Uma grande marcha noturna tomou as ruas de Caracas nesta segunda-feira (15), reunindo venezuelanos contra o roubo de petróleo do país no Mar do Caribe, após o roubo ilegal de um navio petroleiro por parte dos Estados Unidos. O ato também marcou os 26 anos da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, aprovada em 1999, e ocorreu em meio ao aumento da agressão por parte do governo Donald Trump contra o país.
A mobilização, apresentada como “Gran Marcha por la Unidad Popular, la Transición al Socialismo y la Defensa de Nuestra Soberanía”, teve caráter nacional: autoridades locais informaram que houve mais de 300 marchas noturnas em diferentes estados. O prefeito do município Independencia, no estado Miranda, Rayner Pulido, afirmou que as manifestações ocorreram em “um ambiente pacífico e de festejo”, ressaltando a presença do povo organizado e o apoio ao presidente eleito Nicolás Maduro.
Segundo Pulido, a quantidade de mobilizações expressa, “em cada território do país”, a disposição de defender a soberania nacional e “garantir a tranquilidade” diante de qualquer situação. Nos atos, também foi lembrado o primeiro ano de vigência da Lei Orgânica da Justiça de Paz Comunal, descrita como instrumento para ampliar a participação direta das comunidades e reduzir o papel de funcionários intermediários entre decisões locais e a execução de obras, com deliberações feitas em assembleias.
As marchas contaram ainda com a participação de índios, que reiteraram o repúdio às agressões e ameaças do imperialismo norte-americano. Organizadores e participantes também destacaram que a Constituição de 1999 teria representado o primeiro processo constituinte com voto popular na história do país e que, passadas décadas, continua sendo apontada como referência de participação popular. Na celebração, foi mencionado que os princípios constitucionais orientam o plano das “Sete Transformações”, apresentado pelo governo como parte de uma política econômica que teria levado a Venezuela ao seu melhor momento desde o início da Revolução Bolivariana, apesar das sanções norte-americanas.
Acusações de narcotráfico e a ofensiva norte-americana
Maduro abordou a ofensiva norte-americana no programa Con Maduro Más (edição nº 99), ao condenar declarações da fascista María Corina Machado, que afirmou que “60 por cento da população venezuelana está metida em narcotráfico”. O presidente classificou a acusação como parte de uma campanha para justificar uma intervenção armada norte-americana. Citando dados atribuídos ao instituto DataViva, Maduro afirmou que 89% dos venezuelanos rejeitam Machado, apontando as mais de 300 marchas noturnas como expressão desse repúdio.
No mesmo programa, Maduro declarou: “dizem que tem uma vértebra quebrada; o que tem quebrado é o cérebro e a alma […] Odeia a Venezuela. Manipula os quatro seguidores que lhe restam. Eu, em geral, não dou atenção ao que ela faz, porque está louca, demente de ódio”.
Ato de pirataria e tripulação desaparecida
Maduro voltou a denunciar a intervenção dos Estados Unidos sobre um navio privado que transportava uma carga de petróleo venezuelano, classificando o caso como “ato de pirataria” e violação do Direito Internacional. O presidente afirmou que a medida não atinge apenas a Venezuela, mas também o princípio de livre comércio e o próprio direito internacional, ao abrir precedente para ações desse tipo sem resposta de organismos internacionais.
O presidente cobrou esclarecimentos sobre o paradeiro da tripulação, cujo destino, segundo ele, continua desconhecido: “passaram cinco dias desde o sequestro da tripulação a bordo do navio petroleiro e ainda se desconhece o paradeiro da tripulação”. Em seguida, questionou: “onde está a Corte Penal Internacional, onde está escondido Volker Türk, o Alto Comissariado de Direitos Humanos, o que estão fazendo contra este ato de pirataria (…) e, ainda, cinco dias depois, a tripulação está desaparecida?”.
Ainda de acordo com Maduro, “ninguém tem patente de corso e a Venezuela se fará respeitar”, ao agradecer a resposta popular contra a “ingerência norte-americana” e o respaldo da República Islâmica do Irã. O presidente também disse que “amigos da carta da ONU” teriam condenado publicamente o roubo do petróleo e alegou existir apoio internacional, inclusive “da opinião pública norte-americana”, contra a ação.
EUA assassinam oito no Pacífico
Também nesta segunda-feira (15), os Estados Unidos realizaram um ataque contra três embarcações no Oceano Pacífico, próximo à costa da América Latina, que assassinou oito homens. Em comunicado divulgado na rede X, o Exército dos EUA alegou que “a inteligência confirmou” que as embarcações transitavam por rotas conhecidas de narcotráfico no Pacífico Oriental e estariam envolvidas em atividades de tráfico de drogas. O comando militar declarou ainda que o ataque foi determinado pelo secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth.
Venezuela corta negociações de gás com Trinidade e Tobago
Como desdobramento direto do episódio no Caribe, o governo venezuelano anunciou, em comunicado datado de Caracas em 15 de dezembro de 2025, a extinção imediata de qualquer contrato, acordo ou negociação para fornecimento de gás natural a Trinidade e Tobago. A decisão foi justificada pela denúncia de “cumplicidade direta” do governo trinitense no roubo de petróleo venezuelano.
O documento denuncia que a primeira-ministra Kamla Persad-Bissessar mantém uma política hostil contra a Venezuela, incluindo a instalação de radares militares norte-americanos em território trinitense, com o objetivo de cercar e interceptar embarcações que transportem petróleo venezuelano. O governo venezuelano afirmou que essas medidas teriam transformado Trinidade e Tobago em uma plataforma militar avançada dos Estados Unidos no Caribe.
O presidente Nicolás Maduro, segundo o comunicado, lembrou que a Venezuela já havia denunciado previamente o Acordo Marco de Cooperação Energética bilateral e que o novo episódio representaria um ponto de ruptura. “Hoje, diante deste gravíssimo fato que pretende roubar vulgarmente o petróleo da Venezuela”, diz o texto, o governo decidiu cortar imediatamente toda relação contratual ligada ao fornecimento de gás natural ao país vizinho. O documento termina com a afirmação: “Venezuela se respeita!”, enquadrando a medida como parte de uma política de defesa da soberania e do controle sobre recursos estratégicos.





