Brasil

Uma esquerda claque do STF

Esquerda Online se preocupa em defender as piores instituições do regime burguês para que não haja "impunidade" contra os bolsonaristas

No último dia 19 de março, foi publicado no Esquerda Online um texto com o título Bolsonaro fracassou em Copacabana. Sem anistia para golpistas!, no qual o portal busca demonstrar como Bolsonaro estaria sem apoio popular, o que abriria ainda mais as portas para sua prisão, antes de fazer algumas observações sobre a atual política do governo de Lula.

O texto se inicia com o seguinte parágrafo:

Jair precisava de uma foto com a Avenida Atlântica tomada de verde e amarelo. Pretendia atemorizar o judiciário e dobrar a pressão sobre o Congresso. Tinha que mostrar força às vésperas do início do julgamento do seu processo no STF, no dia 25. Mas menos de 20 mil pessoas compareceram ao ato em defesa da anistia a criminosos e golpistas. Foi muito pouco para quem alardeava a explosão da fúria popular em sua defesa. Bolsonaro foi dormir no domingo mais próximo da prisão.

A matéria trata a manifestação bolsonarista como tendo sido pequena, no entanto, não percebe que isso é uma declaração que mais atinge a própria esquerda, muito mais do que a extrema direita bolsonarista. Isso porque, mesmo durante o governo Lula, um governo do Partido dos Trabalhadores (PT), a esquerda brasileira não conseguiu organizar nenhum ato com um número próximo à “esvaziada” manifestação bolsonarista.

Um leitor mais atento tiraria a conclusão de que, se Bolsonaro não tem apoio popular, Lula e o restante da esquerda teriam ainda menos. Enquanto isso, no mundo inteiro são realizadas manifestações contra o genocídio na Palestina, assunto no qual a maioria da esquerda brasileira capitulou vergonhosamente.

Na sequência, a publicação se torna ainda mais direitista, como vemos nos trechos a seguir:

“Seu filho (de Bolsonaro), Eduardo, anunciou sua partida definitiva aos EUA, licenciando-se do cargo de deputado federal.” (…) “Fingindo martirização pela causa, 03 quer ficar com as mãos livres nos EUA para articular ações junto ao governo Trump contra a democracia e a soberania do Brasil, em socorro aos golpistas.”.

É como se o que o Supremo Tribunal Federal vem fazendo no Brasil estivesse dentro da lei e não existisse perseguição política no Brasil. Isso se tratando do mesmo STF que foi fundamental durante o julgamento do “Mensalão”, a Operação Lava Jato, o golpe em Dilma e Rousseff m 2016 e a prisão de Lula que o impediu de concorrer durante as eleições de 2018.

O texto também fala que Eduardo Bolsonaro estaria “fingindo martirização”, sendo que, de fato, ele e sua família, assim como os políticos mais próximos de Bolsonaro, estão sendo perseguidos pelo STF, com Alexandre de Moraes aparecendo como juiz, vítima, investigador e acusador.

Para se ter uma ideia, durante a Operação Lava Jato, grande parte da esquerda acusava Sérgio Moro de ser o acusador e o juiz ao mesmo tempo, o que o impediria de ser imparcial. O texto segue, e mostra que a preocupação do Esquerda Online é justamente que a perseguição política seja instaurada contra os bolsonaristas:

Embora o ato no Rio de Janeiro tenha sido esvaziado, é preciso ter nitidez sobre a enorme força política que extrema direita conserva no país. Não podemos subestima-los. A eventual eleição de um candidato bolsonarista, como Tarcísio de Freitas, abriria a porta para a anistia ampla e irrestrita a todos golpistas, intervenção no STF, entre outras graves medidas antidemocráticas. Para alcançar esse objetivo, o fascismo conta com a ingerência externa de Trump no Brasil e o agravamento da impopularidade de Lula.

A principal preocupação do jornal em relação à possível vitória de Tarcísio nas eleições do próximo ano não é em relação ao aumento da violência policial, à desgraça econômica que cairá sobre a cabeça dos trabalhadores e o provável estabelecimento de uma ditadura como a de Milei na Argentina. Segundo o Esquerda Online, o principal problema de uma vitória de Tarcísio seria a possibilidade de se anistiar os presos políticos do 8 de janeiro.

O texto trata uma “intervenção no STF”, que como vimos acima foi fundamental no golpe de 2016, como uma dentre outras “graves medidas antidemocráticas”, assim como a “anistia ampla e irrestrita”, palavra de ordem da própria esquerda no fim da ditadura no Brasil.

O parágrafo evidencia como o programa do Esquerda Online não realmente de esquerda, já que suas principais preocupações são as de defender as instituições do regime burguês, principalmente a mais reacionária instituição de todas, a suprema corte, que não é eleita e que trama contra a própria população o tempo todo.

A política do “Sem anistia” também é uma política da direita. Primeiro, prega que a solução para os problemas da população está em punições exemplares. É o mesmo que os bolsonaristas defendem quando dizem “bandido bom é bandido morto!” ou “direitos humanos para humanos direitos”, como observamos no parágrafo seguinte, em que o texto diz que não pode haver “impunidade”, típico da direita:

Como afirma o ditado popular: o jogo só acaba quando termina. Enquanto a condenação e a prisão de Bolsonaro e da cúpula golpistas não forem concretizadas, haverá risco de impunidade.

Na sequência, o texto rasga elogios ao Alexandre de Moraes, o golpista de 2016, que, por perseguir os idosos e as mulheres do 8 de janeiro, estaria sendo fundamental para a democracia:

”O papel do STF e, em particular, de Alexandre de Moraes, vem sendo fundamental para que avance o processo de investigação e punição dos golpistas. Mas é um equívoco depositar somente nas mãos dos juízes da Suprema Corte a responsabilidade pelo resultado desse processo. É preciso também luta política e ideológica na sociedade com a campanha Sem Anistia. E essa é uma a tarefa da esquerda e dos movimentos sociais. Primeiro, para que haja maioria social na população concordando com a prisão de Bolsonaro e seus generais. Segundo, para demonstrar que há milhares de brasileiros dispostos a ir às ruas pela condenação dos golpistas.”

Trata-se de uma política que leva a esquerda cada vez mais a ser controlada pela burguesia da chamada “frente ampla”, que amarrou completamente o governo de Lula, impedindo que um programa próprio dos trabalhadores fosse levado adiante pelo governo, justamente o problema para as questões colocadas sobre o governo nos demais parágrafos do texto.

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