O artigo de Ruy Castro intitulado Vendem-se prisões residenciais, publicado na Folha de S.Paulo tem como objetivo central fazer um desafeto político sofrer, ignorando a verdadeira crise humanitária que assola o sistema prisional brasileiro.
A preocupação central de Castro, em sua crônica irônica, não é a equidade da lei ou a reforma do sistema carcerário. É, simplesmente, garantir que figuras que ele e seu campo político repudiam – como Collor e Bolsonaro – sejam privadas de conforto e submetidas a um sofrimento físico mais palpável. A ironia sobre a churrasqueira ociosa, a academia fit e a piada cruel sobre o ronco de Collor e os soluços de Bolsonaro revelam o verdadeiro objetivo: não a justiça, mas a vingança política travestida de moralismo.
Enquanto Ruy Castro se preocupa com a ausência de jacarés ou a falta de motociatas na prisão domiciliar de um ou outro político, centenas de milhares de seres humanos estão esmagados em masmorras reais.
O Brasil tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, onde a maioria dos presos não tem sequer acesso a higiene básica, convive com doenças, violência sexual e tortura. Onde está a crônica irônica de Ruy Castro sobre as celas superlotadas, a falta de assistência jurídica ou a comida intragável servida aos milhares de anônimos?
Ao concentrar sua energia em garantir que Bolsonaro ou Collor sofram, o articulista desumaniza a questão e a transforma em um mero espetáculo. Ele ignora que a preocupação humana fundamental deveria ser aliviar o sofrimento de todos os presos, independentemente de seu crime.
O desvio de foco de Ruy Castro se torna ainda mais absurdo ao considerarmos as graves ilegalidades jurídicas que pairam sobre os processos de Collor e, principalmente, de Bolsonaro.
Essa fixação em fazer o preso político sofrer – em vez de lutar por condições dignas para a massa carcerária e por processos judiciais limpos – é a marca de uma luta política mesquinha e reacionária, que rebaixa o debate ao nível da vingança pessoal.





