Em uma votação realizada na última quinta-feira, 10 de julho de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobreviveu a uma moção de censura no Parlamento Europeu, derrotando uma iniciativa liderada por setores da extrema direita, encabeçada pelo eurodeputado romeno Gheorghe Piperea, do grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR). Com 360 votos contra a moção, 175 a favor e 18 abstenções, von der Leyen manteve seu cargo, mas a vitória, longe de ser um sinal de força, expõe a fragilidade crescente do setor dominante do imperialismo europeu e as tensões internas que corroem sua unidade.
Contexto da moção: ‘Pfizergate’ e crise de legitimidade
A moção de censura foi motivada, principalmente, pela recusa de von der Leyen em divulgar mensagens de texto trocadas com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, durante as negociações para aquisição de vacinas contra a COVID-19 em 2021. Acusada de violar as regras de transparência da UE e ignorar uma decisão do Tribunal Geral da UE que ordenava a divulgação dessas mensagens, von der Leyen tornou-se alvo de críticas por sua gestão centralizadora e opaca. O caso, apelidado de “Pfizergate”, reacendeu o descontentamento com sua liderança, que muitos acusam de concentrar poder excessivo e desrespeitar os procedimentos institucionais da UE.
Além disso, a moção reflete um descontentamento mais amplo com a política neocom da Comissão Europeia sob von der Leyen. Setores da esquerda e até mesmo aliados tradicionais, como os socialistas e liberais, expressaram preocupação com a aproximação do Partido Popular Europeu (EPP), liderado por von der Leyen, com forças de extrema direita. Essas alianças têm gerado atritos com a base de apoio de von der Leyen, evidenciando a fragmentação política no bloco.
Uma vitória pírrica
Embora von der Leyen tenha sobrevivido ao voto, o resultado foi descrito por Piperea como uma “vitória pírrica”. Dos 720 deputados do Parlamento, apenas 553 participaram da votação, indicando que muitos preferiram se abster, incluindo membros de partidos que oficialmente a apoiaram, como socialistas, liberais e verdes. Essa ausência de apoio pleno sinaliza uma erosão significativa da confiança em sua liderança.
A crise em torno de von der Leyen não é apenas uma questão pessoal, mas um reflexo da crise mais ampla do imperialismo europeu.
Viktor Orbán, da Hungria, pediu publicamente a saída de von der Leyen. Além disso, a dependência de von der Leyen de concessões aos socialistas, como a promessa de preservar o Fundo Social Europeu no próximo orçamento da UE, expõe sua vulnerabilidade. Essas negociações contraditórias, que tentam apaziguar tanto a esquerda quanto a direita, mostram a fragilidade de sua coalizão e a incapacidade de articular uma política coerente do imperialismo em meio às pressões internas e externas, como as negociações comerciais com o governo Donald Trump nos EUA.
A hipocrisia
Von der Leyen tentou deslegitimar a moção, qualificando-a como uma tentativa de “dividir a Europa” movida por “antivacinistas” e “apologistas de Putin”. Essa retórica, que busca pintar os críticos como extremistas, ignora as críticas legítimas sobre transparência e abuso de poder durante a pandemia. A recusa em divulgar as mensagens com a Pfizer não é apenas uma questão de privacidade, mas um símbolo da subordinação da UE aos interesses das grandes corporações, em detrimento da soberania popular.
A propaganda oficial, que apresenta von der Leyen como uma defensora da “unidade europeia”, mascara o fato de que a UE é um instrumento do imperialismo ocidental, promovendo políticas de austeridade, militarização imperialista e alinhamento com os interesses da OTAN. A crescente resistência, tanto da extrema direita (que cresce diante da política subordinada da esquerda) quanto de um setor da esquerda, reflete a insatisfação com a política neoliberal, que prioriza os lucros dos capitalistas em detrimento das necessidades das populações trabalhadoras da Europa.
Uma política em declínio
A sobrevivência de von der Leyen no cargo não significa estabilidade. Pelo contrário, o voto de não-confiança expôs as rachaduras no edifício da UE, que enfrenta uma crise de legitimidade em meio a um cenário global de polarização e instabilidade econômica. A incapacidade de von der Leyen de responder às críticas sobre transparência e sua dependência de alianças frágeis com grupos políticos antagônicos indicam que novos desafios estão por vir.
O caso “Pfizergate” e as tensões com figuras como Orbán são apenas sintomas de um problema maior: a política imperialista da UE está em crise, incapaz de reconciliar suas contradições internas e externas. Enquanto Bruxelas tenta manter o controle, a insatisfação popular e as divisões políticas continuarão a crescer, desafiando a dominação de líderes como von der Leyen e o sistema que ela representa.





