Na quinta-feira (30), foi realizada a quarta aula da Universidade de Férias diretamente de Araçoiaba da Serra (SP), onde está acontecendo o curso. Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), ministrou a aula que deu prosseguimento aos temas do dia anterior. Ele tratou do efeito das grandes revoluções na conjuntura política mundial, principalmente Argélia e de Portugal. Na segunda metade da aula Pimenta fez uma grande explicação sobre a crise da burocracia stalinista no Leste Europeu.
A aula começou tocando na questão argelina: “a recuperação [capitalista de 1948-1958] não conseguiu interromper completamente as revoluções. Tivemos em 1954 a Revolução Argelina. A Argélia, depois do Egito, é o país mais importante do norte da África e principal colônia da França. Houve uma revolução sob a direção da Frente de Libertação Nacional da Argélia e uma guerra com os franceses que levou a 1 milhão de mortos, onde os argelinos vão sair vitoriosos. Esse acontecimento é o dobre de finados do colonialismo direto”.
Ele explica que: “após a derrota na Argélia os franceses chamam as suas colônias e negociam a descolonização. Quem faz isso é o próprio general De Gaulle. Isso causa uma crise enorme no imperialismo francês, há tentativas de golpe de Estado, de assassinado do De Gaulle. Os militares direitistas criaram na França uma organização que fez quatro atentados contra o De Gaulle. Mas o imperialismo percebeu que não conseguiria manter a colonização direta”.
A Revolução Argelina, portanto, teve um impacto gigantesco na política internacional. E ela abriu margem para outro grande fenômeno. Em 1959 a Revolução Cubana marcou a chegada da revolução socialista vitoriosa nos domínios do principal país imperialista, os EUA. Foi a América Latina dando sua primeira grande manifestação revolucionária. Daí em diante a crise imperialista cresceria até seu grande abalo, em 1974.
Pimenta explicou como a Revolução dos Cravos (1974) foi um gigantesco desafio para ser derrotado. O imperialismo teve de utilizar o golpe da “democracia” e isso abriu uma nova etapa. Ele destaca que “o imperialismo colocou em marcha o plano de retirar as ditaduras através de transições democráticas. Foram até a Espanha, vizinha de Portugal, para fazer isso. A ideia é manter os capitalistas, as pessoas que colaboraram com a ditadura, fazer eleições e manter tudo igual. Esse é o famoso Pacto de La Moncloa. Ele serviu como modelo para acabar com as ditaduras no mundo inteiro”. Assim começou a etapa do neoliberalismo e da transição democrática.
O imperialismo derrotado
Pimenta então comentou sobre a importância das derrotas militares do imperialismo. A mais lembrada é a do Vietnã, mas a do Iraque, após o ataque de 2003, foi também muito importante. Ele comenta: “o imperialismo não pode ter derrotas militares. Elas indicam a incapacidade do imperialismo de dominar. Mesmo que ele seja um regime de corrupção dos governos a tendência a se rebelar é muito grande. Como se controla a rebelião? As forças armadas. Em última instância é a ameaça militar que define tudo. Quando os EUA são derrotados no Vietnã é gigantesca. A derrota no Iraque é a segunda grande derrota dos EUA. A partir de 2008 o enfraquecimento do imperialismo é muito grande. Os países que tinham sido duramente golpeados pela política neoliberal começaram a levantar a cabeça. Os russos, a China, Irã”.
O presidente do PCO comenta então um dos pontos mais importantes: “o fato do imperialismo ser ativo dá às pessoas a ideia de que ele está vencendo. Mas isso é uma impressão, não é um fato. Uma análise mais cuidadosa mostra que ele está perdendo. A derrota no Iraque foi o povo iraquiano, a derrota no Afeganistão foi o Talibã. É uma crise que o imperialismo simplesmente não consegue conter”.
