No dia 2 de novembro, o portal do Partido Comunista do Brasil publicou o artigo Os comunistas e a COP 30. Como tantas do mesmo tipo, a peça ambientalista resgata pontos propalados pelos institutos de pesquisa controlados pela burguesia, como aquecimento global, desmatamento e poluição, e os raciocínios apontados pela própria imprensa burguesa. É claro, apesar da fachada científica, tudo permanece abstrato. Exemplificando:
“Se tais tendências não forem revertidas, teremos uma elevação da temperatura média da Terra que ultrapassará em poucos anos a marca de 1,5 graus acima do nível anterior à revolução industrial, gerando catástrofes ambientais, miséria, fome, desemprego e desabrigo para muitos milhões de pessoas, principalmente para os mais pobres.”
Ora, já existem catástrofes ambientais há muito tempo, talvez desde sempre. Na realidade, tudo o que é narrado, já existe, exatamente assim, e principalmente para os mais pobres. O artigo chega a destacar essa questão quando aponta que: “Todo esse quadro é causado pela dinâmica do desenvolvimento capitalista”. Contudo, o problema das classes sociais, de seus interesses materiais, são citados e imediatamente depois ocultados:
“As COPs são espaços de debates e disputas, que refletem as posturas dos governos, as pressões que vêm da sociedade, dos movimentos organizados e das grandes empresas. Estão presentes os conflitos entre os países desenvolvidos – responsáveis pelo acúmulo de GEE na atmosfera, e os países em desenvolvimento, que exigem reparações financeiras pelos efeitos danososl [sic] que sofrem.
“Manifestam-se as contradições entre os países produtores e as nações dependentes das importações de petróleo e os demais países. Apresentam-se, com enorme força, os interesses dos grandes grupos econômicos, das corporações petrolíferas, empresas produtoras de alimentos em grande escala e de produtos industriais que sugam os recursos naturais da Terra, alguns dos quais já em fase de esgotamento.”
As colocações confusas que visam garantir um viés esquerdista à matéria dão lugar à propaganda imperialista pura e simples. Vale destacar que o caráter do evento também não é mencionado, ele aparece como um espaço de debates livre, democrático, entre vários setores diferentes. Vejamos:
“Houve alguns avanços em COPs recentes, como na COP 21 (Paris, 2015), que estabeleceu metas de redução das emissões de GEE a serem perseguidas por todos os países e delineou objetivos de desenvolvimento (“sustentável”) que vão além das questões ambientais, apontando para o combate às desigualdades sociais, porém, sem efeitos concretos palpáveis.”
Ora, é possível exigir que todos os países tenham metas de redução de emissões, quando entre eles temos países pobres, miseráveis, dominados pelo imperialismo, e o aparato imperialista concentrado em outros países? Devemos esperar que esses países abram mão do uso de recursos como o petróleo e o carvão para que consigam se desenvolver? E a exportação de emissões, com a alocação de fábricas dos países ricos em nações mais pobres? E as guerras? Não seriam grandes poluentes?
Essas provocações citamos com o objetivo de demonstrar quão vazia é a discussão dos ambientalistas e da chamada COP. Trata-se de uma farsa. Uma farsa que diz respeito não apenas ao meio ambiente, mas de fato, a toda e qualquer discussão que se esperaria séria. Ainda outros pontos são repetidos acriticamente:
“O volume de recursos financeiros alocados pelo conjunto dos países presentes segue muito abaixo do necessário para reverter o quadro de degradação: dos cerca de 1,3 trilhões de dólares anuais necessários, segundo a comunidade científica, pouco mais de 100 bilhões são gastos anualmente.”
Quem seria essa comunidade científica? A que se destinaria esse valor? Como seria aplicado? Quem define tudo? É um número citado com o objetivo de chocar a audiência, numa história de cinema hollywoodiana: “precisamos salvar o mundo, e para isso, precisamos aplicar tanto dinheiro, mas está sendo aplicado apenas esse outro tanto”. Não se explica, ao mesmo tempo, o que ou quem está acabando com o mundo, e se chama todos os setores, independentemente de seus interesses, para uma união pela salvação global. Não se trata de um programa político, mas de um roteiro de cinema.
Onde está o imperialismo nessa história? E a classe operária? Afinal, o problema é um problema de levantar dinheiro para, por meios indefinidos, salvar o planeta? Se o problema é, como colocado no próprio artigo, a “dinâmica do desenvolvimento capitalista”, não seria isso que ele deveria estar discutindo?
