O presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, concedeu entrevista no dia 5 de dezembro ao programa 20 Minutos, apresentado por Breno Altman no canal do Opera Mundi no YouTube. Durante quase duas horas, o dirigente trotskista tratou de temas como a morte de sua filha, Natália Pimenta, a atuação do governo Lula, a ofensiva imperialista no Oriente Médio, a situação internacional e a crise permanente do regime político brasileiro.
O caso de Natália Pimenta
Pimenta iniciou a entrevista relatando em detalhes a trajetória que levou ao falecimento de sua filha Natália. Ele descreveu a situação como “uma coisa kafkiana”, marcada por uma sucessão interminável de obstáculos burocráticos. Apesar de ter obtido decisões judiciais e recursos para o tratamento, o Ministério da Saúde não executou as determinações.
“Nós conversamos no Ministério da Saúde, o pedido ia para lá, voltava… Quando você pensava que ia sair, alguém falava que precisava de não sei o quê”, afirmou. Em outro trecho, completou: “aí nós entramos num livro do Kafka, O Processo”.
Segundo o dirigente, não se tratou apenas de ineficiência administrativa, mas da ação organizada de interesses privados. “Existe um lobby para barrar esses remédios caros. É um lobby dos bancos, das companhias de seguro saúde”, denunciou.
Pimenta destacou a responsabilidade política dos gestores públicos. “Se você é ministro da saúde como Padilha, você tem obrigação de atender essas coisas. A omissão dele torna ele responsável pela situação”. Ele caracterizou a conduta do Estado como criminosa:
“Você negar o respirador para a pessoa que está sufocando é uma coisa criminosa. Foi condenar à morte. Foi o que aconteceu aqui”.
Lula, Venezuela e a política externa brasileira
Ao tratar da política internacional, Rui Costa Pimenta criticou duramente a política do governo brasileiro em relação à Venezuela. Para ele, ao tentar se colocar como árbitro entre Caracas e Washington, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou servindo às pressões do imperialismo norte-americano.
“O Lula se meteu numa política equivocada… Ele tentou se colocar na posição de árbitro e caiu numa armadilha que ele mesmo plantou”, avaliou. O dirigente enfatizou que, diante da ofensiva dos EUA, somente o governo venezuelano tem capacidade de resistir: “quem vai lutar contra o imperialismo? Tem que ser o Maduro, tem que ser o regime político”.
Palestina: vitória da resistência e lições do Hamas
Pimenta também analisou o cessar-fogo em Gaza e a ofensiva permanente do regime sionista. Para ele, a situação recente demonstra uma vitória tática da resistência palestina.
“Eu acho que a situação é positiva… Eu fico surpreso de ver como a direção do Hamas é política. Tem muito marxista que tem que aprender alguma coisa com esses islâmicos”, declarou.
Irã como força revolucionária
O presidente do PCO foi taxativo ao defender o caráter progressivo do governo iraniano no cenário mundial:
“O Irã é o governo mais revolucionário que tem no mundo hoje.”
Pimenta rejeitou críticas moralistas oriundas da esquerda pequeno-burguesa acerca de costumes no país.
“Aí a pessoa fala: ‘mas os aiatolás querem que a mulher use véu’. Bobagem. Isso é perfumaria. Isso não é política.”
Rússia, Ucrânia e a farsa do imperialismo
Sobre a guerra na Ucrânia, Pimenta reiterou que não há qualquer base para caracterizar a Rússia como potência imperialista.
“Invasão de país não é imperialismo… A Rússia é um país exportador de matéria-prima. Isso não pode ser considerado imperialismo.”
Ele afirmou que avanços territoriais russos seriam positivos:
“Se o Putin anexar a cidade de Odessa, isso seria uma coisa positiva.”
Donald Trump e o declínio do intervencionismo norte-americano
Pimenta avaliou que a política externa de Donald Trump expressa tendências isolacionistas da burguesia norte-americana e pode reduzir o alcance militar dos EUA.
“Para o Trump… essas guerras são muito negativas. Ele quer reduzir o gasto estatal norte-americano.”
Governo Lula 3: ‘política neoliberal light’
No plano nacional, Pimenta caracterizou o governo Lula como fraco e submetido a uma orientação de conciliação com setores burgueses.
“Ele levou adiante uma política neoliberal light… O governo é fraco, ele não é forte e vai ter muita dificuldade de governar.”
Para o dirigente, a esquerda perdeu completamente o rumo ao defender políticas tradicionais de segurança pública.
“Segurança pública não é política de esquerda… A polícia serve o rico. Nunca vi a polícia prestar nenhum serviço à população pobre.”
Ele defendeu o armamento da população como parte de um programa revolucionário:
“Se nós lutamos pela revolução, temos que trabalhar pelo armamento da população.”
Liberdade de expressão e STF
O presidente do PCO reafirmou a defesa incondicional da liberdade de expressão.
“Nós do PCO somos contra o crime de opinião. Qualquer opinião não pode ser crime, por pior que seja.”
Ele atribuiu à esquerda pequeno-burguesa a responsabilidade por permitir o avanço da extrema direita no terreno ideológico.
“A esquerda está perdendo o público para a extrema direita porque não convence ninguém. É só processo, é só perseguição.”
8 de janeiro: ‘não houve golpe’
Sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, Rui Costa Pimenta rejeitou completamente a tese de tentativa de golpe.
“Que tipo de golpe é esse que a pessoa invade prédio público, quebra e vai embora?”
Ele comparou a capacidade real do imperialismo com a desorganização dos manifestantes:
“Amanhã o imperialismo decide dar um golpe aqui, monta um batalhão… e acabou.”
Getúlio Vargas e Trótski
No tradicional encerramento ping-pong do programa, Pimenta destacou a importância histórica de Getúlio Vargas:
“Era uma pessoa muito inteligente, um político hábil, e tinha um plano de desenvolvimento nacional. Isso é admirável.”
Ao mencionar Trótski, o dirigente relacionou a luta nacional e a luta revolucionária:
“Trótski sempre teve isso… Se a luta nacional for vitoriosa, vai enfraquecer o fascismo e impulsionar a revolução.”
Assista ao programa na íntegra:





