O sítio russo RT repercutiu uma reportagem publicada pelo sítio Wikileaks, citando diversas fontes demonstrando que os Estados Unidos e países da Europa estavam, muito tempo antes de o conflito estourar entre russos e ucranianos, sabendo das consequências caso fosse levado adiante à iniciativa de colocar Ucrânia na OTAN.
A matéria da imprensa russa deixa claro que Moscou alertou explicitamente os diplomatas americanos sobre os riscos de conflitos violentos na Ucrânia e instabilidade para toda a região ligada à integração cada vez mais profunda de Quieve no bloco liderado pelos EUA. O imperialismo sabia que tal política poderia levar à guerra. Somente a Alemanha se opôs abertamente à ideia, nos anos 2000.
Os documentos analisados pelo Wikileaks apontam que os EUA receberam os primeiros alertas, sobre os riscos associados às ambições da Ucrânia na OTAN, da França. O relatório foi fornecido por Magnus von Wangenheim, um médico alemão que passou “anos lidando com as publicações do WikiLeaks e o tratamento dado ao seu fundador Julian Assange”, segundo a AcTVism, uma ONG alemã para a qual ele produz reportagens em vídeo.
“Se restasse uma causa potencial para guerra na Europa, era a Ucrânia”, disse o documento (um telegrama diplomático de 2005), citando o Conselheiro Diplomático Presidencial Francês Maurice Gourdault-Montagne. O diplomata alertou que os russos já acreditavam que imperialismo estava “fazendo demais” na “zona central de interesse” da Rússia e alertou que tais ações poderiam eventualmente levar a uma resposta enérgica.
O secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos Daniel Fried, e várias autoridades francesas de alto escalão afirma que a França estava preocupada com a situação. Fried admitiu naquela época que não havia consenso nacional sobre a filiação à OTAN na própria Ucrânia, segundo o mesmo telegrama. Ele ainda rejeitou preocupações sobre a possível resposta militar de Moscou e uma potencial divisão violenta dentro da Ucrânia sobre o assunto.
Em fevereiro de 2008, os russos alertaram os norte-americanos, de acordo com um telegrama diplomático do então embaixador dos EUA na Rússia William Burns, que a adesão ao bloco liderado pelos EUA poderia dividir a Ucrânia “em duas, levando à violência… guerra civil”, diz o documento revelado, acrescentando que tais acontecimentos poderiam forçar Moscou a intervir e tomar uma decisão que “não quer tomar”, disse o diplomata, citando a posição da Rússia.
Segundo a RT, o próprio Burns descreveu a oposição de Moscou à proposta ucraniana de ingressar na OTAN como “concreta”, acrescentando que isso gera “sérias preocupações sobre as consequências para a estabilidade na região”, bem como sobre a segurança da Rússia devido ao “cerco” pelo bloco liderado pelos EUA. “O Ministro das Relações Exteriores [Sergey] Lavrov e outras autoridades reiteraram forte oposição, enfatizando que a Rússia veria uma maior expansão para o leste como uma potencial ameaça militar”, escreveu o embaixador na época.
Em junho de 2008, autoridades do governo alemão se opuseram à ideia dos EUA de fornecer aos ucranianos um plano de ação para a ingresso na OTAN, argumentando que a adesão ao bloco liderado pelos EUA “poderia dividir o país se fosse levada adiante muito rapidamente”, de acordo com outro documento citado pelo WikiLeaks.
Um documento diplomático dos EUA datado do mesmo mês declarou que o governo da então chanceler alemã Angela Merkel tinha “reservas genuínas” sobre a candidatura da Ucrânia à aliança militar imperialista e acreditava que a pressão norte-americana sobre a questão “não era baseada em méritos”, mas estava ligada a alguns objetivos políticos específicos dos EUA. “Merkel demonstrou que está pronta para suportar uma pressão considerável” no que diz respeito às ambições de ucranianas na OTAN, afirma o documento.
Os documentos utilizados pelo Wikileaks sugerem que mesmo com as preocupações de vários países – especialmente a Alemanha – e lideranças, os diplomatas dos EUA insistiram em buscar a adesão ucraniana. Um documento de 2008 detalhando uma reunião entre autoridades norte-americanas e alemãs declarou que os EUA deveria tentar convencer Merkel a mudar sua posição sobre a questão antes do final daquele ano.
O então embaixador dos EUA em Moscou John Beyrle, declarou em um telegrama de 2009 que a maior potência imperialista deveria “buscar a integração ocidental e a ampliação da OTAN deliberadamente, mas silenciosamente” no caso da Ucrânia. O país poderia “concordar em discordar firmemente” com a Rússia sobre a questão enquanto “continuamos nossos esforços para promover a integração da Ucrânia com o Ocidente”.
Conselheiro sênior do presidente dos EUA, Donald Trump, Steve Witkoff disse a CNN nesta terça-feira (25), que o conflito na Ucrânia foi “provocado”, sendo errado culpar somente a Rússia. A situação não é preto no branco, com os russos sendo “os bandidos”, disse Witkoff a Jake Tapper, da CNN.
“A guerra não precisava acontecer, ela foi provocada”, ele acrescentou. “Não significa necessariamente que ela foi provocada pelos russos.” De acordo com Witkoff, “houve todo tipo de conversas… sobre a Ucrânia se juntar à OTAN” antes do conflito, que foram tratadas pelo gigante eslavo como uma ameaça direta à sua segurança e a levaram a responder.
A denúncia revela que os EUA sabiam exatamente que a investida contra a Rússia resultaria em um desastre. Mesmo assim, o imperialismo usou a Ucrânia e seu povo como bucha de canhão.
Era obvio que a Ucrânia não tinha condições de vencer a guerra. Toda a questão também mostra os objetivos norte-americanos: desgastar o governo russo. Agora Trump destaca seu interesse em minérios raros e riquezas minerais do país, cobrando a fatura de guerra perdida.