Ele então explicou que nem as frentes populares e nem o fascismo, as duas armas do imperialismo, estão funcionando. O recurso das frentes populares está muito desgastado. O imperialismo aliciou toda a esquerda mundial nessas décadas de democracia, a OLP, Congresso Nacional Africano do Mandela, dentre outros. Ao mesmo tempo, a extrema direita também é fraca, ela aparece de uma forma moderada, não consegue se chocar com o movimento operário como na década de 1930.
E então conclui o primeiro bloco: “a política revolucionária tem que se apoiar na plena consciência das tendências revolucionárias do mundo presente. Não podemos ter no nosso Partido pessoas que tenham uma visão negativa do desenvolvimento da situação política”.
A crise do bloco comunista
No segundo bloco, Rui Costa Pimenta demonstra como a crise do capitalismo mundial também afeta o bloco de países do Leste Europeu, que eram controlados pela burocracia da União Soviética. Ele explica que “o acordo de Stalin era manter os países do leste europeu no capitalismo. Os Partidos Comunistas eram fortes e os detritos da burguesia que haviam sobrado após a guerra entraram no governo para agradar o imperialismo. Se isso tivesse demorado muito a burguesia seria restaurada e eventualmente tomaria o poder. Essa era a política universal de Stalin, restabelecer a burguesia no poder, democracia com a participação dos Partidos Comunistas. Eles elaboram a teoria de que a democracia é a transição para o socialismo e o imperialismo havia se transformado em democrático”.
E continua: “é depois da II Guerra Mundial que se consolida a teoria da revolução por etapas. O stalinismo, como força contra revolucionária, usa essa teoria para impedir a revolução no mundo inteiro. Por quê? Em todos os lugares a classe operária deve ficar a reboque da burguesia. Às vezes ela é nacionalista, às vezes pró-imperialista. Os militantes dos Partidos Comunistas eram ensinados que não era preciso tomar o poder, a burguesia deveria tomar o poder. A teoria da revolução por etapas tirou do cenário completamente a ideia de revolução socialista. Ela foi aplicada amplamente”.
Depois foram explicadas todas as revoluções do leste europeu. Em 1953, os operários de Berlim oriental entram em greve, essa greve se espalhou para o lado ocidental, ela foi massacrada pelo stalinismo. Já em 1956 começa uma revolução na Hungria. As tropas russas foram novamente obrigadas a entrar em ação. Isso botou abaixo o regime burocrático no país. Pimenta destaca que “em 8 anos, desde 1948, a situação está totalmente comprometida. As tendências da classe operária se voltarem contra a burocracia é muito grande. Em todo o leste europeu existe essa tendência”.
No ano de 1968 há mobilização nos Estados Unidos, na Itália, na Alemanha, na França e no leste europeu. O movimento mais forte foi Tchecoslováquia, lá as massas querem modificar o regime político mantendo o Partido Comunista no poder. Os russos derrubam o governo e invadem o país. A desmoralização da URSS é gigantesca. Os Partidos Comunistas perderam uma quantidade enorme de pessoas em consequência da desilusão com o stalinismo.
Então chega o ápice da crise do stalinismo. Rui explica: “a situação explode na Polônia. Os trabalhadores poloneses entram em greve e criam pela primeira vez no bloco soviético um sindicato que não é atrelado ao governo. Era um movimento operário gigantesco. A Polônia tinha fábricas colossais, com 50 mil trabalhadores. As greves se dão nessas grandes fábricas. É um movimento revolucionário da classe operária polonesa. A burocracia fica suspensa no ar. Ela cede para o sindicato Solidariedade numa série de aspectos. O Solidariedade se transformou num governo paralelo, numa organização de tipo soviético. Em determinado momento eles para de reivindicar do governo e tomam decisões. Em determinado momento eles reduzem a jornada de trabalho por conta própria”.
E coloca a conclusão política: “a burocracia acabou nesse momento. Ela é a burocracia operária, ela só existe se controlar a classe operária. Se a classe operária está contra ela não há mais o que fazer. A burocracia do Estado operário deu um golpe contra a classe operária e chegaram à conclusão de que era preciso ir para o capitalismo. Essa análise é muito importante pois mostra o porquê da queda da URSS”.