Por meio do órgão Esquerda Online, a fração psolista MES (Movimento Esquerda Socialista) publicou um editorial no último dia 18, intitulado Após a condenação histórica: os próximos passos da luta contra o fascismo, destacando – naturalmente – o resultado do julgamento no STF, que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão. Para o MES, trata-se de “não apenas um marco inédito na história do país, mas representa uma contundente vitória democrática contra o fascismo”, ainda que os únicos verdadeiramente beneficiados sejam os pais dos fascistas reais. Diz o editorialista:
“O voto decisivo de Cármen Lúcia deflagrou uma onda de celebração entre milhões de brasileiros, com as reações mais comoventes vindas de familiares de vítimas da COVID-19. Os males infligidos pelo governo Bolsonaro não foram esquecidos, e a punição restaura o sentimento de justiça. A merecida comemoração nas ruas e redes sociais revela que a resistência popular e democrática não foi em vão. Vencemos esta batalha.”
Ora, vencemos? A menos que o MES esteja se assumindo abertamente como uma organização que abandonou os princípios socialistas e revolucionários, não é possível falar em “vencemos” quando foi o STF que travou uma batalha política contra o bolsonarismo, com um resultado inclusive antecipado com muita antecedência.
O mesmo STF que orientou a Lava-Jato e por meio desta, ajudou o imperialismo a rapinar a Petrobrás, a destruir a indústria da construção civil brasileira, a derrubar o governo Dilma, prender Lula, impôs o neoliberalismo devastador dos dois anos de Temer e, para conseguir tudo isso, criou o bolsonarismo que agora persegue. Eis os protagonistas da “vitória” celebrada pelo MES.
Ainda, lembrar as “vítimas da COVID-19” é uma verdadeira canalhice, um golpe do editorial contra o leitor. Não é, finalmente, pelo genocídio que causou com sua política durante a pandemia que Bolsonaro foi condenado. O motivo concreto foi fazer reuniões e ser ligado a uma manifestação política um pouco mais radicalizada que o normal para a direita (embora nem tanto para a esquerda), ponto.
Todo o valor ou desvalor dado ao conteúdo da reunião é meramente malabarismo retórico para encobrir o fato de que a cúpula bolsonarista está sendo condenada por fazer política, algo que deveria despertar o horror da esquerda, se não estivesse a direção desse campo político dominada por uma pequena burguesia disposta a tudo por cargos. Inclusive, apoiar figuras como Alexandre de Moraes, que não faz muito tempo, caracterizavam (acertadamente) como “militante partidário que faz perseguição política à oposição” e por isso mesmo, “prejudicial à democracia”, segundo as sábias palavras da hoje ministra Gleisi Hoffmann.
O próprio editorial do EO dá pistas de que o resultado do julgamento nem por acaso foi uma vitória popular, quando lembra que “o caminho para vencer o contra-ataque do bolsonarismo é a mobilização e a luta política e ideológica pela maioria popular, e não as concessões em negociatas com a direita no Congresso”. Onde estavam “a mobilização e a luta política” durante os meses em que a esquerda era a única a chamar manifestações defendendo o fortalecimento da repressão e a prisão de Bolsonaro?
Todos que participaram dos atos, desde os primeiros ocorridos no largo São Francisco ao último, realizado na Praça da República por ocasião do Sete de Setembro, viram um espetáculo deprimente, o oposto de qualquer coisa minimamente parecida com “mobilização popular”. Sem se conter, o editorialista do EO destaca ainda que “a condenação de golpistas, pela primeira vez na história brasileira, só foi possível porque a maioria do povo enfrentou a extrema direita”. Aqui, o editorial já virou uma loucura total.
Falar isso é simplesmente apagar da história o fato de que, até o último dia 21, as manifestações da esquerda contra Bolsonaro eram mais demonstrações de raquitismo político do que de força, especialmente quando postas em contraste com as grandes marchas realizadas pela extrema direita. Antes das ONGs imperialistas como a 342 Artes entrarem em cena para convocar atos contra a extrema direita, o que estava acontecendo nas ruas do País era o exato oposto do que apregoa o órgão do MES.
Eis outro fenômeno a ser considerado antes que a esquerda se deixe levar pela loucura e passe a querer tomar como sua uma vitória que pertence aos piores algozes do povo. Nem Alexandre de Moraes é Lênin e nem o STF é um soviete. Ambos são instrumentos da ditadura imperialista contra o País e esse, sim, é o setor que obteve uma importante vitória com a condenação de Bolsonaro, o que deixa o caminho livre para o “plano T”, o verdadeiro objetivo de toda a operação: tirar Bolsonaro de cena, colocar um Milei brasileiro para unificar a direita, disputar com um Lula enfraquecido e assim, implementar no País o programa que está levando argentinos ao desespero.
Pode ser uma vitória para o MES, mas definitivamente não é para os trabalhadores e estudantes brasileiros, que devem estar atento aos golpes do imperialismo, que nesse momento, precisa da base da esquerda para derrotar a extrema direita, mas em breve não precisará mais. Nessa hora, a conta chegará e o que a esquerda pequeno-burguesa hoje chama de vitória, se revelará uma dura derrota para todo o povo brasileiro.




