O artigo Em defesa da Nação: os símbolos nacionais e uma polêmica na esquerda, publicado no sítio Esquerda Online neste 1º de agosto, sexta-feira, tenta ressuscitar o já velho “debate” do uso do verde-amarelo pela esquerda. Basta lembrar que para a convocação de um ato em julho de 2021, PSOL, PCB, UP e PCdoB já falavam em unidade em torno da bandeira do Brasil.
No início do texto está escrito que “sexta feira, 01, estava anunciado o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil”, e que “uma polêmica surgiu nas redes sociais nos últimos dias sobre o uso e validade dos símbolos nacionais por parte da esquerda brasileira”.
“Essa polêmica, diante da urgência da conjuntura, seria insignificante. E em certo sentido ela é. É algo marginal, que não ultrapassa o pequeno círculo da esquerda organizada. Porém, ela é interessante, já que expõe uma certa forma de pensar e agir desses polemistas.” [grifo nosso].
Chama a atenção que o articulista lance mão do artifício da “urgência da conjuntura”. Trata-se de um truque; pois, como é sabido que, diante de determinadas situações, algumas divergências devem ser postas de lado. Por exemplo, diante do genocídio do povo palestino, em vez de apoiar a Resistência, muitos setores da esquerda utilizam questões religiosas, ou a “opressão da mulher” como obstáculo. Isso enquanto os sionistas trucidam dezenas de milhares de mulheres na Faixa de Gaza.
Em 2021, a “conjuntura” era o “sequestro” da bandeira nacional pela extrema direita. Desta vez, é o tarifaço de Donald Trump.
As tarifas em si representam pouco, inúmeros produtos foram retirados da lista, trata-se de disputa comercial até certo ponto comum. No entanto, o que precisa ser de fato criticado é o presidente americano tentar determinar como deve ser feita a política no Brasil, e não aceitamos ingerência de nenhum país estrangeiro em assuntos internos.
Segundo o autor do texto, “os polemistas resgatam as origens das cores da bandeira nacional, dizem que essa e nem o verde-amarelo têm lugar junto de uma ‘esquerda de verdade’, e não deveriam estar no ato”. Pode-se concordar com essa afirmação, pois a cor tradicionais da esquerda sempre foi o vermelho.
Parte da esquerda pequeno-burguesa é refratária ao uso do vermelho, ainda que não confesse. Alguns setores pressionaram até conseguir que arredondassem as pontas da estrela do PT, para parecer “menos agressiva”.
Lembrando o que ocorreu em 2013, a direita se infiltrou nas manifestações com a palavra de ordem de que as nossas cores eram o verde e o amarelo, não o vermelho. Mandaram que se abaixassem as bandeiras, pois a nossa bandeira era a do Brasil. A esquerda pequeno-burguesa obedeceu e o movimento foi sequestrado. O verde-amarelo tornou-se oficial no bolsonarismo, como sempre foi, aliás, da burguesia mais reacionária.
Em 2021, a Revista Veja e a Folha de São Paulo fizeram uma campanha para que manifestantes de esquerda deixassem suas bandeiras vermelhas em casa em favor da bandeira brasileira. Houve atos em que se distribuía gratuitamente bandeiras do Brasil.
Desde 2013 se vê setores da esquerda fazendo campanha para a “retomada” das nossas cores, que teriam sido roubadas pela extrema direita. É curioso, pois os principais movimentos e lutas da classe trabalhadora sempre foram predominantemente vermelhos, nunca houve necessidade do verde-amarelo. E não se trata de “necessidade visceral de diferenciação para uma autoafirmação”.
Para o articulista “no Brasil, no dia 01 de agosto de 2025, a luta de classes se apresenta no cenário: Nação x imperialismo. Ou se está na defesa da Nação, ou se está apoiando o ataque estrangeiro. Não existe meio termo. É um governo de frente ampla, porém encabeçado pela principal figura da esquerda do país, que lidera a defesa da Nação.
O tarifaço de Trump não é ato imperialista, mas guerra comercial, ele mesmo não é representante direto do imperialismo, mas do grande capital doméstico americano. Também não está em questão isso de ‘ou se defende a nação, ou o imperialismo’, exceto na tentativa de ingerência política, que não deve ser tolerada.
Em 2016 tivemos ingerência política imperialista no Brasil. Derrubaram uma presidenta eleita democraticamente. E, para piorar, o golpe foi apoiado por parte da esquerda. Essa mesma esquerda que hoje trata os golpistas, que agiram sob ordens do imperialismo contra nossa soberania, como heróis da democracia.
O articulista diz ainda que “neste momento devemos cerrar fileiras com o Presidente Lula contra o Imperialismo. Inclusive em unidade de ação com setores burgueses que não estão no governo, como segmentos da mídia, da Fiesp, de representantes do agronegócio, desde que esses setores se coloquem na defesa da soberania nacional, ou seja, contra o tarifaço, contra a interferência no julgamento de Jair Bolsonaro”.
É preciso acender uma luz de alerta sobre o parágrafo acima porque essa é uma política recorrente desse setor da esquerda, que em 2020 propôs cerrar fileiras com setores burgueses do “campo democrático” para lutar contra o fascismo.
Valerio Arcary, um dos mentores intelectuais do Esquerda Online, além de suas críticas a Trótski, escreveu que a esquerda deve se colocar no campo das “democracias liberais” (imperialismo) na luta da democracia contra o fascismo. Mas essa luta não existe, pois ambos são faces de uma mesma cabeça.
Em artigo recente, Arcary escreveu que “a ‘régua’ para definir quem é e quem não é revolucionário não existe”. Ou seja, pode ser qualquer um que se “identifique” como revolucionário, evidenciando que se trata de uma degeneração política.
A partir de certo ponto, o articulista passa fazer uma verdadeira elegia do verde-amarelo. Diz, por exemplo, que “por mais que não se goste da bandeira nacional, que se ache suas cores bregas e se saiba que sua origem representa casas imperiais, é impossível dizer que hoje, 200 anos depois da independência, ela não representa o povo brasileiro. Ela se tornou para a população um símbolo, algo que remete ao país, assim como o verde e o amarelo se tornaram juntos sinônimo de Brasil. O surgimento do Brazil Core não me deixa mentir. São essas cores que aparecem em momentos festivos como São João, Copa do Mundo e Olimpíadas”.
Deixando de lado esses arroubos caricatos. O que se esconde atrás da defesa do verde-amarelo é o abandono cada vez mais acentuado do vermelho, da esquerda e seus símbolos.
O Esquerda Online está passando de armas e bagagens para o lado do liberalismo, por isso volta com essa campanha direitista. E, como este Diário já escreveu em outra oportunidade:
“O uso do verde e amarelo é uma política da direita, e não da esquerda. Nunca foi da esquerda e é bastante claro, graças ao bolsonarismo, que é uma política dos inimigos do povo. Porque, finalmente, é uma política de quem não tem política. O programa da esquerda é claro: o vermelho é a esquerda, que defende os oprimidos, que defende os trabalhadores. Que é historicamente contra as privatizações, contra a política neoliberal, a favor da atividade sindical, das greves, das ocupações etc. E o que o verde e amarelo significa? Nada! E por que seria importante trocar a bandeira vermelha pela verde e amarela? Ora, porque, para a burguesia, isso significa substituir o programa da esquerda por qualquer coisa. E essa “qualquer coisa” é sempre o exato oposto do que o povo quer”.




