Apresentamos neste Diário o comunicado da comunidade Guarani-caiouá da Terra Indigena Guyra Roka:
“Diante das recentes declarações do governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, sobre os acontecimentos envolvendo territórios indígenas no município de Caarapó, a Aldeia Guyra Roka vem a público reafirmar que os povos indígenas sempre foram os verdadeiros donos destas terras.
Muito antes da colonização e da formação do Estado brasileiro, esses territórios já eram habitados, cuidados e protegidos por nossos ancestrais. A história — registrada em teses, dissertações e na própria memória ancestral de nossos povos — comprova que o que hoje se chama “propriedade rural” foi, um dia, terra indígena tradicional, onde nossos povos viveram em harmonia com a natureza, cultivando vida, espiritualidade e sabedoria.
Não se trata, portanto, de “invasão”, mas de retomada — um ato legítimo de resistência, memória e justiça. A retomada é o grito de um povo que há séculos luta para existir em paz, para viver na terra de onde nunca deveria ter sido arrancado.
Como dizia Marçal de Souza Tupã’i, mártir da luta Guarani e Kaiowá:
“Ninguém pode vender a terra, porque a terra não é nossa. A terra é de Deus e nós pertencemos a ela.”
Essas palavras continuam ecoando, lembrando que nossa relação com a terra é espiritual, ancestral e coletiva — não mercantil. É ela quem nos alimenta, nos dá força e nos liga aos nossos antepassados.
Ao criminalizar as retomadas, o Estado desrespeita não apenas os direitos constitucionais dos povos originários, mas também a memória de lideranças como Marçal Tupã’i, que dedicou a vida à defesa da verdade e da dignidade indígena.
“O que queremos é apenas um pedaço de chão para plantar e criar nossos filhos em paz.”
Essas palavras simples e sinceras continuam sendo o clamor de nossas aldeias.
Reafirmamos que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 231, reconhece o direito originário dos povos indígenas às terras que tradicionalmente ocupam. Exigimos que esse direito seja respeitado, e que o governo estadual adote o caminho do diálogo verdadeiro, da escuta e da reparação histórica.
A verdadeira paz no campo não se alcança com repressão, mas com justiça e reconhecimento.
Como ensinou Marçal Tupã’i: “Enquanto houver um índio lutando pela sua terra, o Brasil ainda tem esperança.”
Por isso, seguimos firmes, com fé e coragem, honrando o sangue e a palavra dos que vieram antes de nós. Nossa luta é pela vida, pela cultura e pela dignidade dos povos indígenas.A terra é nossa mãe, e dela jamais abriremos mão.
Aldeia Guyra Roka – Caarapó/MS
Outubro de 2025Kunha vera nde ju’i”




