de beneficiários, incluindo aí aqueles que fraudaram o programa e receberam os valores indevidamente.
O importante aqui é que o número de beneficiários é praticamente igual ao número de desempregados no Brasil. Quase metade da força de trabalho nacional. Um desastre completo.
Para fazer propagando o governo divulga que seriam ao menos 125,4 milhões de brasileiros impactados “positivamente” pela medida, mais da metade da população de 209 milhões de habitantes segundo estimativa do IBGE. Uma falácia completa.
O auxílio emergencial teria um custo mensal de R$ 50 bilhões e isso “arrebentaria o Brasil” segundo o golpista Bolsonaro. Importante lembrar que o socorro quase imediato aos maiores bancos do país e que juntos lucraram o mesmo valor em três meses esse ano, chegou à R$ 1 trilhão logo no início da pandemia.
Luana Miranda, uma pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), considera que postergar o fim do auxílio emergencial e estendê-lo ao longo de 2021 é uma faca de dois gumes para um país que possui tantas restrições fiscais. “Tem o lado do consumo, subsistência das famílias, mas tem também a situação fiscal. Se a gente não impuser uma âncora fiscal, traçar uma trajetória de equilíbrio das contas públicas, vamos desequilibrar a economia como um todo, com subida de juros, inflação descontrolada”, alerta.
E aqui a informação é poder. Ela também é uma arma da luta de classes. Nesse sentido, os trabalhadores revolucionários não podem depender da informação de órgãos burgueses como o IBGE, a FGV, FIPe ou ainda institutos pseudo-sindicais como o DIEESE ou o DIAP.
É uma necessidade que os agrupamentos de oposição ponham-se a trabalhar por um sistema de estatística e informação sindical próprio. Não se deve ofertar nenhuma confiança a estas organizações patronais que quase sempre divulgam, por exemplo, que os trabalhadores devem lutar pelo “salário do DIEESE”.
Enquanto isso o governo cria armadilhas como os saques emergenciais do FGTS e o fatídico programa de manutenção do emprego, que na prática deixarão os trabalhadores desassistidos em pouco tempo e irão corroer com direitos historicamente conquistados.
O ponto chave é e sempre será o desempenho da atividade produtiva. Com uma retração no Produto Interno Bruto (PIB) que pode se aproximar de 10% em 2020 e taxas de desemprego na casa dos 20% o capitalismo brasileiro entrará indiscutivelmente em colapso.
A classe operária, portanto, se não organizada sofrerá as consequências desta catástrofe da forma mais brutal possível: sem poder reagir a tempo. As organizações políticas e sindicais não devem se limitar a lutas economicistas neste momento. Lutas estas que servem em suma para criar uma barreira de contenção da revolta popular. Em outras palavras, são medidas que atendem apenas as necessidades imediatas dos trabalhadores e os jogam em curto espaço de tempo nas mãos da burguesia que irá explorar sua força de trabalho a um custo menor possível.