O artigo de Maria Luiza Falcão Silva, publicado pelo Brasil 247 e intitulado Chile nas urnas: quando o medo substitui a esperança, é uma pseudo-análise que serve apenas para mascarar a responsabilidade da esquerda pequeno-burguesa pelo triunfo da extrema direita de José Antonio Kast. Falcão Silva insiste em culpar o “medo”, a “frustração” e a “resistência das elites” pelo esgotamento do projeto de mudança. Esta tese é uma falsificação conveniente.
A ascensão de Kast não é o resultado de um vazio moral, mas sim a sentença que o povo passou ao governo de Gabriel Boric, um governo que, desde o seu nascimento, foi um projeto de capitulação e um desastre político imposto pela burguesia e pelas direções traidoras da frente ampla.
A autora chega ao ridículo de afirmar que a eleição de Boric, em 2021, foi o “ponto alto de um ciclo iniciado com as grandes mobilizações sociais de 2019”. Esta afirmação inverte a realidade.
As mobilizações que levaram milhões às ruas — o Estallido Social — foram um movimento de caráter insurrecional que visava a derrubada imediata do governo de Sebastián Piñera e o desmantelamento total do legado de Augusto Pinochet. A vontade popular era por uma ruptura total. Foram as direções da esquerda tradicional e o setor da frente ampla que, com Boric à frente, agiram como agentes de contenção do movimento.
Eles traíram a revolta social ao firmar o Acordo pela Paz e a Nova Constituição. Este acordo foi o mecanismo político para manter Piñera no poder, desviar a mobilização da luta de classes para os caminhos mortos do reformismo eleitoral e salvar o regime pinochetista. Boric não era um líder da mobilização; ele foi o candidato imposto pela burguesia e suas direções aliadas através de uma complexa operação no interior da frente ampla para desmoralizar a luta dos chilenos. Seu governo, portanto, não é o “ponto alto”, mas o ponto baixo, o ponto que marca a derrota da mobilização.
Ao invés de romper com a ordem neoliberal, o governo Boric se instalou como um gestor da política neoliberal, adotando políticas neoliberais e pró-imperialistas que apenas aprofundaram a frustração popular. Boric não tocou nos pilares do modelo herdado de Pinochet, como o sistema de pensões e as privatizações chave. Seu programa de reformas sociais foi tímido e constantemente vetado pelas restrições fiscais e pela pressão do capital financeiro, que ele se recusou a enfrentar. O governo Boric não conseguiu (e nem quis) traduzir a “esperança” à qual a autora se refere em resultados materiais para a vida cotidiana do povo.
Longe de ser um governo de esquerda combativo, Boric manteve uma postura dócil e submissa ao imperialismo norte-americano, favorecendo o cerco à Venezuela.
Falcão Silva usa o “medo”, a “imigração” e a “percepção de deterioração da segurança pública” como o eixo central para explicar o avanço de Kast. Mas o fato é que Kast não vence porque a imprensa criou um “inimigo interno”. Kast venceu porque o governo que a esquerda defendia fracassou completamente.




