O cenário político anda tão negativo para o governo Lula, que basta qualquer evento para que todos se agarrem e enxerguem nele uma tábua de salvação. É isso que se vê no artigo Trump impulsiona Lula e desarma a direita, de Esmael Moraes, publicado no Brasil 247 neste sábado (12).
Moraes afirma que, “em fevereiro de 2025, o Blog do Esmael antecipou que Donald Trump, ao agredir o Canadá com tarifaço e extremismo comercial, poderia, paradoxalmente, impulsionar Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil. Cinco meses depois, neste sábado (12), a Folha de S. Paulo ecoa essa mesma tese em seu editorial”, o que confirmaria sua tese.
Segundo ele, “o editorial da Folha, intitulado ‘Agressão de Trump dificulta equilibrismo na direita’, reconhece que o ataque comercial do ex-presidente dos EUA contra o Brasil […] não fortaleceu Jair Bolsonaro nem seus aliados, como Tarcísio de Freitas, mas reposicionou Lula como defensor da soberania nacional, com respaldo do empresariado, do centro político e até da comunidade internacional”.
Em primeiro lugar, é muito cedo para se afirmar que Lula sai favorecido do episódio, pois nenhuma resposta efetiva foi dada. Quanto aos empresários e ao centro político, qualquer respaldo será meramente episódico, visto que a burguesia, e o Congresso já o demonstrou, não quer um novo mandato do petista.
A subserviência de Tarcísio de Freitas não chega a ser um problema, mesmo que ele esteja na lista de possível candidato a Milei brasileiro – um presidente ferozmente neoliberal –, pois a burguesia tem outros nomes para apresentar.
Para Moraes, “o efeito colateral — ou melhor, a tragédia política — recai sobre a direita bolsonarista. Bolsonaro, inelegível e cada vez mais isolado juridicamente, se apequena ao aplaudir Trump mesmo quando o americano prejudica diretamente os brasileiros”. No entanto, é preciso lembrar que o imperialismo não quer o ex-presidente na próxima corrida presidencial, por isso o colocou sob a mira do STF.
Por outro lado, se ocorre mesmo uma condenação da comunidade internacional ao presidente americano, seu desgaste pode interessar ao imperialismo, que nunca quis sua eleição. Vale lembrar que Trump mesmo esteve no banco dos réus e sofreu duas tentativas de assassinato.
Na metade de seu artigo, Moraes escreve que “os pré-candidatos da direita? Engasgaram. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e pupilo de Bolsonaro, tropeçou ao tentar equilibrar fidelidade ao bolsonarismo e responsabilidade institucional. Primeiro, culpou Lula. Só depois, já pressionado, falou sobre os prejuízos da tarifa de Trump para a economia paulista. A mesma ambiguidade foi vista em Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), que reagiram tarde, mal e com cálculo eleitoral à flor da pele”.
Como se leu, o próprio Moraes coloca uma interrogação para a possibilidade dos três políticos citados serem pré-candidatos. A burguesia tem inúmeros recursos para utilizar. Pode até mesmo lançar um desses nomes como espantalho para atrair os votos da esquerda para outro candidato seu que tenha aparência de ser o oposto dessas figuras.
A burguesia não tem apreço por ninguém, quer apenas um candidato fácil de controlar e cumpra a missão de atacar com toda a força os direitos da população e arrase a economia brasileira.
Anti-Bolsonaro
A política de todos contra os bolsonaristas pode muito bem ser uma armadilha. Com ela, facilmente se escorrega para a política do mal menor. Foi assim que a maioria da esquerda se viu torcendo pela candidatura de Joe “Genocida” Biden e, depois, Kamala Harris, conhecida por agir como carrasco enquanto promotora pública.
Sem dúvida a burguesia tem no bolso do colete algum comediante a la Zelenski, algum identitário; ou um que se diga não-político, como fez João Doria em São Paulo.
Moras finaliza seu texto dizendo que “a jogada de Trump saiu pela culatra. Em vez de enfraquecer Lula, fortaleceu o presidente brasileiro como líder de Estado. Ao mesmo tempo, desmoralizou seus aliados mais radicais, subjugados a uma agenda externa que prejudica o próprio país”.
Será que esse evento terá importância daqui até as eleições? O governo Lula precisa entregar muito mais se quiser se eleger, uma vez que sua política econômica tem sido um verdadeiro desastre.
A política de alianças de Lula também se comprovou um tiro no pé, pois foi traído miseravelmente, o que claramente aconteceria, dado que não buscou apoio popular.
Desde o início, ainda na campanha eleitoral, avisamos que era um erro grave Lula se afastar da classe trabalhadora. Seus comícios eram completamente esvaziados, colocaram cercadinhos para afastar a população, e o resultado foi que Lula correu o risco de perder as eleições. Apenas no final, percebendo o que poderia acontecer, o petista resolveu se aproximar do povo e conquistar votos.
Lula deveria ter tomado isso como lição, mas preferiu fazer acordo por cima e o resultado é ter ficado refém de um Congresso hostil. Se insistir nessa política, o de se afastar, Lula corre o risco de ficar sem condições de disputar as próximas eleições e, pior, amargar a sina de se tornar cabo eleitoral de um candidato ‘mal menor’, como fez com Boulos na capital paulista.