No próprio quadro de supostas reformas reivindicadas pelo ambientalismo da COP, o PCB as denuncia como ineficazes:
“Os caminhos apontados privilegiam como soluções as iniciativas individuais – como as de ‘consumo responsável’, com forte peso ideológico, e de mercado – como os mercados carbono e a ‘Economia Verde’, que propõe ações mitigadoras, apostando em novas tecnologias, sem qualquer referência às transformações estruturais necessárias, que exigem a superação do modo de produção capitalista.”
Mas não descreve por que. Por exemplo o entrave ao desenvolvimento tecnológico e produtivo operado pelo imperialismo em todo o planeta, o atraso econômico produzido pelos supostos defensores do desenvolvimento “verde”, de transições energéticas. Ao invés disso, reforça as colocações do imperialismo:
“A COP 30, no entanto, pode chamar atenção para a necessidade de preservação da Amazônia, para o respeito e atendimento às reivindicações das populações nativas, sua cultura e sua sabedoria. Pode reforçar as demandas dos países em desenvolvimento e produzir alguns avanços na direção do cumprimento das metas acordadas em Paris e em COPs recentes.”
Falar em preservação da Amazônia, um argumento para a não exploração do petróleo na Margem Equatorial, nem de recursos naturais em território amazônico, enquanto o imperialismo explora o petróleo na costa da Guiana, segue quais interesses? Enquanto Norte e Nordeste brasileiros permanecem regiões atrasadas, o PCB acha necessário reforçar essa farsa, a manutenção do Brasil como uma reserva de recursos para as empresas imperialistas. E as populações nativas? Elas não querem eletricidade, infraestrutura, desenvolvimento? De onde se tira a informação de que querem se manter no atraso, se não das ONGs imperialistas que operam na Amazônia sem qualquer controle nacional, chamando a completa falta de estrutura, uma verdadeira miséria, de “cultura” e “sabedoria”? É uma farsa.
Completando a farsa, o PCB lista algumas reivindicações:
“Entendemos que a luta pelo meio ambiente é uma luta anticapitalista, que deve ser travada em todos os espaços:
- Pela reforma agrária popular;
- pela reforma urbana com a expansão do transporte público eletrificado e pelo direito de moradia a todos e todas;
- pelo banimento completo do uso dos agrotóxicos e da chuva de venenos por meio de drones na agricultura;
- na defesa da preservação da Amazônia e dos direitos dos povos originários;
- pela transição energética, com redução paulatina da produção de petróleo e da mineração em geral acompanhada da reestatização das empresas desses setores e da criação de um fundo soberano formado pela renda de tais atividades com vistas ao financiamento da transição para fontes renováveis e oferta de infraestrutura social e distribuição de renda para todos e todas;
- por um programa intensivo de recuperação de áreas degradadas e reflorestamento;
- por ações de preservação ambiental em todos os setores da economia e pela implantação do planejamento econômico e social dirigido pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras, voltado para o bem-estar da maioria da população.
O PCB denuncia os interesses privados presentes na COP 30 e conclama a todos ao engajamento na luta ambiental anticapitalista.”
É interessante notar a confusão. Quando fala em reforma urbana, antes de falar em moradia ou em transporte, o PCB considera relevante destacar que esse transporte deve ser eletrificado, o que é simplesmente ridículo tomando o cenário de devastação no País. Se o transporte é eletrificado ou não, para uma população que não dispõe dele, é algo ultra secundário e que, mais do que isso, sequer é relevante a nível de qualquer consideração sobre emissões. Essa colocação é uma atuação para o filme ambientalista.
E a questão dos agrotóxicos, para uma população que não consegue se alimentar propriamente, seria relevante? Ou o importante seria o controle da produção pelos trabalhadores? A colocação também sequer faz grande sentido, tendo em vista o primeiro ponto apresentado, de reforma agrária. O impacto dessa reivindicação na produção não é colocado, mas no roteiro do filme, agrotóxicos são sempre ruins e devem ser banidos completamente, sequer trata-se de os trabalhadores controlarem o ramo produtivo e garantirem que a coisa será feita de maneira racional.
Depois, o problema da transição energética “com redução da mineração”. Ora, quem disse que isso é do interesse dos trabalhadores? Mais, como o PCB considera que se dará uma transição energética, se não com a extração de grande quantidade de minerais para justamente substituir os sistemas energéticos atualmente utilizados? Não faz o menor sentido.
Aqui, destacamos que o último ponto, após todas essas considerações e outras, é que deve haver um plano controlado pelos trabalhadores. Sequer é apontado que para a implantação desse plano os trabalhadores devem controlar o País. A coisa aparece como algo que entrou porque não poderia ficar de fora. De fato, todo o texto deixa evidente que o controle dos trabalhadores não é nem a primeira e nem a última consideração do PCB, mas algo que entra na discussão para cumprir tabela.





